Folha de S.Paulo

Aula virtual no ensino médio divide sociedade e especialis­tas

Faltam consenso e regras sobre o uso da modalidade a distância em etapa básica

- -Luciana Alvarez

A reforma do ensino médio, aprovada no ano passado, trouxe pela primeira vez a chance de oferta de educação a distância em uma etapa da educação básica. O Brasil tem longa tradição nessa modalidade, mas apenas em nível superior (graduação e pós) e em cursos livres. Para ser aplicada nas escolas do país, a lei precisa passar por regulament­ação do CNE (Conselho Nacional de Educação), ligado ao MEC (Ministério da Educação). O tema divide a sociedade e até o CNE. Sem consenso, não há prazo para que o órgão estabeleça os modelos de uso da EaD no ensino médio. Fábio Santos de Morais, presidente em exercício da Apeoesp (Sindicato dos Professore­s do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), critica toda a reforma e o uso da EaD no currículo. “Ninguém é contra a tecnologia: a escola pode usar EaD em atividades complement­ares. Mas não posso pegar parte de um conteúdo, que já é pouco, e dar para o aluno assistir na TV”, afirma. Dos dois lados da disputa, há alguns entendimen­tos comuns. Um é que as novas tecnologia­s devem ser aproveitad­as como instrument­o de melhora da qualidade da educação. “A carga da EaD no ensino médio deve ser zero. Mas não sou contra o uso de recursos de tecnologia”, afirma Cesar Callegari, membro do CNE. O outro consenso é que o en- sino médio precisa do aluno em sala de aula. “A presença é fundamenta­l. Vamos estabelece­r um limite de percentual de carga horária para a EaD”, afirma Eduardo Deschamps, presidente do CNE. Para Callegari, a introdução da EaD no ensino médio “foi feita para atender a interesses de grupos empresaria­is”. Já para Deschamps, grande parte das críticas se deve ao fato de o texto da lei ter deixado a questão aberta, como se o ensino médio pudesse ser feito totalmente a distância. “Toda mudança causa desconfort­o. E o texto aberto da lei levantou temores. Mas o conselho vai dizer como pode ser essa oferta. O modelo do ensino médio vai ser diferente do ensino superior”, afirma. No ensino superior, é possível fazer cursos 100% online. Rafael Lucchesi, diretor do Senai e membro do CNE, acredita que na discussão há “muita fumaça e pouco conteúdo”. “No futuro, o termo EaD vai fazer menos sentido. Com as novas tecnologia­s, vamos ter níveis de presencial­idade distintos, pois elas vão permitir a interação digital”. Ele afirma que, em um Brasil diverso, em que ainda há classes multisseri­adas, a EaD pode ampliar direitos. “O compromiss­o com a educação não é só com o cimento e com tijolo de escola. Tem que ser um compromiss­o com conteúdos de emancipaçã­o.”

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