Folha de S.Paulo

Aumento de teto da Rouanet dá margem para valor recorde de ‘Fantasma da Ópera’

Após Rouanet aumentar teto, produtora muda projeto de ‘O Fantasma da Ópera’ e MinC aprova valor histórico de R$ 28,6 mi

- Maria Luísa Barsanelli

Uma das maiores produtoras de musicais no país, a T4F (Time for Fun) teve seu projeto de remontagem de “O Fantasma da Ópera” revisto e quase triplicado na Lei Rouanet, chegando ao valor histórico de R$ 28,6 milhões.

Antes, o musical usaria até R$ 9,7 milhões de verba pública (deduzida de incentivos fiscais) e precisaria de mais R$ 35,6 milhões para chegar ao total do orçamento, previsto em R$ 45,3 milhões.

Agora, mais da metade desse valor poderá entrar via Rouanet, o que diminuiria a fatia privada para R$ 16,7 milhões.

O espetáculo foi inicialmen­te autorizado a captar R$ 9,7 milhões, decisão publicada no Diário Oficial da União em 14 de dezembro do ano passado.

Logo a T4F anunciou a realização do espetáculo, em suas redes sociais e em relatórios que divulga periodicam­ente a investidor­es —nestes, já dizia que faria o musical com os R$ 9,7 milhões de Rouanet.

Duas semanas antes, porém, quando a proposta do espetáculo já tramitava no Ministério da Cultura, a pasta anunciou mudanças na lei.

Uma delas foi a abolição de uma medida implementa­da havia menos de um ano: o teto de R$ 10 milhões para projetos de grandes produtoras. A partir de dezembro, estabelece­u-se um novo limite, de R$ 60 milhões anuais, que podem ser distribuíd­os em no máximo 16 projetos.

Pouco depois, a proposta de “Fantasma” foi revista. Uma portaria publicada no Diário Oficial em 12 junho (quando os ingressos do musical já estavam à venda) concedeu ao espetáculo um valor complement­ar de R$ 18,9 milhões. Isso quase triplicou a proposta, que chegou a R$ 28,6 milhões.

Questionad­a, a Time for Fun afirma que o projeto inicial de “Fantasma” (R$ 9,7 milhões) previa somente a pré-produ- ção e um mês de temporada, “com as limitações constantes na norma vigente na época do pedido (Instrução Normativa 1 de 20/3/2017)” —documento que estabelece­u o teto de R$ 10 milhões por projeto.

Mas, segundo dados extraídos do portal da Rouanet, R$ 28,6 milhões é a maior autorizaçã­o da lei para captação de um espetáculo musical. Depois dele, vem “Wicked” (2016), também da T4F, com R$ 18 milhões.

Mesmo se corrigidos os valores pela inflação, “Fantasma” lidera o ranking. Nessa lista, é seguido por outra montagem da produtora, “Mamma Mia” (2010), com R$ 22 milhões (cifras atualizada­s) ou R$ 13,4 milhões (valores brutos).

A nova proposta passou pelo aval da comissão do MinC, que analisou cada custo do orçamento, como os R$ 9,63 milhões que a T4F afirma gastar em direitos autorais da obra.

De acordo com o ministério, “o projeto sofreu diversas alterações, que levaram à elevação do orçamento”. A pasta diz ter seguido, em sua análise, “todas as etapas, regras e critérios estabeleci­dos em lei”.

A produtora também declara que cumprirá as contrapart­idas dos ingressos. Metade das entradas será vendida nos valores definidos pela empresa: R$ 75 a R$ 300. Outros 20% atenderiam o Vale-Cultura (R$ 50), e 30% seriam gratuitos, alguns voltados a ONGs e alunos da rede pública.

Dados da Rouanet mostram que, desde 2009, 12.560 projetos na área de teatro foram aprovados. Desses, 84 foram autorizado­s a captar mais de R$ 10 milhões (em valores corrigidos). Isso significa que 0,67% das propostas concentra 8% (R$ 1,11 bilhão) do total autorizado a captar no período (R$ 14,3 bilhões) pela lei.

Como a maior parte dos espetáculo­s da Time for Fun, “Fantasma” é uma franquia, ou seja, segue o padrão estrangeir­o. Há versões em português e atores nacionais, mas quase toda a equipe criativa vem da matriz estrangeir­a.

Trata-se também de uma remontagem da produtora. Em 2005, quando ainda se chamava CIE, a empresa já trazia ao Brasil uma franquia do espetáculo, também fiel ao original.

Os valores de captação das duas montagens, contudo, diferem. A primeira tinha um orçamento total de R$ 26 milhões (R$ 53,3 em valores corrigidos), dos quais foi autorizada a captar 20%. Já na atual a autorizaçã­o na Rouanet chega a 63% de todo o orçamento.

A Time for Fun contesta a comparação entre os valores das duas montagens. Segundo a empresa, na primeira produção “foi autorizada a captação de mais de R$ 16,5 milhões [valores da época]”.

Na verdade, essa é a soma de dois projetos. Após a temporada de 2005, o musical se estendeu por mais um ano, para o qual fez uma nova proposta de captação pela Rouanet. Já o projeto atual está prevista para apenas nove meses.

A produção é mais uma aposta segura da T4F, que no ano passado reprisou outro sucesso, “Os Miseráveis” — franquia já trazida pela produtora em 2001. Segundo a empresa, a montagem anterior de “Fantasma” foi o recorde de público entre seus musicais, recebendo 880 mil pessoas de 2005 a 2006.

É ainda um dos maiores sucessos musicais do mundo. Estreou em 1986 em Londres e dois anos depois em Nova York, de onde nunca saiu de cartaz. Representa a terceira maior bilheteria da história da Broadway (US$ 1,15 bilhão), segundo levantamen­to da revista Playbill. Só perde para “O Rei Leão” (US$ 1,46 bilhão) e “Wicked” (US$ 1,19).

 ?? Lenise Pinheiro/Folhapress ?? Thiago Arancam e Lina Mendes como o Fantasma da Ópera e Christine
Lenise Pinheiro/Folhapress Thiago Arancam e Lina Mendes como o Fantasma da Ópera e Christine

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil