Folha de S.Paulo

Jardineiro, carroceiro, todo o mundo tem acesso

Ex-ministro responsáve­l pela privatizaç­ão da Telebras ressalta universali­zação da telefonia e defende mudanças na Petrobras

- TH

são paulo Há 20 anos, Luiz Carlos Mendonça de Barros comandava o Ministério das Comunicaçõ­es durante a privatizaç­ão da Telebras.

Hoje, ele defende o legado da desestatiz­ação e diz que o processo trouxe melhoria ao mercado e acabou com feudos políticos estaduais.

Mendonça de Barros destaca a universali­zação da telefonia, na contramão das críticas de que ela restringir­ia o serviço aos mais pobres. “Hoje, todo o mundo tem acesso.”

Para ele, a crise da Oi, em recuperaçã­o judicial, é resultado de um erro cometido pela Andrade Gutierrez, já no leilão da Telebras. A empresa vencedora da então Telemar (renomeada de Oi) não incluiu sócia estrangeir­a, como sugeria o edital.

Qual o legado da privatizaç­ão?

É a transforma­ção de um monopólio público em um mercado concorrenc­ial privado sem que ocorresse aquilo que os críticos lá atrás diziam, que o pobre não ia ter telefone.

As empresas são alvo de reclamação quanto a preço e qualidade. A modelagem poderia ter sido mais bem equacionad­a?

Tem reclamação como em qualquer serviço público. Há 200 milhões de celulares. Proporcion­almente, a reclamação cresce, mas a base [de clientes] era muito menor.

Como avalia a atuação da Anatel [agência reguladora do setor]?

Está muito bem. Uma responsabi­lidade da agência era não deixar diminuir a concorrênc­ia. E o que houve foi um aumento da concorrênc­ia.

Como se explica o caso da Oi?

A única concession­ária da Telebras que viveu sempre com problemas é a Oi, que vem do leilão da Telemar.

Foi o único em que a vencedora [Andrade Gutierrez] não seguiu o modelo sugerido pelo BNDES, de que os consórcios tivessem uma empresa privada reconhecid­a no mundo.

Vivemos muitas décadas com uma estatal, não havia empresário­s do ramo.

A Oi foi a única que não colocou, e você vê o que aconteceu.

Não tinha uma empresa que pudesse acompanhar essas mudanças tecnológic­as. Isso é uma prova de que pau que nasce torto morre torto.

A posição do brasileiro quanto à privatizaç­ão mudou de lá para cá?

Mudou um pouco. Na minha época, havia duas discussões com a esquerda: a Vale do Rio Doce e a Telebras. A crítica é que íamos vender o subsolo ao estrangeir­o e que depois ele ia parar com as atividades. Não aconteceu nada disso. Na Telebras, a crítica era que pobre não ia ter telefone. Hoje, jardineiro, carroceiro, todo o mundo tem acesso.

São exemplos da nossa época que mostram que não é verdade esse tipo de crítica.

Como enxerga as privatizaç­ões que estão na pauta atualmente?

A Eletrobras vai ter de ir para o mesmo caminho.

O conceito é o seguinte: o monopólio é um perigo para a sociedade. Mas você tem dois tipos: o público e o privado.

No público tem uma outra questão, e na Telebras era assim: cada estado tinha uma empresa dominada pela classe política local. Hoje, se esquece que isso acabou.

Há espaço para privatizar a Petrobras?

A Petrobras é quase uma referência da esquerda, cada vez que mexe vem um vespeiro. O FHC, em 2000, me pediu para preparar um plano para privatizá-la.

Minha proposta foi dividir a empresa em duas e privatizar uma delas. A sociedade ia olhar ambas, e as coisas não poderiam se distorcer.

No fim, aconteceu o apagão, e o governo perdeu a condição política. Mas acho que vamos ter de mexer [na Petrobras] no próximo governo. Só que eu vou estar bem longe disso.

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