Folha de S.Paulo

Liudmila Petruchévs­kaia tira sarro da plateia, canta e se diverte em Paraty

Na Casa Folha, as neuroses atuais da sociedade estiveram no cerne da questão dos debatedore­s

- Anna Virginia Balloussie­r, Maurício Meireles e Guilherme Guimarães

Vestindo preto dos sapatos ao chapelão, a escritora Liudmila Petruchévs­kaia, 80, tirou sarro de sua entrevista­dora, ouviu fiu-fius da plateia, cantou “Besame Mucho” e disse amar os gatinhos “de paixão.” “E as crianças também, porque dá para pegar no colo”, falou na noite deste sábado (28) na Flip (Festa Literária Internacio­nal de Paraty).

Foi mais um dia qualquer na vida da rainha do horror russo, um dos grandes destaques desta edição da Flip. Ela vem ao Brasil a reboque de “Era uma Vez uma Mulher que Tentou Matar o Bebê da Vizinha” (Companhia das Letras), coletânea de contos mórbidos e sinistros que bebem do folclore de seu país e das cicatrizes de décadas de autoritari­smo.

Diz que aprendeu a contar histórias com a avó acamada, que tinha uma “memória fenomenal” e sabia ao pé da letra contos de Nikolai Gógol. Também ajudou o fato de ela contar com o que Petruchévs­kaia chama de “orelhas de elefante”.

Proibida em seu país até os 50 anos —sua escrita não se encaixava nas diretrizes estéticas do regime comunista—, Petruchévs­kaia pouco falou sobre sua condição de proscrita. Na verdade, a partir de certo ponto da conversa, mal formulou frases inteiras.

Mediadora da mesa, a portuguesa Anabela Mota Ribeiro teve problema para ser compreendi­da pelo filho da escritora, que traduzia as perguntas para a mãe. O artista Fiódor Pavlov-Andreiévit­ch passa temporadas em São Paulo e fala bem o português brasileiro, mas teve dificuldad­e para entender as perguntas.

Petruchévs­kaia também não pareceu disposta a responder. Fez seu show, dando respostas cortantes.

Terminou a noite cantando com ares de diva e dando uns passinhos para cá e para lá. Empilhou canções em francês —além de alguns trechos em inglês de “Only You”— , enquanto parte do público aplaudia ao ritmo da música e outra debandava da sala. Os que ficaram aplaudiram de pé.

Já a mesa que reuniu o escritor carioca Geovani Martins e Colson Whitehead contou com uma pergunta definida pelo mediador, Pedro Meira Monteiro, como provocador­a —mas que, na verdade, a pergunta trazia uma insinuação maliciosa.

Em um papel levado até o palco, alguém da plateia perguntou a Martins se sua literatura seria incensada caso ele não morasse na favela do Vidigal.

“Quem pode responder a essa pergunta são os leitores, né? Meu trabalho é o mesmo. Se você recebe de um jeito ou de outro...”, respondeu.

Mais cedo, também se destacaram a mesa do historiado­r Simon Sebag Montefiore, que afirmou que “política é teatro”. “Stálin foi o mestre das fake news, entendia como espalhar boatos e criar men- tiras que funcionava­m bem”, disse o biógrafo. Quanto a Trump? “Ele quer ser o primeiro czar americano, e pode ter êxito nisso.”

“Ele [Trump] quer ser o primeiro czar americano, e pode ter êxito nisso Simon Sebag Montefiore Escritor britânico

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Keiny Andrade/Folhapress A escritora russa Liudmila Petruchévs­kaia, que cantou ‘Besame Mucho’

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