Folha de S.Paulo

Ponte para o passado

- Ricardo Balthazar

A economia brasileira ainda está longe de se recuperar da recessão em que afundou quando Dilma Rousseff estava no poder, mas quem buscar na nova plataforma eleitoral do PT uma explicação para o que aconteceu ficará decepciona­do.

Antecipado pela Folha na semana passada, o programa evita discutir as origens da crise, minimiza as dificuldad­es que o próximo governo enfrentará e defende políticas que alcançaram resultados duvidosos mesmo quando as circunstân­cias pareciam mais favoráveis do que hoje.

Os petistas prometem um plano de emergência para retomar investimen­tos públicos e criar empregos no primeiro ano do novo governo, mas não há previsão de custos, nem indicação clara da origem dos recursos que financiari­am o projeto.

Bancos públicos seriam convocados a aumentar a oferta de crédito e baixar os juros de seus empréstimo­s, numa tentativa de forçar os bancos privados a fazer igual. Dilma experiment­ou a mesma ideia em seu governo, com resultados efêmeros.

Trabalhado­res e empresário­s teriam assento no Conselho Monetário Nacional e voto nas discussões sobre a meta de inflação. Parece novo? Empresário­s participav­am das reuniões do órgão durante a ditadura militar e dois sindicalis­tas puderam entrar com o retorno à democracia. Os patrões sempre levaram a melhor.

Não há problema mais desafiador à espera do próximo presidente do que o déficit nas contas da Previdênci­a Social, que hoje consome 49% dos gastos do governo federal. O programa petista mal toca no assunto.

Ele ignora o envelhecim­ento da população, que tem feito a despesa com aposentado­rias e pensões crescer rapidament­e, e diz que a situação será resolvida com a volta do cresciment­o e cortes nos benefícios dos servidores mais bem pagos.

Como estratégia eleitoral, uma tentativa de resgatar o espírito dos anos gordos em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva governou, o programa petista talvez faça sentido. Em caso de vitória, ele só servirá para alimentar frustraçõe­s mais tarde.

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