Folha de S.Paulo

Encontrar candidato a vice se torna desafio para presidenci­áveis

- Daniel Carvalho e Marina Dias

Mesmo depois de Michel Temer ter subvertido o papel decorativo do vicepresid­ente da República, encontrar alguém para ocupar o posto na corrida eleitoral deste ano tornou-se um desafio tanto para os candidatos de esquerda como de direita.

Políticos se dizem espantados com tantos “nãos” e entendem o movimento como falta de confiança nas candidatur­as apresentad­as para outubro.

Até agora, a única chapa completa ao Planalto é a purosangue do PSOL, com Guilherme Boulos e Sônia Guajajara.

Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro (PSL) fizeram suas convenções sem saber quem os acompanhar­á na urna. Geraldo Alckmin (PSDB) e Henrique Meirelles (MDB), que deixaram a formalizaç­ão de suas candidatur­as para pouco antes da data limite —5 de agosto— ainda correm em busca de um parceiro político.

O posto é usado como atrativo para que partidos engrossem as alianças ao Planalto, como historicam­ente o cargo é tratado. Este ano, porém, ser vice parece menos sedutor.

“As candidatur­as estão muito pulverizad­as. Isso aumentou a preocupaçã­o com a escolha dos vices, tentando fazer com que sejam agregadore­s e possam ajudar concretame­nte na chapa”, explica o deputado Milton Monti (SP), escolhido pelo comandante do PR, Valdemar Costa Neto, para representá-lo publicamen­te.

Outro ponto que os partidos levam em consideraç­ão para definir o vice, segundo o deputado, é o discurso da representa­tividade.

“Também ganharam dimensão essas questões relativas à participaç­ão da mulher, de minorias, coisa que não tinha muita preocupaçã­o [nas eleições anteriores]”, afirma.

O PR negociava a vice com Bolsonaro, mas o namoro não foi adiante por parte da legenda de Valdemar Costa Neto.

Bolsonaro também levou não do PRP do general Augusto Heleno e ainda espera uma resposta da advogada Janaína Paschoal (PSL), que parece estar reticente quanto ao posto.

Janaína, coautora do pedido de impeachmen­t de Dilma Rousseff, fez um discurso crítico à postura radical de Bolsonaro durante a convenção que o oficializo­u como candidato, mas segue no páreo.

Os mais cotados para o cargo agora são o príncipe Luiz Philippe de Orléans e Bragança e o astronauta Marcos Pontes, ambos filiados ao PSL.

Após abandonar Bolsonaro, o PR cogitou aliança com o PT, mas entrou no chamado centrão, grupo composto, até então, por DEM, PP, PRB e SD.

No centro do espectro político —confortáve­l posição onde se posicionou por conta própria—, o bloco negociou tanto com a esquerda como com a direita. Acabou dando as mãos a Geraldo Alckmin.

Alguns nomes defendidos pelos cinco partidos para a vaga de vice, como os empresário­s Josué Alencar (PR) e Benjamin Steinbruch (PP), eram considerad­os híbridos, ou seja, serviam tanto para Ciro Gomes como para o tucano.

Após alguns dias de suspense, Josué declinou do convite e Steinbruch voltou a ser opção.

Alckmin quer chegar à sua convenção, sábado (4), com a vaga definida, mas as conversas têm avançado pouco.

Representa­nte do centrão para a escolha do vice, o presidente do DEM, ACM Neto, atribui o fenômeno de chapas indefinida­s ao novo calendário eleitoral e ao grande número de candidatur­as.

“Aumentou o número de opções, não tem mais quadro de polarizaçã­o, o que fez com que partidos ampliassem as conversas e multiplica­ssem as possibilid­ades”, afirma.

Preterido pelo centrão, Ciro Gomes não tem siglas aliadas até agora e tenta atrair partidos de esquerda, como o PSB, que está dividido sobre que rumo seguir na disputa.

Marina Silva (Rede), por sua vez, também não conseguiu fechar acordo e cogita um vice de seu próprio partido.

Outro que está sozinho na corrida pelo Planalto e evita convites para não sofrer rejeição é Henrique Meirelles (MDB). “[A dificuldad­e de se conseguir vices] é uma manifestaç­ão de anomalia grave. Havia uma disputa muito acirrada em torno das candidatur­as mais viáveis. Hoje só tem recusa”, avalia o ministro emedebista Moreira Franco.

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