Venezuela joga gasolina fora, afirma Maduro
Em congresso, ditador questiona subsídio e sinaliza provável alta de preço do combustível, o mais barato do mundo
O ditador venezuelano Nicolás Maduro anunciou no sábado (28) novas regras para a venda de gasolina —a mais barata do mundo— e disse que o país precisa combater o desperdício e o contrabando do combustível.
A fala aconteceu em discurso durante o congresso de seu partido, realizado em meio a uma guerra verbal entre o dirigente e outros líderes do chavismo, que pediram uma flexibilização da política intervencionista.
Apesar de não mencionar expressamente uma alta, Maduro disse que os atuais preços dos combustíveis não cobrem os custos de produção e incentivam o contrabando. Por isso, propôs regularizar sua venda através do cartão eletrônico que dá acesso aos subsídios do Estado.
“Dizer que doamos gasolina é pouco, a gente paga para jogá-la fora” afirmou ele. “Temos que adotar um uso racional (...) e isso vai impactar todo o transporte automotivo”, declarou o ditador durante o encontro do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).
Para isso, Maduro disse que entre os dias 3 e 5 de agosto será realizado um censo com “todos que têm um veículo” no país.
A Venezuela tem a gasolina mais barata do mundo: com US$ 1 (R$ 3,72) é possível comprar mais de três milhões de litros. O governo acusa alguns grupos de contrabandearem combustível para outros países.
O aumento da gasolina é um tabu no país, que tem o petróleo como seu principal produto. Após 20 anos congelado, o preço do combustível teve a última alta em fevereiro de 2016, quando subiu para um bolívar por litro, medida autorizada pelo próprio Maduro.
O ditador tinha já anunciado na última quarta-feira (25) que em 20 de agosto irá eliminar cinco zeros da moeda —dois a mais do que o esperado. A medida é mais uma tentativa de conter a inflação, que o FMI estima que poderá chegar a 1.000.000% este ano.
Maduro disse que o corte de zeros dará início a um programa de recuperação que irá ser aplicado “para o bem ou para o mal”. “O partido propõe que eu nacionalize de maneira revolucionária parte da economia do país, e isso não será negado, porque vamos dar um giro econômico”, afirmou ele.
Muitos analistas, porém, afirmam que essa distorção de valores torna muito provável que o governo seja forçado a ajustar os preços dos combustíveis.
O debate sobre o controle que o governo exerce sobre a economia foi o principal assunto do congresso do PSUV, que ocorre a cada quatro anos e termina nesta segunda (30).
O ministro da Educação, Elías Jaua, da direção nacional da sigla, confirmou que, além do preço da gasolina, os debates também incluíram o regime cambial —desde 2003 monopolizado pelo Estado.
Enquanto o governo controla as divisas da economia, dependente de importações e em grave crise —com escassez de alimentos e remédios—, o mercado negro define o preço de produtos básicos.
Dirigentes do chavismo pediram uma mudança econômico, gerando a reação de Maduro, que atribui a crise a uma guerra econômica promovida pelos Estados Unidos para tentar derrubá-lo. Vicepresidente do PSUV e aliado do ditador, Diosdado Cabello, disse que o governo irá manter as atuais políticas