Folha de S.Paulo

Por mais diversidad­e, empresas ignoram nome e idade em currículo

Companhias adotam seleção às cegas para evitar a influência de preconceit­os inconscien­tes

- Filipe Oliveira

Empresas em busca de mais diversidad­e agora querem saber menos sobre os candidatos a suas vagas para tentar escolhê-los melhor.

Elas têm adotado currículos que não trazem informaçõe­s que normalment­e são entendidas como básicas, como nome, idade, endereço e, em alguns casos, até o local onde a pessoa estudou.

Ao menos nas primeiras etapas da seleção, essas informaçõe­s são ignoradas e dão lugar a testes práticos feitos a partir da internet. Com isso, essas empresas buscam reduzir a influência de preconceit­os inconscien­tes em suas decisões.

Usando a estratégia, são levadas mais em conta as competênci­as do candidato do que se ele recebeu uma indicação de amigo ou trabalhou em determinad­a empresa, o que é comum no mercado publicitár­io, diz Flávia Campos, diretora da agência Artplan.

A companhia, de 360 funcionári­os, adotou a seleção às cegas há dois meses, usando sistema de recrutamen­to da startup Empregare.

A plataforma dá a opção de esconder dados pessoais do candidato e criar testes para avaliar as habilidade­s dele.

A Artplan contratou três pessoas pelo modelo. Outras 15 estão em processo de seleção, segundo Campos.

“Não é um processo fácil. Ele costuma ser mais demorado do que a indicação e às vezes posso estar precisando de alguém com urgência. Mas vamos manter, pois temos uma crença de que é importante não contratar o mesmo tipo de pessoa sempre”, diz.

Na startup financeira Nubank, a seleção às cegas é adotada para a área de tecnologia, em que a maioria dos profission­ais é formada por homens, e está sendo levada também para o setores de atendiment­o e produtos, afirma Silvia Kihara, líder da área de recrutamen­to da empresa.

A engenheira de software Karen Zanlutti, 35, foi contratada a partir do modelo.

Sua primeira avaliação levou em conta, em vez do currículo, seu desempenho na hora de escrever um código. Seus futuros colegas analisaram seu exercício sem saber nada sobre ela.

Zanlutti diz que, diferentem­ente do que aconteceu em outros processos, se sentiu à vontade na etapa final da seleção, uma entrevista pessoal.

“Já tinham revisado meu exercício e sabiam do que eu era capaz. Não tinha ninguém me julgando, e a pressão foi menor. Em várias situações em minha vida senti que precisava me provar muito para ser ouvida”, diz.

Felipe Couto, sócio da startup Vulpi, para recrutamen­to de desenvolve­dores de software, diz que a contrataçã­o de mulheres a partir do serviço da empresa cresceu 30% após sua plataforma passar a trabalhar com seleção às cegas, há um ano e meio.

“Quando mostramos o gênero antes, vem primeiro o preconceit­o. Quando escondemos, a pessoa acessa primeiro as habilidade­s e o perfil do candidato.”

Mesmo assim, a participaç­ão de mulheres nas contrataçõ­es feitas a partir da plataforma ainda fica abaixo da de homens, em 24%, diz Couto.

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Adriano Vizoni/Folhapress A engenheira de software Karen Zanlutti, contratada a partir do modelo de recrutamen­to às cegas

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