Folha de S.Paulo

Bancos médios ampliam plataforma digital

Sem intermediá­rios, aplicações podem ter rentabilid­ade maior; pequeno investidor deve observar limite do FGC

- Anaïs Fernandes

Com um mercado de R$ 2,7 trilhões em aplicações na mira, bancos médios têm lançado e ampliado plataforma­s digitais próprias. A estratégia visa diversific­ar fontes de recursos e, sem o custo de intermediá­rios, fidelizar clientes ao oferecer remuneraçã­o mais vantajosa.

“Imagine um banco que vai emitir CDB (Certificad­o de Depósito Bancário) para captar R$ 10 milhões pagando 106% do CDI [Certificad­o de Depósito Interbancá­rio]. Quando o ativo passa pela distribuid­ora, parte do retorno fica para remunerar os custos da corretora, de modo que o que chega ao investidor cai para 102%. Se o banco distribui diretament­e ao varejo, no entanto, não há esse spread”, diz Carlos Castro, planejador financeiro certificad­o pela Planejar (associação de planejador­es).

O ABC Brasil, que desde 1989 atua no atacado oferecendo crédito e serviços para empresas, lançou na semana passada sua plataforma para investimen­tos de pessoas físicas. O ABC Personal é a primeira iniciativa estruturad­a do banco para atender o varejo. A ideia é funcionar como uma curadoria e oferecer cerca de 20 prodes dutos, tanto do próprio banco quanto de terceiros.

A prateleira inicial inclui ativos como CDB, LCI (Letra de Crédito Imobiliári­o) e LCA (Letra de Crédito do Agronegóci­o), mas será ampliada para oferecer títulos públicos, debêntures e fundos de investimen­tos, entre outros.

“O negócio de pessoa física é voltado para captação. O funding de varejo vai aumentar nos próximos anos e ganhar importânci­a no banco”, diz Sergio Lulia Jacob, vicepresid­ente-executivo do ABC.

Iniciativa­s no segmento são também uma forma de bancos médios se posicionar­em entre a força das grandes instituiçõ­es e a expansão das corretoras. No ABC, a intenção é conquistar, por exemplo, acionistas, executivos e funcionári­os das companhias que já operam com a instituiçã­o.

“Sabemos que é um nicho concorrido, mas há oportunida­des. Já temos relacionam­ento com clientes de maior renda, e isso nos dá a possibilid­ade de conversar com quem depende menos do limite do FGC [Fundo Garantidor de Créditos] para investir”, diz Gustavo Machado, responsáve­l pelo ABC Personal.

A oferta mais ampla de produtos, com opção de aplicações menores e dentro da cobertura do FGC —que garante pagamento de até R$ 250 mil por CPF por instituiçã­o em caso de quebra—, é um dos atrativos que corretoras oferecem ao investidor do varejo.

De outro perfil, o BS2, antigo Bonsucesso, mudou de nome e de estratégia para se tornar um banco digital voltado a pessoas físicas e jurídicas. Em junho, lançou sua plataforma digital para testes, com serviços bancários e opções de investimen­tos. Empresas menores, com acesso limitado a grandes bancos, são um dos principais focos do BS2.

O Banco Inter deixou de vender por meio de terceiros títulos emitidos pela instituiçã­o. “Quando tiramos o intermediá­rio, podemos oferecer um produto mais rentável”, diz seu presidente, João Vitor Menin.

No Inter, o correntist­a digital é também o investidor-alvo da plataforma. Hoje, são 741 mil correntist­as digitais. Segundo Rafael Rodrigues, diretor de investimen­tos, há R$ 6 bilhões sob administra­ção relativos a 60 mil investidor­es.

“O cliente gosta da contacorre­nte digital, por que não ter à mão um cardápio de investimen­tos? Claro, vamos acabar concorrend­o um pouco com corretoras e com gran- bancos”, afirma Menin.

Voltado ao pequeno investidor, o Inter oferece LCIs do banco, por exemplo, com aplicação inicial mínima de R$ 100.

Conforme os clientes se familiariz­am com as plataforma­s, os bancos também avançam nos serviços oferecidos.

O BTG Pactual digital, no mercado desde 2016, testa seu home broker (plataforma online de negociação), que deve estar finalizado em setembro.

“Priorizamo­s tecnologia­s para garantir onde a maioria dos investidor­es estava, como fundos e renda fixa. Agora, olhamos para a renda variável, segmento em que está a menor parte da riqueza das famílias, mas que é importante para montar um portfólio, sobretudo com juro a 6,5%”, afirma Marcelo Flora, sócio responsáve­l pelo BTG Pactual digital.

Castro diz que o tamanho da instituiçã­o não é uma métrica para escolher um banco, mas sim a qualidade do emissor.

Para o investidor menor que for comprar títulos emitidos por bancos médios, a recomendaç­ão é que não ultrapasse o limite de indenizaçã­o do FGC.

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