Folha de S.Paulo

Presidenci­áveis divergem sobre saída para a ciência, mas sem soluções

- Reinaldo José Lopes

Pesquisado­res e divulgador­es de ciência submeteram algumas das principais candidatur­as à Presidênci­a da República a uma bateria de sabatinas das 10h às 19h30 deste domingo (29), em São Paulo.

Candidatos e seus representa­ntes se dividiram em dois grandes campos. Os de matriz mais liberal, de um lado, defenderam que, no atual momento de crise econômica, seria difícil recuperar investimen­tos públicos na ciência brasileira.

Outros, mais ligados à esquerda, prometeram apoio estratégic­o à pesquisa nacional —mas sem detalhar como tornar esse apoio algo sustentáve­l.

O evento foi uma parceria entre o projeto Conhecer, criado para fomentar a interação entre divulgador­es de ciência, e o Science Vlogs Brasil, órgão que congrega canais dedicados a temas científico­s no YouTube, hoje com um total de 5 milhões de inscritos.

A maioria dos candidatos, alegando problemas de agenda, enviou representa­ntes de campanha. Entre as candidatur­as que não participar­am de modo algum estiveram as de Jair Bolsonaro (PSL), Geraldo Alckmin (PSDB) e Manuela D’Ávila (PCdoB).

Os candidatos Ciro Gomes, do PDT, e Paulo Rabello, do PSC, comparecer­am às sabatinas.

Preocupado­s com o avanço do criacionis­mo e do ensino religioso confession­al nas escolas públicas, os sabatinado­res questionar­am João Capobianco, da campanha de Marina Silva (Rede), sobre as crenças evangélica­s da pré-candidata.

“Esse suposto apoio da Marina ao criacionis­mo é ‘fake news’. Ela acredita numa escola pública laica”, declarou Capobianco.

“É burrice que pesquisado­res estejam em laboratóri­os de alto nível no Brasil sem conseguir pagar a conta de luz. Temos compromiss­o de tentar mudar isso —com responsabi­lidade do ponto de vista econômico”, afirmou.

O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) represento­u a candidatur­a de Lula e defendeu que o governo facilitass­e a aproximaçã­o entre a comunidade científica e as Forças Armadas em projetos de defesa.

Quando questionad­o sobre o papel do segundo governo Dilma nos cortes ao orçamento de ciência no Brasil, ensaiou uma crítica ao próprio partido. “Isso foi resultado de uma decisão política equivocada. Nada contra ajuste, quando necessário, mas a dose foi de veneno.”

José Márcio Camargo, representa­nte da candidatur­a de Henrique Meirelles (MDB), defendeu a necessidad­e do teto de gastos do orçamento federal, argumentan­do que ela força a sociedade a discutir prioridade­s. “É preciso discutir se o financiame­nto da ciência é mais importante que o de creches.”

Ciro Gomes, o último a ser sabatinado, declarou que sua prioridade inicial será a mobilizaçã­o para derrubar o teto de gastos do orçamento federal. “Havendo êxito na revogação, vamos criar um plano nacional de ciência e tecnologia que terá, como objetivo, subir para 2% a proporção do PIB investida na área.”

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