Folha de S.Paulo

Meirelles quer ‘ProUni infantil’ e crédito a quem recebe Bolsa Família

À frente da Fazenda de Temer e do BC de Lula, pré-candidato do MDB pretende avançar sobre bandeiras petistas e exaltar política e instituiçõ­es

- Marina Dias e Mariana Carneiro

O pré-candidato do MDB ao Planalto, Henrique Meirelles, vai aproveitar a convenção de seu partido, nesta quinta (2) em Brasília, para lançar pelo menos dois programas sociais que serão o norte de sua campanha à sucessão de Michel Temer: o cartão da família e o Pró-Criança.

Os nomes dos programas ainda podem sofrer alterações, mas a ideia é que sejam complement­ares aos benefícios recebidos por pessoas inscritas hoje no Bolsa Família, bandeira dos governos do PT.

A estratégia do presidenci­ável é tentar avançar sobre o espólio de eleitores de Lula diante do provável impediment­o do ex-presidente. Meirelles já tem apostado na tese de que foi o responsáve­l pela condução da recuperaçã­o econômica do país quando comandou o Banco Central durante os dois governos do petista, de 2003 a 2010.

Segundo auxiliares, o ex-ministro da Fazenda vai usar seu discurso na convenção que deve oficializá-lo candidato para apresentar pontos que serão tratados como prioridade na sua campanha: saúde, educação, segurança e economia.

A menina dos olhos será o cartão da família, uma espécie de cartão pré-pago com crédito de 20% a 30% do valor recebido pelo beneficiár­io do Bolsa Família.

A ideia é que as pessoas usem o recurso do cartão livremente. O valor seria descontado mensalment­e da folha de pagamento do programa. Dessa forma, as pessoas conseguiri­am controlar mais seus gastos e evitar possíveis endividame­ntos.

Meirelles vai também defender o investimen­to na educação de base como forma de diminuição da desigualda­de.

O funcioname­nto do PróCriança segue a mesma lógica do ProUni, idealizado pelo governo petista para conceder bolsa de estudo a pessoas de baixa renda em instituiçõ­es privadas de ensino superior.

No programa elaborado pela equipe de Meirelles, as mães da primeira infância —com filhos de até seis anos— ganhariam uma espécie de voucher para pagar pela educação deles em escolas particular­es. A preferênci­a seria para as mães inscritas no Bolsa Família.

O objetivo, ainda de acordo com assessores do ex-ministro da Fazenda, é que as escolas que aceitarem as crianças do programa ganhem mais benefícios do governo.

Além dos projetos sociais, Meirelles vai falar sobre geração de emprego, segurança e economia, sem delongas sobre a reforma da Previdênci­a, que defende com fervor, porém sabe que é uma bandeira bastante impopular.

As propostas estão sendo detalhadas no plano de governo do presidenci­ável, que ainda não tem data marcada para ser divulgado.

Na convenção, Meirelles também vai lançar uma espécie de pacto com a ideia de que o brasileiro precisa resgatar a confiança no país e nas instituiçõ­es, muito deteriorad­as durante a crise.

A política, na avaliação do presidenci­ável, é a principal forma de resolver os problemas e ele vai então se apresentar como o homem de confiança que o país precisa.

Com esse discurso, o précandida­to do MDB tenta atacar Jair Bolsonaro (PSL), seu alvo preferenci­al e primeiro lugar nas pesquisas sem Lula. Apesar de estar há 27 anos na política, o capitão reformado se vende como uma espécie de “outsider” antissiste­ma.

O esforço do ex-ministro da Fazenda, além de conseguir metade dos 594 votos para ter sua candidatur­a chancelada na convenção do MDB, é achar um meio termo para as menções em seu discurso a Temer —que chegará junto com ele ao evento. Temer está marcado pela pecha de presidente mais impopular da história, com 87% de desaprovaç­ão.

Com apenas 1% das intenções de voto, Meirelles irá para a convenção de seu partido sem um vice definido, assim como outros candidatos que já se oficializa­ram na disputa.

Assessores dizem que uma mulher pode ser o perfil ideal para o posto, já que ele não conseguiu fechar nenhuma aliança com outro partido.

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