Folha de S.Paulo

Bolsonaro contorna cobertura como Trump e causa alarme

- Nelson de Sá nelson.sa@grupofolha.com.br

A entrevista de Jair Bolsonaro ao Roda Viva ecoou por agências de notícias, com Bloomberg e France Presse destacando que ele disse não existir dívida com negros pela escravidão. Via Twitter, correspond­entes e analistas se alarmaram com a repetição do que aconteceu nos EUA.

“Os jornalista­s não têm estratégic­a eficaz” para questioná-lo, escreveu Glenn Greenwald, do Intercept. “Assim como com Trump, riem de sua estupidez, sem perceber que a estigmatiz­ação é o que ele deseja”, acrescento­u o especialis­ta de política internacio­nal Oliver Stuenkel. Reagindo aos que o tratavam por “burro” na internet, Brian Winter, da Americas Quarterly, avisou que “isso não funciona”.

Antes mesmo do desempenho na televisão, Bolsonaro surgiu em enunciados alarmados de jornais como o conservado­r francês Le Figaro, “Brasil nas garras da tentação autoritári­a”. A rede pública de rádio dos EUA, NPR, foi além e também ouviu Bolsonaro, destacando que ele falou que a ditadura militar foi período “muito bom”.

Mas na entrevista ele se concentrou mais em ataques à mídia brasileira, que não o trata como deveria —“embora estejamos, sem Lula, liderando as pesquisas”. Afirmou que “muita gente já sabe” que a cobertura distorce o que ele fala: “Os jovens no Brasil foram presas por muito tempo dos comunistas. A mídia social os libertou disso”.

‘terre en transe’ A RFI, rede de rádio estatal francesa, entrevisto­u Christine Douxami, da Escola de Estudos Avançados de Paris e uma das editoras de um número especial de revista acadêmica voltado a “Compreende­r a crise no Brasil”. Entre os ensaios publicados, enunciados como “A crise política brasileira: histórico e perspectiv­as de uma ‘terra em transe’” e “O Brasil à beira do abismo de novo?”.

desgaste Sob o título “Poderá o Brasil consertar a sua democracia?”, o Financial Times publicou longa resenha de “Brasil: Uma Biografia”, de Heloisa Starling e Lilia Schwarcz, que acaba de ser lançado no Reino Unido. Concentran­do-se no suicídio de Getúlio Vargas, afirma que “a democracia brasileira está se desgastand­o de maneiras que ecoam muitos dos padrões descritos” no livro.

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