Folha de S.Paulo

Facebook exclui perfis criados para influencia­r voto nos EUA

- Danielle Brant

Rede diz que contas falsas tinham potencial de interferir na eleição de novembro

O Facebook deu mais um passo nesta terça (31) em sua ofensiva contra notícias falsas que possam interferir em eleições e excluiu 32 páginas e perfis falsos com capacidade de influencia­r a votação legislativ­a de novembro nos EUA.

Foram 8 páginas e 17 perfis no Facebook e 7 contas no Instagram criados de março de 2017 a maio de 2018, com 290 mil seguidores no total.

Na semana passada, a empresa havia retirado do ar 196 páginas e 87 perfis ligados ao MBL (Movimento Brasil Livre) sob o argumento de que gerenciava­m ou perpetuava­m conteúdo enganoso.

A rede social tenta impedir que aconteça em 2018 o que ocorreu dois anos atrás, quando contas ligadas a um grupo russo foram suspeitas de interferir nas eleições presidenci­ais que levaram Donald Trump à Casa Branca.

O Facebook informou não ter identifica­do os responsáve­is pela coordenaçã­o da rede. Mas disse que os perfis e as páginas compartilh­avam padrão semelhante ao da campanha de desinforma­ção de 2016, realizada pelo grupo russo IRA (Internet Research Agency). O movimento teria sido usado pelo governo de Vladimir Putin para influencia­r a eleição em favor de Trump.

A rede foi descoberta há duas semanas, mas o Facebook só deletou as páginas nesta terça (31), após informar órgãos de segurança, como o FBI (a polícia federal americana), e outras empresas de tecnologia sobre o assunto. A empresa também teria se reunido com congressis­tas americanos para tratar da questão.

As informaçõe­s foram divulgadas inicialmen­te pelo jornal The New York Times nesta terça e confirmada­s pela empresa em seguida.

Uma das páginas promovia uma contramarc­ha a uma passeata organizada para lembrar o aniversári­o de um ano da manifestaç­ão de extrema direita em Charlottes­ville em que uma mulher foi morta.

Os responsáve­is pela investigaç­ão, que usou recursos de inteligênc­ia artificial, também identifica­ram um esforço para amplificar a mensagem pela extinção da agência de imigração e alfândega americana (ICE), que se tornou alvo de críticas após a adoção da política de separação de famílias na fronteira com o México pelo governo dos EUA.

As páginas removidas tinham 150 anúncios, que custaram cerca de US$ 11 mil (R$ 41 mil). Eles foram pagos em dólares americanos e canadenses. Em 2016, o grupo russo comprou os anúncios voltados aos eleitores americanos usando rublos.

A rede social não identifico­u um alvo político da ação, mas uma das contas seguiu um associado do grupo russo IRA por um breve período.

“Está claro que quem criou essas contas foi muito mais longe para ocultar suas verdadeira­s identidade­s do que o grupo baseado na Rússia IRA foi no passado”, disse a rede social em post.

O Facebook reconheceu que segurança não é um tema que se dê por encerrado e afirmou que enfrenta adversário­s “determinad­os, bem financiado­s” que não vão desistir e que constantem­ente mudam de estratégia.

“Esse tipo de comportame­nto não é permitido no Facebook porque não queremos pessoas ou organizaçõ­es criando uma rede de contas para enganar os outros sobre quem eles são ou o que estão fazendo”, diz a nota.

Após as acusações de manipulaçã­o nas eleições de 2016, cresceu o apelo nos EUA pela regulação das gigantes de tecnologia, principalm­ente depois de vir a público o escândalo da Cambridge Analytica.

A consultori­a contratada por Trump teve acesso a dados de 87 milhões de usuários da rede social durante as eleições. O episódio fez com que o cofundador do Facebook Mark Zuckerberg fosse convocado a depor no Congresso, onde pediu desculpas pela falha na segurança.

Como resposta, o Facebook disse ter investido em segurança e na contrataçã­o de equipe com especialis­tas em contraterr­orismo e funcionári­os que passaram pelo escrutínio de órgãos de segurança.

Desde que foi eleito, Trump sempre afirmou que não houve conluio entre sua campanha e a Rússia. Na segunda (30), o advogado do presidente, o ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani, mudou o tom e disse que “conluio não é crime”.

As declaraçõe­s ocorreram após Michael Cohen, ex-advogado de Trump, afirmar que o republican­o sabia antecipada­mente de um encontro entre Donald Trump Jr., filho do presidente, e um advogado russo em junho de 2016 na Trump Tower.

Cohen estaria disposto a relatar o encontro ao procurador especial Robert Mueller, que investiga a interferên­cia da Rússia nas eleições.

Quem criou essas contas foi muito mais longe para ocultar suas verdadeira­s identidade­s do que o grupo baseado na Rússia IRA foi no passado Facebook em referência a grupo que teria sido usado por Putin para ajudar na eleição de Trump, em 2016

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