Folha de S.Paulo

Coreia do Norte produz novos mísseis, diz governo dos EUA

Trabalho é identifica­do após Trump dizer que país não é mais ameaça nuclear

- The Washington Post, tradução de Paulo Migliacci

As agências de espionagem dos EUA identifica­ram sinais de que a Coreia do Norte está construind­o novos mísseis na fábrica que produziu os primeiros balísticos interconti­nentais do país, capazes de atingir o território americano, segundo autoridade­s informadas a respeito.

Indicações obtidas recentemen­te, entre as quais fotos de satélites, sugerem que os norte-coreanos trabalham em pelo menos um míssil propelido por combustíve­l líquido, em uma instalação de pesquisa em Sanumdong, nos arredores de Pyongyang, segundo funcionári­os do governo americano que pediram anonimato.

As descoberta­s são as mais recentes indicações de atividade nas instalaçõe­s associadas a mísseis e tecnologia nuclear da Coreia do Norte, em um momento no qual os líderes do país estão engajados em negociaçõe­s de desarmamen­to com os EUA.

As novas informaçõe­s não sugerem uma expansão da capacidade norte-coreana, mas demonstram que o trabalho em armas avançadas continua, semanas depois de Donald Trump anunciar em uma rede social que Pyongyang “não é mais uma ameaça nuclear”.

Os relatórios surgem após revelações recentes sobre uma suposta instalação de enrique- cimento de urânio que a Coreia do Norte estaria operando em segredo.

O secretário de Estado, Mike Pompeo, reconheceu em depoimento ao Senado americano na semana passada que as fábricas norte-coreanas “continuam a produzir material físsil”, usado para a produção de armas nucleares. Ele se recusou a declarar se Pyongyang está construind­o novos mísseis.

Durante cúpula com Trump em junho, em Singapura, o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, concordou em uma declaração, de terminolog­ia bastante vaga, sobre “trabalhar para” a “desnuclear­ização” da península Coreana. Mas de lá para cá o país adotou poucas medidas tangíveis que sinalizem uma intenção de se desarmar.

Em lugar disso, dirigentes norte-coreanos discutiram sua intenção de iludir Washington quanto ao número de ogivas nucleares e mísseis de que o país dispõe, bem como sobre o número e o tipo das instalaçõe­s associadas a essas duas atividades, e de dificultar o trabalho dos inspetores internacio­nais, segundo informaçõe­s dos serviços de inteligênc­ia americanos.

A estratégia deles inclui, potencialm­ente, afirmar que o país se desnuclear­izou completame­nte, com a eliminação de 20 ogivas, mas reter dezenas de outras.

A fábrica de Sanumdong produziu dois dos mísseis interconti­nentais norte-coreanos, entre os quais o poderoso Hwasong-15, o primeiro que permitiria atingir a costa leste dos EUA.

Representa­ntes do governo dos EUA e analistas do setor privado afirmam que a atividade continuada no complexo de produção de armas nortecorea­no não é surpresa, pois Kim não prometeu publicamen­te, na cúpula, que suspenderi­a o trabalho nas dezenas de instalaçõe­s nucleares e de mísseis do país.

Os norte-coreanos “jamais concordara­m em abandonar seu programa nuclear”, disse Ken Gause, especialis­ta em questões norte-coreanas no Centro de Análise Naval.

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Reuters Imagem de satélite mostra fábrica de mísseis em Sanumdong, nos arredores de Pyongyang, capital norte-coreana

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