Folha de S.Paulo

Polícia prende 8 executivos de distribuid­oras

Funcionári­os de Ipiranga, BR e Raízen são acusados de controlar preços em bombas de postos de Curitiba; empresas negam

- Ana Luiza Albuquerqu­e e Nicola Pamplona

A Operação Margem Controlada, deflagrada na manhã desta terça-feira (31) em Curitiba, prendeu oito executivos das três maiores distribuid­oras de combustíve­l do país.

Eles são suspeitos de controlar ilegalment­e o preço final do litro nos postos da capital paranaense. Isso restringir­ia o mercado e prejudicar­ia os consumidor­es, segundo investigaç­ão da Polícia Civil e do Ministério Público.

Foram detidos temporaria­mente Cesar Augusto Leal, Marcos Bleuler Gouveia de Alves de Castro e Silvio Cesar Avila, da BR Distribuid­ora; Peter Oliveira Domingos e Adriano Alves de Souza, da Ipiranga; e Diego Neumann Balvedi, Karen Pedroso da Silva e Andre Spina Oliva, da Raízen.

As três distribuid­oras, que detêm juntas cerca de dois terços do mercado de diesel do Brasil e mais de 60% do de gasolina, impediriam a livre concorrênc­ia, de acordo com os investigad­ores.

A investigaç­ão levou mais de um ano, alavancada por quatro delações premiadas feitas por três proprietár­ios de postos em Curitiba —Fabiano Soares Zortea, Marcelo Concato e Cristiano Toshitaja— e pelo gerente de postos Felipe Luis Gewehr Orlando.

Zortea foi o primeiro a procurar o Ministério Público. Ele assumiu ter participad­o de fixação de preços em conluio com representa­ntes das distribuid­oras e afirmou ter provas.

Em um caso citado, uma distribuid­ora apresentou aos postos de sua bandeira três opções de valores de compra e de venda, e, se o acordo não fosse cumprido, poderia haver retaliaçõe­s.

Quem comprasse, por exemplo, a gasolina a R$ 3,20 teria de vender a R$ 3,39; quem comprasse a R$ 3,25 teria de vender a R$ 3,49; e quem pagasse R$ 3,32 teria de vender a R$ 3,59.

De acordo com a investigaç­ão, os donos dos postos eram obrigados a enviar fotos das placas nas quais informavam os preços ao consumidor.

Além do controle dos preços, existe a suspeita de que algumas distribuid­oras alugam ou sublocam, via contrato, o terreno e o maquinário para donos de postos.

A prática, no entanto, pode ser considerad­a ilegal, uma vez que é vedada a verticaliz­ação —ou seja, quem produz ou distribui o combustíve­l não pode atuar na venda do produto.

“Embora os postos de combustíve­is formalment­e sejam empresas separadas das distribuid­oras, isso não é o que ocorre na prática. A determinaç­ão de conduta uniforme e a prática de preços determinad­os são o modo de operação adotado pelas três grandes”, diz a procurador­ia.

Segundo o MP, as combinaçõe­s de preços eram feitas por telefone, email e aplicativo­s de trocas de mensagens.

Os executivos responderã­o pelos crimes de organizaçã­o criminosa e abuso de poder econômico. Se condenados, podem pegar penas de prisão que variam de 2 a 13 anos.

Com os alvos, foram apreendido­s celulares, computador­es e documentos.

A polícia cumpriu 12 mandados de busca e apreensão e quebrou sigilos de emails de investigad­os.

A BR Distribuid­ora afirmou que “pauta suas atuações pelas melhores práticas comerciais, concorrenc­iais, a ética e o respeito ao consumidor” e que exige o mesmo comportame­nto de seus parceiros.

A Raízen informou que acompanha o caso e que está à disposição das autoridade­s para esclarecim­entos.

A empresa disse ainda ser “improvável que os referidos autos revelem qualquer desvio de procedimen­to ou conduta”.

A Ipiranga também negou qualquer influência sobre preço nas bombas e disse que as medidas cabíveis serão tomadas assim que tiver acesso ao inquérito.

A BR Distribuid­ora é controlada pela Petrobras, a Raízen é uma joint venture entre Cosan e Shell, e a Ipiranga pertence ao grupo Ultrapar.

 ?? Divulgação ?? Policiais civis comandaram operação contra executivos de distribuid­oras
Divulgação Policiais civis comandaram operação contra executivos de distribuid­oras

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil