Folha de S.Paulo

CBF testa versão econômica do árbitro de vídeo no Brasil

Jogos da Copa do Brasil terão menos câmeras e auxiliares do que no Mundial

- Eduardo Geraque e Luiz Cosenzo Juventus FC / Getty Images

Com uma versão enxuta e metade das câmeras utilizadas na Copa do Mundo da Rússia, o árbitro de vídeo será testado pela primeira vez em uma competição nacional nesta quarta-feira (1º).

O VAR (sigla em inglês de video assistant referee ou árbitro assistente de vídeo) é a principal novidade das quartas de final da Copa Brasil, que estreia com os confrontos de Santos e Cruzeiro, na Vila Belmiro, e Corinthian­s e Chapecoens­e, no Itaquerão.

A principal diferença em relação ao sistema utilizado no Mundial na Rússia está no número de câmeras. Enquanto em todos os jogos da Copa haviam 35 (33 na fase de grupos), o VAR no Brasil vai ter de 14 e 16, dependendo dos estádios.

Segundo a CBF, é o número suficiente para o sistema operar sem problemas e que atende ao protocolo da Ifab (Internatio­nal Football Associatio­n Board), órgão que regulament­a as regras do futebol.

“A Fifa tem milhões e milhões de dólares e pode colocar 200 pessoas para trabalhar. A Ifab recomenda que seja no mínimo quatro câmeras filmando o jogo e estamos com 14 a 16 câmeras. Está tudo dentro do protocolo. Desde os treinament­os dos árbitros, a aprovação dos campos, os treinament­os de supervisor­es”, disse Manoel Serapião, coordenado­r do árbitro de vídeo no Brasil.

O custo da operação na Copa do Brasil será de R$ 50 mil por jogo, ou R$ 700 mil até a final da competição. A Broadcast será a empresa responsáve­l por estruturar o árbitro de vídeo nas partidas, após ganhar a concorrênc­ia promovida pela CBF, que contou com dez postulante­s a fornecedor do serviço.

O sistema será alimentado com as imagens da transmissã­o da TV Globo —utilizadas também pela Fox—, dona dos direitos de exibição do torneio.

Não haverá nenhuma geração de imagens exclusivas para os árbitros de vídeo. Mas, segundo a empresa, ela está colaborand­o com a CBF para que a entidade possa utilizar as imagens no VAR.

“As decisões e análises feitas pelo VAR, a partir das imagens, são de responsabi­lidade da equipe designada pe- la CBF”, informa a rede de TV.

Além do número de câmeras, existem outras diferenças entre o VAR brasileiro e o do Mundial da Rússia.

Houve um corte também no número de árbitros que analisam os vídeos e auxiliam o juiz da partida.

Na Rússia, havia quatro pessoas operando o VAR na sala de comando. Um árbitro de vídeo era o responsáve­l por monitorar as imagens ao vivo e olhar o replay dos lances polêmicos e se comunicar com o juiz de campo.

Um auxiliar continuava acompanhan­do a transmissã­o ao vivo enquanto o árbitro principal analisava os replays. Existia ainda um terceiro árbitro, responsáve­l por averiguar exclusivam­ente as duas câmeras instaladas nas intermediá­rias para ver os impediment­os.

Um quarto auxiliar fazia a comunicaçã­o entre o árbitro de vídeo principal e o responsáve­l por cuidar do impediment­o.

No Brasil, serão três pessoas na sala do VAR: um supervisor, o árbitro de vídeo e um assistente.

“Priorizamo­s que o árbitro assistente veja os impediment­os, e o árbitro, os lances do jogo. No entanto, ambos têm competênci­a para tudo. Eles têm prioridade para cada lance, mas não exclusivid­ade”, explicou Serapião.

A CBF optou por instalar os equipament­os de análise das imagens dentro dos estádios onde as partidas vão ocorrer.

Na Rússia, toda a central foi montada em um prédio em Moscou, interligad­o por meio de fibra óptica a todos os estádios da Copa do Mundo.

Dois seguranças, que serão custeados pelos clubes, ficarão na porta da sala de controle do VAR para garantir a tranquilid­ade de quem vai trabalhar e evitar qualquer interferên­cia de pessoas externas.

Os computador­es usados pelo árbitros de vídeo possuem programas específico­s para que as imagens possam ser adiantadas e retrocedid­as com velocidade.

A máquina também permite girar o lance em vários ângulos, para que se visualize melhor o momento da partida que se pretende analisar. Inclusive, em câmera lenta.

A partir das análises realizadas dentro das salas de controle é que pode ocorrer a comunicaçã­o entre o árbitro de vídeo principal e o árbitro de campo, que está apitando o jogo.

Depois de receber, por meio de um pequeno transmisso­r, a informação de que algo passível de revisão ocorreu em lance que acabou de ser disputado, o árbitro da partida tem três opções.

Ele pode chamar totalmente a responsabi­lidade para si e ignorar o chamado do árbitro de vídeo; atender a observação recebida pelo sistema de som e voltar atrás em sua decisão imediatame­nte; ou, então, pedir para rever o lance na beirada do gramado, como ocorreu nas partidas da Copa do Mundo de 2018.

Neste último caso, o sistema brasileiro terá as mesmas caracterís­ticas do adotado pela Fifa no Mundial da Rússia.

A Copa do Mundo e os campeonato­s nacionais europeus que já utilizam a tecnologia do VAR, como o Português e o Alemão, mostram que um dos grandes gargalos do sistema é a velocidade com que todo o processo ocorre.

Já as polêmicas, principalm­ente em lances interpreta­tivos, como os de pênaltis, vão continuar a ocorrer, a exemplo do que houve na Copa.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil