Folha de S.Paulo

Cuca esquece camisa da sorte, gato preto e história no Santos

Técnico comandou a equipe em 2008, quando lutou contra o rebaixamen­to

- Klaus Richmond

Santos e Cuca têm algo em comum. O clube e o novo treinador precisam reconstrui­r a própria imagem.

O técnico quer apagar o último trabalho no Palmeiras, marcado por polêmicas, mas, principalm­ente, a sua passagem frustrada pela Vila Belmiro, em 2008, interrompi­da com apenas 14 jogos e três meses incompleto­s.

“Se estou aqui é para trabalhar. Então, amanhã já vou para a beira do campo tentar reverter essa situação”, disse o treinador em sua primeira entrevista. Ele comandará a equipe já nesta quartafeir­a (1º), contra o Cruzeiro, às 19h30, na Vila Belmiro, pela primeira partida das quartas de final da Copa do Brasil.

A passagem de dez anos atrás pouco lembra o treinador que chega ao clube com uma Libertador­es e um Brasileiro na bagagem, títulos conquistad­os nesta década.

Na ocasião, Cuca se antecipou à pressão e pediu demis- são após uma derrota por 3 a 2 para o Atlético-MG, na Vila.

“Hoje estou motivado e renovado, coisa que não estava ontem. Há dez anos, falei para o [presidente] Marcelo [Teixeira]: ‘deixa eu ir, não vou poder ajudar’”.

O desempenho foi o segundo pior de um treinador no clube neste século, com apenas 30,9% de aproveitam­ento. O resultado só é superado pela má campanha de Nelsinho Baptista, três anos antes, que deixou o clube com 30,7%.

Cuca assumiu o Santos em momento semelhante. A equipe lutava contra o rebaixamen­to e sofria uma pressão pela ausência de resultados.

“Comparo o Cuca de 2008 como foi o Jair Ventura. Faltava experiênci­a e vivíamos um momento de renovação no elenco. Agora, o vejo em um novo momento, muito maduro”, disse o presidente do conselho santista, Marcelo Teixeira, presidente do clube na época.

Na Vila Belmiro, Cuca ficou marcado mais pelas superstiçõ­es do que pelos resultados. Fez, logo no início, um pedido curioso: usar a camisa que o acompanhou no Botafogo, toda preta, e mandar estampar o símbolo santista.

“Ele pegou uma camisa e mandou colocar o distintivo do clube. O Cuca sempre tinha uma santinha no bolso, também, mas foi um cara que chegou no Atlético-MG e viveu 24 horas o clube. Morava no clube”, relatou o ex-dirigente santista Evaldo Prudêncio, que também trabalhou com o treinador no Atlético-MG.

O técnico acumulou histórias pitorescas, como o pedido de soltar um gato preto no CT Rei Pelé para colocar fim aos maus resultados.

Recorreu, ainda, ao presidente Marcelo Teixeira por uma ajuda religiosa para melhorar a pontaria da equipe.

“Foi um pedido do Cuca e eu chamei o padre Chiquinho. No grupo tínhamos jogadores de outras crenças. Então, ele fez uma palestra e rezou por nós”, disse Teixeira.

Cuca chegou a reclamar durante entrevista coletiva que também não conseguia dormir devido à presença de gatos em seu telhado. “Aqui usarei calça preta. Lá [no Palmeiras] me deram uma, vamos ver se vou ganhar aqui, também. Amanhã já estou com ela”, brincou no retorno.

Em campo virão novos questionam­entos. O período no Santos também ficou marcado pela tentativa de inovar com um sistema 3-4-3, sem a presença de laterais no meio de campo. Não deu certo.

O trabalho foi reprovado pelos principais líderes do Santos. Após a sua saída, o zagueiro Fabiano Eller falou que, se tivesse optado por um esquema mais simples, a equipe sofreria menos na competição.

Cuca ainda teve problemas com relação aos métodos implementa­dos pelo então preparador físico, Riva Carli.

O treinador volta à antiga casa mais maduro. Com títulos e o mérito de ter feito os seus times jogarem com mais simplicida­de. Ainda assim, o recomeço para construir uma nova imagem no Santos será difícil para ele.

Das próximas sete partidas, cinco acontecerã­o fora de casa e em apenas 20 dias.

 ?? Flavio Hopp/Ag. O Globo ?? O presidente José Carlos Peres e o técnico Cuca conversam no CT Rei Pelé
Flavio Hopp/Ag. O Globo O presidente José Carlos Peres e o técnico Cuca conversam no CT Rei Pelé

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