Com Bolsonaro, Roda Viva tem segunda melhor audiência do ano
Noite com presidenciável ficou atrás apenas de entrevista que, em março, colocou no centro o juiz Sergio Moro
Antigo âncora afirma que se afastou após pressões políticas
Com a entrevista do candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL) nesta segunda (30), o Roda Viva, da TV Cultura, alcançou sua segunda maior audiência do ano.
O programa só não ultrapassou os números referente à noite que teve o juiz Sérgio Moro como convidado, em março. Naquela ocasião, o Roda Viva conquistou o maior público em 18 anos, desde quando começou-se a computar sua audiência.
A entrevista com Bolsonaro foi a décima em uma série dedicada aos presidenciáveis (veja ao lado as audiências correspondente a cada um deles, segundo o Ibope).
No centro da bancada, Bolsonaro respondeu a questões sobre política, posições ideológicas e foi provocado sobre declarações suas, apontadas como racistas e xenofóbicas.
Ele voltou a atacar o kit anti-homofobia proposto no Ministério da Educação em 2011 e se defendeu quando os entrevistadores apontaram baixo aproveitamento de suas propostas como parlamentar.
Entre outros projetos, citou a elaboração de uma lei que previa castração química para condenados por estupro.
O programa semanal da TV Cultura fez 2,3 pontos de média com picos de 2,8 pontos, ocupando o quarto lugar no ranking das emissoras da TV aberta, segundo dados consolidados na Grande São Paulo.
No mesmo horário, a Globo fez 25,8 pontos. O SBT ficou em segundo lugar, com 9,3. Em terceiro, a Record atingiu 5,3 pontos de média.
Durante a apresentação, o âncora Ricardo Lessa anunciou: “Estamos, graças também aos seguidores do deputado, em primeiro lugar mundial no Twitter”. Ele se referia aos trending topics da rede.
Segundo pesquisa da FGV Dapp, a entrevista de Bolsonaro mobilizou 717.308 publicações no Twitter entre 20h de segunda (30) e 8h de terça (31), e o debate se dividiu em quem era a favor do candida- to (25,96%) e contra (54,28% ).
A audiência nas redes têm sido muitas vezes mais expressivas do que a medida durante a exibição do programa na TV.
As visualizações da entrevista com Bolsonaro no Youtube, até as 20h da terça (31), ultrapassavam 1,6 milhão.
A entrevista com Ciro Gomes, no fim de maio, está entre as audiências mais altas da série, com 1,1 ponto de audiência e 1,3 milhão de visualizações no Youtube, também em medição até esta terça.
Na semana passada, Geraldo Alckmin rendeu ao semanal 0,4 no Ibope, mais 147 mil visualizações no Youtube.
Guilherme Boulos, Alvaro Dias, Marina Silva e Manuela D’Ávila tiveram participações que geraram mais público do que o candidato pelo PSDB. Na mesma noite em que o Roda Viva conquistou sua segundo melhor audiência do ano, o programa da TV Cultura foi criticado pelo jornalista Augusto Nunes, que o ancorou até março deste ano.
Segundo Nunes disse ao programa Pingue-Pongue com Bonfá, exibido no Youtube e comandado por Marcelo Bonfá, o conselho do Roda Viva pressionava a equipe do programa para que fossem convidadas figuras políticas que tinham relação de amizade com seus membros.
“Falavam: ‘Tem que chamar o ministro da Educação, o das Comunicações, o da Saúde’”, exemplificou, na conversa.
Nunes diz que, com as imposições, houve nomes que se repetiram na programação em curto período. Afirma também que preferiu não renovar seu contrato, em março.
“Todos querem dizer que fizeram um grande trabalho, e depois vão se candidatar.”
Segundo Marcos Mendonça, presidente da TV Cultura, as escolhas dos entrevistados para o programa são sempre pautadas por relevância jornalística. “Somos mantidos pelo estado. E temos total independência”, disse.
Sobre a repetição de convidados, caso de José Mendonça Filho, ministro da Educação entre 2016 e 2018, o presidente da Cultura afirmou que o retorno do político teve como razão o lançamento de programas “importantes” em área que seria prioridade na emissora. Ele esteve duas vezes no centro da roda em 17 meses, a última delas em março.