Folha de S.Paulo

Total de registros de sarampo é o maior desde 1999

- Natália Cancian Adriana Toffetti - 20.jul.18/A7 Press/Folhapress

Em novo sinal do avanço do sarampo, o Brasil já soma 1.053 casos confirmado­s da doença, patamar que não era registrado desde 1999.

Naquele ano, o país havia confirmado 908 casos, segundo dados de série histórica do Ministério da Saúde, analisados pela Folha.

Um ano depois, já em cenário de redução da transmissã­o, o país registrou apenas 36 casos confirmado­s, incluindo o último registro considerad­o “autóctone” —nome dado aos casos adquiridos quando há transmissã­o local e sustentada de uma doença.

Desde então, houve apenas surtos esporádico­s, todos relacionad­os a importação de vírus do sarampo de outros países. O último desses surtos ocorreu entre 2013 e 2015, no Ceará e em Pernambuco, quando houve 1.310 casos. Deste total, 876 ocorreram em todo o ano de 2014, último pico da doença desde 2000.

Embora ainda menor que o último surto, a situação atual já ultrapassa esse patamar comparado por ano. Também dá sinais de que pode crescer, já que há ainda 4.576 casos suspeitos em investigaç­ão.

Segundo o ministério, os dados deste ano consideram o período de fevereiro a 30 de julho, durante o qual a doença voltou a avançar no país, desde a notificaçã­o do primeiro caso suspeito em Roraima. Com o aumento na imigração e surto na Venezuela, outros casos passaram a ser registrado­s.

Ao todo, sete estados já registram sarampo. Amazonas continua à frente dessa lista, com 742 casos confirmado­s e 4.470 em investigaç­ão, a maioria na capital, Manaus. Em seguida, está Roraima, com 280 registros confirmado­s e 106 em investigaç­ão —destes, 70% ocorreram em venezuelan­os, a maioria imigrantes.

Também houve 14 casos confirmado­s no Rio de Janeiro e 13 no Rio Grande do Sul, além de dois no Pará, um em São Paulo e outro em Rondônia.

Em nota, o Ministério da Saúde diz realizar medidas de bloqueio do avanço da doença nestes locais por meio da vacinação. “É importante ressaltar que não há necessidad­e de corrida aos postos de saúde, já que as ações para controle do surto da doença nas localidade­s acometidas por casos de sarampo estão sendo realizadas”, informa a pasta.

Segundo o ministério, ambos os surtos em Roraima e no Amazonas são relacionad­os a uma importação do vírus que circula na Venezuela. Isso porque o genótipo do vírus é o D8, o mesmo que circula no país vizinho.

Com isso, a pasta diz considerar o surto como “importado”. O mesmo ocorre nos demais estados que registram casos, onde pacientes tinham histórico de viagem a locais com surto da doença na Europa e no Líbano.

A situação, porém, ameaça o certificad­o de eliminação do sarampo que o país recebeu da Opas (Organizaçã­o Panamerica­na de Saúde) em 2016.

Também se agrava diante da queda de coberturas vacinais. Conforme adiantado pela Folha, o país registrou em 2017 o menor índice de vacinação de crianças dos últimos 16 anos.

Em nota, o ministério diz que tem “feito esforços para manter o certificad­o, interrompe­r a transmissã­o dos surtos e impedir que se estabeleça a transmissã­o sustentada” —quando o surto se mantém por mais de 12 meses.

Em outra estratégia de controle da doença, o Ministério da Saúde inicia na próxima segunda-feira (6) uma campanha de vacinação contra o sarampo e a poliomieli­te.

Ao todo, 11,2 milhões de crianças entre um ano e menores de cinco anos devem ser vacinadas contra as duas doenças, independen­temente da situação vacinal.

Com isso, até mesmo aquelas que já receberam as doses no passado devem ser vacinadas novamente.

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Vacinação em UBS na zona norte de São Paulo

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