Folha de S.Paulo

Joesley e Cancellier ilustram o desvio escuro da Lava Jato

Mal nas pesquisas, tucano ganhou fôlego ao obter a maior coligação da eleição

- Daniel Carvalho e Thais Bilenky Colaborou Igor Gielow

A imunidade para Joesley Batista e a prisão de Luiz Cancellier, da UFSC, ilustram o desvio escuro da Lava Jato. Embora a ação que vitimou o reitor não tenha ligação com a operação, o espírito do arbítrio angelical pulsa nela.

Depois de meses de crise partidária e desempenho decepciona­nte em pesquisas, Geraldo Alckmin (PSDB) chega neste sábado (4) à convenção que o confirmará na disputa pela Presidênci­a com estatura de candidato competitiv­o.

Se até semanas atrás tinha de lidar com a pressão de correligio­nários para substituí-lo, o deboche de adversário­s à esquerda e à direita e o desânimo de sua própria equipe, o tucano hoje precisa responder sobre sua aliança com o centrão (DEM, PP, PR, PRB e SD).

Ele formou o maior arco de alianças, o que trouxe 40% do tempo de televisão e capilarida­de partidária, revertendo o clima de abatimento que assombrava seu entorno.

No ato deste sábado, em um centro de convenções em Brasília, Alckmin responsabi­lizará o PT pelo desemprego, segundo trechos a que a Folha teve acesso.

“Foram exatamente as bravatas e o radicalism­o que criaram a coincidênc­ia que sintetiza a herança trágica que o governo petista nos deixou: 13, o número do partido que lá esteve por 13 anos; pois bem, são hoje 13 milhões o número de famílias brasileira­s atiradas ao desemprego”, dirá.

No discurso, ele também se apresentar­á como o candidato contra a divisão do país.

“Sou candidato para buscar um mandato que pode ser resumido em uma frase: vamos mudar o Brasil e devolver aos brasileiro­s a dignidade que lhes foi roubada”.

Alckmin subirá ao palco com o peso da aliança com partidos conhecidos pelo fisiologis­mo e lideranças envolvidas em corrupção.

O tema também atinge o candidato e a sua legenda, o que esvazia o discurso que sustenta contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba, e o PT, adversário histórico do PSDB.

Sobre Alckmin pesam suspeitas de caixa dois em campanhas, o que ele nega. Além dele, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que não confirmou presença no ato, é réu acusado de corrupção passiva e obstrução de Justiça na Operação Patmos, da Polícia Federal. Aécio foi gravado pe- lo empresário Joesley Batista, da JBS, pedindo a quantia de R$ 2 milhões. O senador nega qualquer irregulari­dade.

O presidenci­ável ainda terá de se esforçar para dissociar sua imagem da do governo Michel Temer. O emedebista chegou ao poder com apoio dos tucanos, fiadores do impeachmen­t de Dilma Rousseff (PT), e o PSDB ocupou ministério­s importante­s.

Temer também contribuiu indiretame­nte para a campanha de Geraldo Alckmin ao ameaçar tomar cargos de integrante­s do governo que apoiassem a candidatur­a de Ciro Gomes (PDT), o que pesou na decisão do centrão de se aliar ao tucano.

Desde que lançou sua précandida­tura, o paulista de 65 anos nascido Pindamonha­ngaba já apresentou promessas como unificar cinco impostos em um único, o IVA (imposto sobre valor adicionado), reduzir o imposto de renda de pessoa jurídica, zerar o déficit primário em menos de dois anos e dobrar a renda do brasileiro.

Alckmin foi escolhido candidato do PSDB à Presidênci­a sob constante ameaça de seu apadrinhad­o político João Doria (PSDB), ex-prefeito de São Paulo que disputará o governo do estado.

Durante toda a pré-campanha, patinou nas pesquisas, alcançando, no máximo, 7% das intenções de voto. A esta dificuldad­e sempre respondeu que a campanha ainda não havia começado e que o cenário mudaria com o início da propaganda na TV.

Alckmin passou as últimas semanas envolvido em negociaçõe­s para achar alguém para o posto de vice em sua chapa.

O primeiro indicado pelo centrão, o empresário Josué Alencar (PR), postergou o quanto pôde sua decisão e acabou rejeitando a parceria.

Surgiu o nome da senadora Ana Amélia (PP-RS), gaúcha, crítica do PT e ligada ao agronegóci­o. O perfil agrada ao eleitorado de Jair Bolsonaro (PSL).

Alckmin é médico anestesist­a, já foi vereador e prefeito em sua cidade natal. Foi deputado estadual e federal. Depois, governou São Paulo por quatro vezes.

Viciado em café —toma até 15 por dia, com açúcar— é conhecido entre aliados por gostar de contar causos, piadas politicame­nte corretas e por adotar citações em seus discursos. Uma das mais constantes é em latim: sublata causa, tollitur effectus (suprima a causa que o efeito cessa).

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Mateus Bonomi - 4.jul.18/AGIF O presidenci­ável Geraldo Alckmin, do PSDB

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