Em 3ª tentativa de ser presidente, Marina recorre a partido como qual rompeu
Vice Eduardo Jorge, do PV, diverge da candidata sobre descriminalização de aborto e maconha
A pré-candidata da Rede, Marina Silva, passou as últimas semanas repetindo que tinha prata da casa (ou “ouro da casa”, como frequentemente chamava) para o caso de não fechar com um candidato a vice de outro partido.
Em sua terceira tentativa de chegar à Presidência, com 15% de intenção de voto, ela é a segunda colocada nas pesquisas em cenários sem o ex-presidente Lula, de acordo com o Datafolha. Mas a ex-senadora encontrava dificuldades para fechar alianças.
A dois dias da convenção que oficializaria sua terceira candidatura à Presidência, na quinta-feira, 2, porém, veio um alívio: Marina conseguiu fechar aliança com o PV, numa movimentação que esticou levemente seu tempo no horário eleitoral.
A chapa com o ex-deputado e médico Eduardo Jorge será lançada oficialmente na convenção nacional da Rede neste sábado (4), em Brasília.
A campanha avalia que a composição com os verdes deu fôlego à candidatura, embora dificuldades persistam. Com o PV, a candidata salta de 8 para 24 segundos de TV. Apesar disso, continua com tempo escasso se comparado aos adversários: terá apenas uma inserção diária, contra 12 de Geraldo Alckmin (PSDB).
Nos últimos meses, o grupo da ex-senadora tentou negociar alianças com partidos como PMN, PPL, PHS e Pros, mas nenhuma avançou. Lideranças da campanha já se con- formavam com a possibilidade de que a ex-senadora fosse para o pleito sozinha.
As alternativas caseiras vinham repetindo o discurso de que estariam prontas para auxiliar Marina e que atenderiam a um pedido dela para assumir a vaga de vice.
“Nunca deixaríamos Marina passar por qualquer constrangimento ou dificuldade, mas o que todos esperávamos era que pudesse mesmo haver uma composição”, diz a ex-senadora Heloísa Helena. Candidata a deputada federal em Alagoas e confidente da presidenciável, Heloísa foi uma das cogitadas para o posto.
Outra opção (que declinou da proposta), o ator Marcos Palmeira, será o mestre de cerimônias da convenção.
É o primeiro evento do tipo realizado pela Rede. O partido, que obteve registro em 2015, é estreante em eleições gerais. Em 2016, seu primeiro pleito, elegeu cinco prefeitos.
Eduardo diverge de sua cabeça de chapa em posições como a descriminalização do aborto e da maconha, já criticou a saída de Marina do PV e a criação da Rede.
“Deixar de considerar criminosas entre 700 e 800 mil mulheres que fazem aborto por ano é acabar com uma lei medieval em pleno século 21”, afirmou ao jornal O Globo o então candidato verde ao Planalto, em 2014. Marina, que é evangélica, é contra a descriminalização. A pré-candidata costuma dizer que qualquer mudança na lei atual deve ser feita mediante um plebiscito.
Em outro aspecto, o programa de governo de 2014 do agora vice defendia a “imediata legalização” da maconha e deixava clara sua posição de apoio ao casamento gay, à adoção por casais homoafetivos e à criminalização da homofobia. Do outro lado, a presidenciável foi criticada no mesmo ano por retirar de seu programa trechos que tratavam de questões LGBT.
“Todo mundo sabe o que eu penso”, disse Eduardo Jorge à Folha na quinta. “Minhas posições são claras. Estão no meu programa de governo de 2014.”
Eduardo afirmou que eventuais divergências não prejudicam sua relação com Marina e que opiniões dela poderão prevalecer na candidatura. “Nesses pontos em que há divergências, a gente respeita as posições da candidata”, disse.
No entorno da ex-senadora, as desavenças também são minimizadas. Segundo Jane Vilas Bôas, coordenadora de comunicação, a Rede tem pessoas que defendem as mesmas bandeiras do aliado. “Marina espera respeito ao pensamento dela e ela respeita o pensamento que não é o dela.”
A relação entre vice e candidata, porém, não foi sempre afinada. Correligionários na primeira disputa em 2010 e adversários em 2014, já trocaram farpas.
Em um debate na Band, na eleição passada, Eduardo chamou Marina de “magrinha”, instigando uma resposta da concorrente, que gravou um vídeo em que nega ser “magrinha e fraquinha”.
Em outro momento, criticou a saída da ex-senadora do PV e a criação da Rede. “Acho que nunca tem bom futuro um partido à imagem e semelhança de uma pessoa”, disse.