Candidatura de França racha grupo que comandou SP por duas décadas
Governador, que será confirmado candidato hoje, se uniu a nanicos para entrar na disputa
“Coitado do Márcio França, lá de São Vicente, imagina disputar o governo do estado com gente poderosa, rica e famosa.” A frase é do próprio Márcio França, governador de São Paulo, que assim ironizou, em 26 de julho, as expectativas em torno de sua candidatura à reeleição a ser confirmada neste sábado (4) pelo PSB.
Ao assumir o Palácio dos Bandeirantes, em abril, o sucessor de Geraldo Alckmin (PSDB) dividiu o grupo que governou o estado nos últimos 24 anos.
Os atritos começaram quando, sem acordo, o palanque de Alckmin virou um campo minado entre França, seu vice, e João Doria (PSDB), que o presidenciável tucano apadrinhou na eleição municipal de 2016.
Acercando-se de deputados estaduais desde 2017, Doria aglutinou um grupo de parlamentares que migrou para a oposição ferrenha ao Bandeirantes.
Presidida por Cauê Macris, um dos principais aliados do ex-prefeito, a Assembleia Legislativa está paralisada. De modo inédito, os deputados não tiveram recesso em julho porque não houve acordo que desemperrasse a Lei de Diretrizes Orçamentárias. O texto já contempla propostas de governo de França, caso continue no cargo em 2019.
Doria começou a polarizar com França ao cunhar o apelido Márcio Cuba. A guerra fria entre os dois continuará. O pessebista elegeu o ex-prefeito como principal adversário na tentativa de levar a disputa para o segundo turno. Sob o slogan “São Paulo confia”, ele irá explorar a rejeição a Doria pela renúncia à Prefeitura e dizer que, ao contrário do tucano, o eleitor pode confiar no pessebista.
Mais do que o tucano, França avalia que seu grande adversário é mesmo o desconhecimento. Ele fica em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, entre 5% e 8%, atrás de Doria e Skaf.
Tentou driblar o anonimato em duas oportunidades: no Dia das Mães, quando homenageou a PM que atirou em um assaltante, e na greve dos caminhoneiros, quando buscou protagonismo nas negociações para encerrar o levante.
Também levantou a bandeira da proteção animal —e se indispôs com o agronegócio— ao sancionar a proibição da caça e declarar apoio a projeto de lei que proíbe o embarque de bois vivos.
Sobre a greve dos caminhoneiros, França costuma contar uma conversa que teve com Michel Temer (MDB) no auge da crise, em maio. “Márcio, será que a gente consegue resolver?”, teria lhe perguntado o presidente.
“Presidente, se o senhor que é presidente da República tiver dúvida de que vai resolver, quem é que vai resolver?”, relata o pessebista.
Filiado há 30 anos ao PSB,partido de médio porte, França se aliou a 14 legendas, boa parte delas nanicas. A costura junta de PPS a PHS e, até agora, garante espaço em São Paulo para os presidenciáveis Alvaro Dias (Podemos) e Ciro Gomes (PDT), além do apoio indisfarçável a Alckmin.
Diferente de seu antecessor, abriu as portas do gabinete para receber prefeitos, deputados e demais aliados políticos, em encontros dentro e fora da agenda oficial. Mudou as regras administrativas para agilizar o repasse de verbas e prometeu R$ 439 milhões aos municípios —pagou, em média, 20% de cada contrato.
A dedicação aos aliados foi uma maneira de fazer frente, em estrutura e tempo de TV, a seus principais oponentes, mais robustos: PSDB (com DEM, PR, PP, PRB e DC), PT, que lança Luiz Marinho coligado ao PC do B, e MDB, em voo solo com Paulo Skaf.
Com 20 inserções diárias, França terá espaço de propaganda semelhante ao do líder de mídia e de pesquisas, Doria. Usará o tempo para mostrar programas como a ampliação de vagas na Universidade Virtual do Estado de São Paulo (diz que vai acabar com o vestibular no estado) e o alistamento civil de jovens de 16 a 18 anos.
França tem reafirmado a lealdade ao antecessor. Seu entorno ainda discute como —e se— mostrará o tucano na propaganda, mas faz questão de lembrar o que Alckmin disse quando transmitiu o cargo, em 6 de abril: São Paulo estará “nas mãos firmes, experientes e honradas” de França.
Ele decidiria na sexta (3) com quem andará de mãos dadas. Os mais cotados: a coronel da PM Eliane Nikoluk (PR) como vice; no Senado, a exatleta Maurren Maggi (PSB) e o vereador paulistano Mario Covas Neto (Podemos).