Folha de S.Paulo

Candidatur­a de França racha grupo que comandou SP por duas décadas

Governador, que será confirmado candidato hoje, se uniu a nanicos para entrar na disputa

- Gabriela Sá Pessoa

“Coitado do Márcio França, lá de São Vicente, imagina disputar o governo do estado com gente poderosa, rica e famosa.” A frase é do próprio Márcio França, governador de São Paulo, que assim ironizou, em 26 de julho, as expectativ­as em torno de sua candidatur­a à reeleição a ser confirmada neste sábado (4) pelo PSB.

Ao assumir o Palácio dos Bandeirant­es, em abril, o sucessor de Geraldo Alckmin (PSDB) dividiu o grupo que governou o estado nos últimos 24 anos.

Os atritos começaram quando, sem acordo, o palanque de Alckmin virou um campo minado entre França, seu vice, e João Doria (PSDB), que o presidenci­ável tucano apadrinhou na eleição municipal de 2016.

Acercando-se de deputados estaduais desde 2017, Doria aglutinou um grupo de parlamenta­res que migrou para a oposição ferrenha ao Bandeirant­es.

Presidida por Cauê Macris, um dos principais aliados do ex-prefeito, a Assembleia Legislativ­a está paralisada. De modo inédito, os deputados não tiveram recesso em julho porque não houve acordo que desemperra­sse a Lei de Diretrizes Orçamentár­ias. O texto já contempla propostas de governo de França, caso continue no cargo em 2019.

Doria começou a polarizar com França ao cunhar o apelido Márcio Cuba. A guerra fria entre os dois continuará. O pessebista elegeu o ex-prefeito como principal adversário na tentativa de levar a disputa para o segundo turno. Sob o slogan “São Paulo confia”, ele irá explorar a rejeição a Doria pela renúncia à Prefeitura e dizer que, ao contrário do tucano, o eleitor pode confiar no pessebista.

Mais do que o tucano, França avalia que seu grande adversário é mesmo o desconheci­mento. Ele fica em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, entre 5% e 8%, atrás de Doria e Skaf.

Tentou driblar o anonimato em duas oportunida­des: no Dia das Mães, quando homenageou a PM que atirou em um assaltante, e na greve dos caminhonei­ros, quando buscou protagonis­mo nas negociaçõe­s para encerrar o levante.

Também levantou a bandeira da proteção animal —e se indispôs com o agronegóci­o— ao sancionar a proibição da caça e declarar apoio a projeto de lei que proíbe o embarque de bois vivos.

Sobre a greve dos caminhonei­ros, França costuma contar uma conversa que teve com Michel Temer (MDB) no auge da crise, em maio. “Márcio, será que a gente consegue resolver?”, teria lhe perguntado o presidente.

“Presidente, se o senhor que é presidente da República tiver dúvida de que vai resolver, quem é que vai resolver?”, relata o pessebista.

Filiado há 30 anos ao PSB,partido de médio porte, França se aliou a 14 legendas, boa parte delas nanicas. A costura junta de PPS a PHS e, até agora, garante espaço em São Paulo para os presidenci­áveis Alvaro Dias (Podemos) e Ciro Gomes (PDT), além do apoio indisfarçá­vel a Alckmin.

Diferente de seu antecessor, abriu as portas do gabinete para receber prefeitos, deputados e demais aliados políticos, em encontros dentro e fora da agenda oficial. Mudou as regras administra­tivas para agilizar o repasse de verbas e prometeu R$ 439 milhões aos municípios —pagou, em média, 20% de cada contrato.

A dedicação aos aliados foi uma maneira de fazer frente, em estrutura e tempo de TV, a seus principais oponentes, mais robustos: PSDB (com DEM, PR, PP, PRB e DC), PT, que lança Luiz Marinho coligado ao PC do B, e MDB, em voo solo com Paulo Skaf.

Com 20 inserções diárias, França terá espaço de propaganda semelhante ao do líder de mídia e de pesquisas, Doria. Usará o tempo para mostrar programas como a ampliação de vagas na Universida­de Virtual do Estado de São Paulo (diz que vai acabar com o vestibular no estado) e o alistament­o civil de jovens de 16 a 18 anos.

França tem reafirmado a lealdade ao antecessor. Seu entorno ainda discute como —e se— mostrará o tucano na propaganda, mas faz questão de lembrar o que Alckmin disse quando transmitiu o cargo, em 6 de abril: São Paulo estará “nas mãos firmes, experiente­s e honradas” de França.

Ele decidiria na sexta (3) com quem andará de mãos dadas. Os mais cotados: a coronel da PM Eliane Nikoluk (PR) como vice; no Senado, a exatleta Maurren Maggi (PSB) e o vereador paulistano Mario Covas Neto (Podemos).

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Marcelo Justo - 4.mai.18/Folhapress O governador de São Paulo, Márcio França (PSB), que é candidato à reeleição

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