Folha de S.Paulo

Flamenguis­ta supera pressão com conversa, estudos e resultados

Técnico mais jovem do Brasileiro, Maurício Barbieri, 36, conquista atletas com sinceridad­e e se mantém no topo

- Luiz Cosenzo

Estudioso, detalhista e transparen­te. Segundo pessoas que trabalham com Maurício Barbieri, 36, essas são as caracterís­ticas que fizeram o técnico do Flamengo superar o anonimato, a desconfian­ça dos torcedores e a pressão de dirigentes para ser efetivado como comandante do clube.

Aos 36 anos, ele é o treinador mais novo da Série A do Campeonato Brasileiro.

Barbieri assumiu o clube interiname­nte no final de março, logo após a demissão de Paulo César Carpegiani, que não conseguiu classifica­r o time para a final do Estadual do Rio. Em três meses, o técnico convenceu a parcela da diretoria que defendia a contrataçã­o de alguém mais experiente para ocupar o cargo.

Barbieri colocou o Flamengo nas oitavas de final da Libertador­es, classifico­u a equipe para as quartas da Copa do Brasil e assumiu a liderança do Brasileiro, o que não ocorria desde maio de 2011.

No total, já são 13 rodadas na ponta da competição.

A equipe carioca pode ampliar a marca neste sábado (4), quando enfrenta o Grêmio, às 19h, em Porto Alegre.

O time possui 34 pontos, contra 32 do vice-líder São Paulo, que enfrenta o Vasco no domingo (5), no Morumbi.

“De início não projetava uma ascensão tão rápida. É o maior desafio da minha carreira, e assumir com o apoio da torcida é um incentivo maior”, disse Barbieri, que foi contratado em janeiro para ser auxiliar na comissão técnica permanente do clube.

Diferentem­ente da maioria dos técnicos da elite do Brasileiro, ele não foi jogador profission­al. Filho de professora universitá­ria, trocou o sonho de jogar bola pelos estudos assim que foi aprovado na graduação em esporte na USP.

Aos 22 anos, ele se mudou para o Porto (POR) e estudou em uma universida­de local.

Pouco tempo depois, conseguiu estágio nas categorias de base do tradiciona­l time que leva o nome da cidade, na época dirigido por José Mourinho.

Ele teve pouco contato com o hoje badalado treinador do Manchester United, mas suficiente para aderir à metodologi­a de trabalho do português e tentar implantá-la em times brasileiro­s.

O seu melhor trabalho até então havia sido no Red Bull, quando chegou por dois anos consecutiv­os às quartas de final do Campeonato Paulista. Barbieri também trabalhou no Guarani, onde ficou apenas 35 dias, Desportivo Brasil e Audax Rio, quando conseguiu o acesso à primeira divisão do Rio de Janeiro.

“Apesar de ser novo, o Barbieri é uma pessoa muito inteligent­e. É perfeccion­ista, tem um trabalho de campo bem didático, em que mostra a situação real que vai acontecer no jogo. Ele também sempre escuta os jogadores para ter um feedback”, disse o ex-jogador Fumagalli, que trabalhou com ele no Guarani.

“Os resultados não encaixaram. Dominávamo­s a partida, finalizáva­mos a todo instante, mas tomávamos um gol e cedíamos o empate. Se ele tivesse um pouco mais de tempo, teria tido sucesso aqui”, afirmou Umberto Louzer, 39, atual treinador do time de Campinas e que foi auxiliar do hoje comandante do Flamengo.

O treinador do clube carioca é elogiado também pela transparên­cia com os atletas.

O trabalho “olho no olho” é apontado como um dos trunfos do seu sucesso no Flamengo. Quando assumiu, foi muito questionad­o sobre como seria colocar jogadores experiente­s na reserva.

Nos últimos jogos, Barbieri tem deixado o zagueiro Juan, 39, no banco de reservas. Léo Duarte, 22, virou titular.

“Achei que essa situação [inexperiên­cia] poderia atrapalhá-lo no Flamengo, mas a gente vê que todos gostam dele. Ele ganha a confiança dos atletas porque é um treinador honesto. Chama o jogador e conversa o porquê das mudanças, disse Edmilson, 35, ex-atacante de Vasco e Palmeiras e que trabalhou com Barbieri no Red Bull.

O mês de agosto será desafiador para que Barbieri permaneça com a confiança do elenco e da torcida. Nas próximas semanas, o time disputará vagas nas quartas de final da Libertador­es e na semifinal da Copa do Brasil.

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Ricardo Moreira/Fotoarena/Folhapress O técnico durante entrevista após sua apresentaç­ão no Palmeiras
 ??  ?? Maurício Barbieri, 36 Aos 22 anos, fez estágio nas categorias de base do Porto (POR), que era dirigido por José Mourinho. Ganhou a primeira oportunida­de no futebol brasileiro em 2004, quando trabalhou nas categorias de base do Audax São Paulo. Oito anos depois, obteve o acesso à primeira divisão do estadual com o Audax Rio. Dirigiu ainda Red Bull, Guarani e Desportivo Brasil antes de assumir o Flamengo.
Maurício Barbieri, 36 Aos 22 anos, fez estágio nas categorias de base do Porto (POR), que era dirigido por José Mourinho. Ganhou a primeira oportunida­de no futebol brasileiro em 2004, quando trabalhou nas categorias de base do Audax São Paulo. Oito anos depois, obteve o acesso à primeira divisão do estadual com o Audax Rio. Dirigiu ainda Red Bull, Guarani e Desportivo Brasil antes de assumir o Flamengo.

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