Registre por escrito as conversas com os prestadores de serviço
Maioria dos acordos para reparos na casa ainda é verbal, segundo entidades de defesa
Serviço mal feito e atraso na execução do trabalho são os grandes problemas enfrentados por quem contrata profissionais independentes para fazer reformas, consertos e manutenções em casa, segundo os registros dos órgãos de defesa do consumidor.
Muitas decepções após a prestação desses serviços podem ser evitadas, desde que o morador tome precauções antes da contratação e durante a execução do trabalho.
Registrar o combinado por escrito é um passo importante para reaver parte ou todo o pagamento em caso de prejuízo, dano ou insatisfação.
Já quando o trabalho é pequeno, não é necessário formalizar um contrato. A troca de emails, com detalhes do serviço pedido, é suficiente para munir quem contrata.
Atualmente, a maioria dos acordos de prestação de serviço ainda é verbal, segundo entidades de defesa.
O Código de Defesa do Consumidor obriga o profissional a refazer a tarefa ou a devolver o valor pago em caso de má prestação de serviço.
No caso de uma reforma, por exemplo, o Procon-SP aconselha o consumidor a partir para a quebradeira de fato apenas depois de saber especificamente quais mudanças deseja fazer. Isso facilita a busca por profissionais especializados, o que reduz as chances de insucesso.
Pedir cartas de recomendação e analisar o currículo de quem se pretende contratar é outro cuidado para evitar frustração e prejuízo.
A professora Cátia Primon, 50, conhece bem esses cenários. Durante a construção de sua casa, na zona norte de São Paulo, ela teve de substituir engenheiro e pedreiros —os últimos trocados quatro vezes—, por insatisfação e porque alguns deles abandonaram as obras sem explicação.
Além disso, teve de demolir o que havia sido mal feito e gastou dinheiro com a reposição de material desperdiçado.
Anos depois, Cátia voltou a ter problemas, desta vez com reformas que incluíam a troca de pisos e a ampliação da área da churrasqueira. A obra, prevista para ser entregue em 45 dias, se arrastou por 11 meses. O orçamento quase triplicou.
“Tive que interferir no trabalho e perguntaram se eu en- tendia de obra”, diz. “Foi uma frustração imensa.” Calejada, hoje a professora só paga por um serviço quando o recebe.
Essa tática é coerente com uma das recomendações do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) para quem vai mexer na casa. Segundo a entidade, vale dividir o pagamento dos serviços conforme as fases de execução. Em uma reforma, é aconselhável que o consumidor pague por cômodo concluído.
Isso porque são comuns reclamações sobre profissionais que alteram o cronograma do serviço, aumentando custos.
A tradutora Stephania Bongiovani Wagner, 41, acreditava que o marceneiro que trabalhava em sua casa era de total confiança. Quando viajou em lua de mel, entregou as chaves da casa para o profissional. Ao voltar, encontrou tudo de ponta-cabeça.
A reforma estava pela metade e havia materiais de construção espalhados pela casa e pelo jardim, que foi destruído e teve de ser concretado.
Além disso, Stephania percebeu que alguns de seus pertences haviam sumido, incluindo uma coleção de DVDs e uma camisa da seleção brasileira de seu marido autografada por Pelé.
Quando fez boletim de ocorrência contra o marceneiro, a tradutora descobriu que ele já havia aplicado golpes em outras pessoas. Nunca mais o encontrou.
O consumidor deve ficar atento, ainda, a preços abusivos, que costumam ocorrer em situações em que ele não tem muitas opções. Por exemplo os praticados por al- guns chaveiros ou desentupidoras 24 horas.
Um prestador que trabalha de madrugada não pode se aproveitar da oferta escassa para aumentar de maneira excessiva o custo de uma urgência. Caso haja suspeita de abuso, vale acionar entidades de defesa do consumidor.
Para o presidente licenciado do Sintracon (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo), Antônio Ramalho, prestadores de serviço deveriam passar por programas de certificação para aprimorar sua técnica e reduzir a insatisfação do cliente.
“Estamos em época de robotização. Se o homem não se qualificar, não vai mais achar esse tipo de vaga, que envolve mão de obra e trabalho braçal”, diz Ramalho.
Para o Idec, atrelar pagamentos às fases de execução da obra é uma maneira de evitar atrasos e gastos excedentes