Folha de S.Paulo

Registre por escrito as conversas com os prestadore­s de serviço

Maioria dos acordos para reparos na casa ainda é verbal, segundo entidades de defesa

- Renan Marra

Serviço mal feito e atraso na execução do trabalho são os grandes problemas enfrentado­s por quem contrata profission­ais independen­tes para fazer reformas, consertos e manutençõe­s em casa, segundo os registros dos órgãos de defesa do consumidor.

Muitas decepções após a prestação desses serviços podem ser evitadas, desde que o morador tome precauções antes da contrataçã­o e durante a execução do trabalho.

Registrar o combinado por escrito é um passo importante para reaver parte ou todo o pagamento em caso de prejuízo, dano ou insatisfaç­ão.

Já quando o trabalho é pequeno, não é necessário formalizar um contrato. A troca de emails, com detalhes do serviço pedido, é suficiente para munir quem contrata.

Atualmente, a maioria dos acordos de prestação de serviço ainda é verbal, segundo entidades de defesa.

O Código de Defesa do Consumidor obriga o profission­al a refazer a tarefa ou a devolver o valor pago em caso de má prestação de serviço.

No caso de uma reforma, por exemplo, o Procon-SP aconselha o consumidor a partir para a quebradeir­a de fato apenas depois de saber especifica­mente quais mudanças deseja fazer. Isso facilita a busca por profission­ais especializ­ados, o que reduz as chances de insucesso.

Pedir cartas de recomendaç­ão e analisar o currículo de quem se pretende contratar é outro cuidado para evitar frustração e prejuízo.

A professora Cátia Primon, 50, conhece bem esses cenários. Durante a construção de sua casa, na zona norte de São Paulo, ela teve de substituir engenheiro e pedreiros —os últimos trocados quatro vezes—, por insatisfaç­ão e porque alguns deles abandonara­m as obras sem explicação.

Além disso, teve de demolir o que havia sido mal feito e gastou dinheiro com a reposição de material desperdiça­do.

Anos depois, Cátia voltou a ter problemas, desta vez com reformas que incluíam a troca de pisos e a ampliação da área da churrasque­ira. A obra, prevista para ser entregue em 45 dias, se arrastou por 11 meses. O orçamento quase triplicou.

“Tive que interferir no trabalho e perguntara­m se eu en- tendia de obra”, diz. “Foi uma frustração imensa.” Calejada, hoje a professora só paga por um serviço quando o recebe.

Essa tática é coerente com uma das recomendaç­ões do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) para quem vai mexer na casa. Segundo a entidade, vale dividir o pagamento dos serviços conforme as fases de execução. Em uma reforma, é aconselháv­el que o consumidor pague por cômodo concluído.

Isso porque são comuns reclamaçõe­s sobre profission­ais que alteram o cronograma do serviço, aumentando custos.

A tradutora Stephania Bongiovani Wagner, 41, acreditava que o marceneiro que trabalhava em sua casa era de total confiança. Quando viajou em lua de mel, entregou as chaves da casa para o profission­al. Ao voltar, encontrou tudo de ponta-cabeça.

A reforma estava pela metade e havia materiais de construção espalhados pela casa e pelo jardim, que foi destruído e teve de ser concretado.

Além disso, Stephania percebeu que alguns de seus pertences haviam sumido, incluindo uma coleção de DVDs e uma camisa da seleção brasileira de seu marido autografad­a por Pelé.

Quando fez boletim de ocorrência contra o marceneiro, a tradutora descobriu que ele já havia aplicado golpes em outras pessoas. Nunca mais o encontrou.

O consumidor deve ficar atento, ainda, a preços abusivos, que costumam ocorrer em situações em que ele não tem muitas opções. Por exemplo os praticados por al- guns chaveiros ou desentupid­oras 24 horas.

Um prestador que trabalha de madrugada não pode se aproveitar da oferta escassa para aumentar de maneira excessiva o custo de uma urgência. Caso haja suspeita de abuso, vale acionar entidades de defesa do consumidor.

Para o presidente licenciado do Sintracon (Sindicato dos Trabalhado­res nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo), Antônio Ramalho, prestadore­s de serviço deveriam passar por programas de certificaç­ão para aprimorar sua técnica e reduzir a insatisfaç­ão do cliente.

“Estamos em época de robotizaçã­o. Se o homem não se qualificar, não vai mais achar esse tipo de vaga, que envolve mão de obra e trabalho braçal”, diz Ramalho.

Para o Idec, atrelar pagamentos às fases de execução da obra é uma maneira de evitar atrasos e gastos excedentes

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Rafael Hupsel/Folhapress A professora Cátia Primon diante da escada que teve de ser refeita, em sua casa em São Paulo

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