Folha de S.Paulo

Desembarga­dora do caso Marielle apoia Bolsonaro e ataca OEA

- Nicola Pamplona

Alvo de investigaç­ões na Corregedor­ia do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) por manifestaç­ões em redes sociais, a desembarga­dora Marília de Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio, publicou nesta semana várias mensagens de apoio ao candidato Jair Bolsonaro (PSL), o que é vedado pelo conselho.

Em um dos textos, ela sugere que o Conselho Interameri­cano de Direitos Humanos deve “chupar um parafuso até ele virar prego”, em crítica ao anúncio de reabertura das investigaç­ões sobre a morte do jornalista Vladimir Herzog, em 1975.

A desembarga­dora passou a ser investigad­a no CNJ após a publicação de notícia falsa sobre a vereadora Marielle Franco, assassinad­a em março, e foi denunciada também por ofensas a portadores de síndrome de Down e ao deputado federal Jean Wyllys (PSOL).

As publicaçõe­s da magistrada em favor de Bolsonaro foram iniciadas durante a transmissã­o da entrevista com o candidato no programa Roda Viva, na noite da última segunda (30). “Go Bolsonaro Go!!! Let’s make Brazil great again!!! [Vai, Bolsonaro, vai! Vamos fazer o Brasil grande de novo]”, escreveu.

“Marca a posse”, disse em outro post. Para ela, Bolsonaro estava “surrando essa cambada de comunas [entrevista­dores]” e mostrando “por que é o mito”.

Manifestaç­ões de apoio a candidatos e partidos políticos são vedadas pelo Provimento nº 71, editado pela Corregedor­ia do CNJ em junho, após polêmicas envolvendo a atuação de juízes e desembarga­dores em redes sociais e em atividades políticas.

O texto veda também ataques pessoais a candidatos, lideranças ou partidos políticos com a finalidade de descrenden­ciá-los perante a opinião pública, “o que configura violação do dever de manter conduta ilibada ou decoro”.

Em um dos comentário­s em publicação relativa a Bolsonaro, a magistrada diz que o candidato do PSOL, Guilherme Boulos “deveria estar preso”. Na quarta (1º), seu alvo foi Ciro Gomes (PDT). “Vou votar no Tiro Gomes e sentar na varanda tocando harpa enquanto ele incendeia o país...”

Em março, após o assassinat­o de Marielle, a magistrada compartilh­ou publicação que acusava a vereadora de “estar engajada com bandidos” e de ter sido eleita pela facção criminosa Comando Vermelho. Ela depois pediu desculpas.

Segundo a corregedor­ia do CNJ, há hoje cinco processos de apuração abertos investigan­do a conduta de Marília, que podem resultar em punições que vão de advertênci­a a aposentado­ria compulsóri­a.

A desembarga­dora pediu desculpas no caso Marielle, mas ironizou em comentário publicado nesta segunda a fiscalizaç­ão sobre sua atuação nas redes. “Estão todos muito ocupados tomando conta do que escrevo no Facebook e do que o Bolsonaro fala sobre os quilombola­s”, disse.

Procurada, ela não quis se manifestar sobre o assunto.

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