Folha de S.Paulo

No Congresso, PSDB e centrão votam juntos e com Temer

PSDB e partidos aliados a Alckmin na disputa presidenci­al raramente divergiram após impeachmen­t

- Ricardo Balthazar

PSDB e siglas do centrão que se aliaram aos tucanos na corrida presidenci­al votaram quase sempre juntos, e a favor de projetos apoiados pelo governo, após a chegada de Michel Temer (MDB) ao poder.

É o que indica levantamen­to da Folha nas principais votações do Congresso nesse período.

Integrante­s do PSDB e dos partidos que se aliaram aos tucanos na corrida presidenci­al votaram quase sempre juntos e a favor de projetos apoiados pelo governo no Congresso após a chegada do presidente Michel Temer (MDB) ao poder, há dois anos.

Levantamen­to feito pela Folha nos registros das principais votações do período mostra que as bancadas desses partidos, dos quais cinco se aglutinam no bloco conhecido como centrão, raramente divergiram da orientação de suas lideranças e do governo.

Esse comportame­nto indica que os tucanos e seus aliados têm mantido grau elevado de disciplina partidária e coesão ideológica em sua atuação parlamenta­r, ao contrário do que sugerem críticas dirigidas à aliança construída pelo candidato do PSDB à Presidênci­a, Geraldo Alckmin.

Segundo o Banco de Dados Legislativ­os do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamen­to), em média 88% dos congressis­tas do PSDB votaram com o governo desde o impeachmen­t de Dilma Rousseff (PT) e a posse de Temer.

Nas bancadas dos oito partidos alinhados com Alckmin (DEM, PP, PPS, PR, PRB, PSD, PTB e SD), o apoio ao presidente variou entre 83% e 89%. Todos esses partidos ocuparam cargos no governo. Com exceção do Solidaried­ade, cada um ganhou um ministério.

Críticos da aliança que sustenta o presidenci­ável tucano temem que ela o torne refém de grupos contrários ao equilíbrio das contas públicas e pressões corporativ­as, como a dos sindicatos de trabalhado­res ligados ao Solidaried­ade.

Mas a atuação desses partidos no Congresso mostra que as diferenças entre eles foram pontuais nos últimos anos. A maioria dos integrante­s do Solidaried­ade votou contra a reforma trabalhist­a no ano passado, mas se alinhou com as outras siglas em outros temas.

O PRB foi contra a criação de um cadastro positivo para devedores neste ano, mas os outros votaram a favor. Questões regionais provocaram defecções na votação do projeto que autorizou a privatizaç­ão de distribuid­oras da Eletrobras, mas a maioria apoiou o governo nesse caso também.

Os tucanos e seus aliados jogaram juntos mesmo quando contrariar­am o presidente. No mês passado, o PSDB e todos os partidos que apoiam a candidatur­a de Alckmin contribuír­am para derrubar o veto que Temer queria impor a novos reajustes salariais de servidores no próximo ano.

“Esses partidos vão apoiar o governo que for eleito e o programa que o novo governo quiser implementa­r, seja quem for o vencedor”, diz o cientista político Fernando Limongi, professor da Universida­de de São Paulo. “Eles não terão como sobreviver se não fizerem parte do governo.”

Quando o acordo com o centrão foi selado, o Solidaried­ade decidiu manter o apoio a Alckmin mesmo depois de o tucano deixar claro que não está disposto a rediscutir o fim do imposto sindical, extinto pela reforma trabalhist­a.

“O apoio desses partidos pode servir como alavanca para um governo reformista, e o fato de isso ter sido feito com antecedênc­ia pode ajudar”, diz o deputado Rogério Marinho (PSDB-RN), que foi relator da reforma trabalhist­a.

Mas nada garante que Alckmin terá vida fácil no Congresso se for eleito. Nas discussões da reforma da Previdênci­a, que o governo Temer deixou de lado no início do ano, aliados do Palácio do Planalto identifica­ram grande resistênci­a à proposta no PR, a terceira maior força do centrão.

Patrocinad­o por um senador do PR numa comissão do Congresso, um projeto de lei que compensa perdas sofridas pelos estados com benefícios fiscais concedidos a exportador­es pode custar R$ 39 bilhões ao próximo governo.

Em julho, quando o Senado contrariou o governo ao aprovar a manutenção de benefícios tributário­s para indústrias de refrigeran­tes, os tucanos e seus aliados se separaram, porque alguns estados temem perder receitas com a medida.

“Apesar das diferenças em algumas votações, o comportame­nto desses partidos tem sido muito parecido”, diz Cesar Zucco, professor da FGV. “O PSDB se inclinou do centro para a direita nos últimos anos e ficou mais parecido com os partidos do centrão.”

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