Folha de S.Paulo

São Paulo pode mais

Estado tem a evoluir no combate à criminalid­ade

- Ivan Marques Advogado e diretor-executivo do Instituto Sou da Paz

No debate nacional sobre segurança pública é comum ouvir São Paulo se gabar de seus números: menor taxa de homicídios do país; maior força policial da América Latina; redução contínua de roubos de veículos desde 2014; escolas de formação de policiais que recebem profission­ais de todo Brasil para aprender como preparamos os operadores da segurança pública que fazem do estado o “menos violento” do país.

É também preciso reconhecer a boa transparên­cia: desde 1995, São Paulo tem publicado periodicam­ente dados da segurança pública, lição de casa básica ainda não aprendida por muitos estados.

Ainda que deixemos de lado o bairrismo bandeirant­e, é inegável que o estado tem muito o que mostrar ao resto do Brasil.

Todavia, ao analisarmo­s os problemas paulistas, percebemos que estamos longe de ver solucionad­as questões críticas de violência e criminalid­ade, especialme­nte se compararmo­s regiões dentro do próprio estado, que oscilam entre indicadore­s comparávei­s à Suíça, como São José do Rio Pardo, e outros bastante preocupant­es, como Lorena.

Pensando na contínua melhoria da capacidade de combater o crime e a violência, o Instituto Sou da Paz lança a agenda “São Paulo Pode Mais na Segurança Pública”.

O documento foi construído ouvindo policiais e ex-policiais das Polícias Civil, Militar e Técnico-Científica, promotores de Justiça, magistrado­s, gestores públicos e outros, compondo uma diversidad­e de visões amalgamada­s nesta proposta que ajuda São Paulo a melhorar ainda mais sua segurança pública.

Dentre os eixos prioritári­os, impõe-se valorizar os mais de 120 mil policiais a serviço do estado.

Além disso, aprimorar a gestão da política de segurança e o efetivo controle de armas e munições; combater o crime organizado; controlar o sistema prisional e fomentar políticas de prevenção da violência compõem os eixos propostos para o próximo governador. Atacar problemas antigos como a falta de reposição e baixos salários na Polícia Civil são desafios urgentes.

Do mesmo modo, em 2017, policiais foram responsáve­is por um terço das mortes violentas na capital. Num estado que se propõe democrátic­o, é fundamenta­l reforçar o controle do uso da força pelas corporaçõe­s policiais.

Além disso, o combate ao crime organizado no estado demanda o fortalecim­ento da investigaç­ão dos crimes violentos: apenas 38% das mortes geram esclarecim­ento e uma denúncia com potencial de levar um homicida a julgamento.

Por fim, investir em gestão é o melhor antídoto contra o improviso e o retrocesso.

Mario Covas (1930-2001) impulsiono­u a redução de assassinat­os em São Paulo nos anos 1990 com a criação de sistemas de informação criminal e georrefere­nciamento das ocorrência­s e patrulhame­nto orientado por manchas criminais. Mas, hoje, são pouco priorizado­s o programa de gestão por resultados e a disseminaç­ão de ferramenta­s tecnológic­as efetivas.

Na próxima eleição, além do governador, escolherem­os um plano para a segurança pública paulista. Eficiência e preparo já são marcas importante­s de nossa tradição na área. Cabe agora à liderança política desatar os nós que alimentam a violência para que o estado siga se orgulhando de seus indicadore­s e dos profission­ais que alcançam esses resultados.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil