Folha de S.Paulo

Radicalism­o afasta parte dos evangélico­s, afirmam líderes

- Bernardo Caram e Talita Fernandes

Porta-voz de bandeiras conservado­ras, Jair Bolsonaro (PSL) teria alto potencial de atração do voto evangélico, não fossem suas posições mais radicais, avaliam lideranças de igrejas. De olho nesse eleitorado, o presidenci­ável tentou firmar uma aliança com o PR de Valdemar Costa Neto para garantir como vice o senador Magno Malta (ES), que é pastor e cantor gospel.

Os planos de Bolsonaro naufragara­m com a negativa do PR, que formou bloco com DEM, PP e SD e oficializo­u apoio ao tucano Geraldo Alckmin. Apesar da decisão de seu partido, Malta seguirá apoiando a candidatur­a do deputado do PSL. Ele nega a existên- cia de uma estratégia específica para aproximar Bolsonaro desse público, mas diz que há uma convergênc­ia natural.

“As pautas que nós defendemos, que Bolsonaro defende, são as pautas que os evangélico­s também defendem.”

De criação católica, Bolsonaro construiu relações com a igreja evangélica. Além de ter filhos com formação batista, o deputado foi batizado em 2016 em Israel pelo pastor Everaldo (PSC) e teve seu último casamento celebrado por Silas Malafaia, um mais aguerridos defensores de sua candidatur­a. “Acredito que de 70% a 80% de evangélico­s vão votar em Bolsonaro”, disse o pastor.

Pesquisa Datafolha feita em junho, porém, mostra o deputado com 17% entre os evangélico­s, contra 28% de Lula (PT). O apoio é tecnicamen­te igual ao dado a ele por católicos ou pessoas sem religião.

Para o pastor Luiz Roberto Silvado (Convenção Batista Brasileira), ao levantar bandeiras conservado­ras, Bolsonaro atrai parte da população, independen­temente do credo. Mas ele também é lembrado por episódios de radicalism­o.

O deputado ainda é contrário ao desarmamen­to, o que colide com parte das lideranças religiosas. “Ele perde muita gente por causa do radicalism­o. Há uma forte influência pacifista no meio evangélico.”

Para o bispo Robson Rodovalho (Sara Nossa Terra), o tema não gera conflito com o segmento. “O evangélico, como toda a sociedade atual, está extremamen­te indignado com a violência e a inoperânci­a do Estado”. Malafaia disse acreditar que até seria bom Bolsonaro moderar o discurso, mas valores relacionad­os à formação da família são mais fortes para esse público.

Para o apóstolo Cesar Augusto (Igreja Apostólica Fonte da Vida), as posições de Bolsonaro têm o poder de atrair e repelir o eleitor evangélico ao mesmo tempo. “Pode até ser brincadeir­a, mas é de mau gosto ele colocar crianças se posicionan­do como se estivesse com uma arma na mão.”

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