Radicalismo afasta parte dos evangélicos, afirmam líderes
Porta-voz de bandeiras conservadoras, Jair Bolsonaro (PSL) teria alto potencial de atração do voto evangélico, não fossem suas posições mais radicais, avaliam lideranças de igrejas. De olho nesse eleitorado, o presidenciável tentou firmar uma aliança com o PR de Valdemar Costa Neto para garantir como vice o senador Magno Malta (ES), que é pastor e cantor gospel.
Os planos de Bolsonaro naufragaram com a negativa do PR, que formou bloco com DEM, PP e SD e oficializou apoio ao tucano Geraldo Alckmin. Apesar da decisão de seu partido, Malta seguirá apoiando a candidatura do deputado do PSL. Ele nega a existên- cia de uma estratégia específica para aproximar Bolsonaro desse público, mas diz que há uma convergência natural.
“As pautas que nós defendemos, que Bolsonaro defende, são as pautas que os evangélicos também defendem.”
De criação católica, Bolsonaro construiu relações com a igreja evangélica. Além de ter filhos com formação batista, o deputado foi batizado em 2016 em Israel pelo pastor Everaldo (PSC) e teve seu último casamento celebrado por Silas Malafaia, um mais aguerridos defensores de sua candidatura. “Acredito que de 70% a 80% de evangélicos vão votar em Bolsonaro”, disse o pastor.
Pesquisa Datafolha feita em junho, porém, mostra o deputado com 17% entre os evangélicos, contra 28% de Lula (PT). O apoio é tecnicamente igual ao dado a ele por católicos ou pessoas sem religião.
Para o pastor Luiz Roberto Silvado (Convenção Batista Brasileira), ao levantar bandeiras conservadoras, Bolsonaro atrai parte da população, independentemente do credo. Mas ele também é lembrado por episódios de radicalismo.
O deputado ainda é contrário ao desarmamento, o que colide com parte das lideranças religiosas. “Ele perde muita gente por causa do radicalismo. Há uma forte influência pacifista no meio evangélico.”
Para o bispo Robson Rodovalho (Sara Nossa Terra), o tema não gera conflito com o segmento. “O evangélico, como toda a sociedade atual, está extremamente indignado com a violência e a inoperância do Estado”. Malafaia disse acreditar que até seria bom Bolsonaro moderar o discurso, mas valores relacionados à formação da família são mais fortes para esse público.
Para o apóstolo Cesar Augusto (Igreja Apostólica Fonte da Vida), as posições de Bolsonaro têm o poder de atrair e repelir o eleitor evangélico ao mesmo tempo. “Pode até ser brincadeira, mas é de mau gosto ele colocar crianças se posicionando como se estivesse com uma arma na mão.”