Folha de S.Paulo

Vagas de altos salários empacam no mutirão em SP

- Larissa Quintino

Vagas para gerência e especialis­tas foram a novidade do segundo mutirão de emprego promovido pelo Sindicato dos Comerciári­os de São Paulo, na região central da capital paulista, porém postos com salários de até R$ 8.000 tiveram baixa procura.

Segundo o sindicato, 5.500 pessoas comparecer­am ao evento nesta segunda-feira (6).

A Unifisa, empresa de consórcios, levou ao mutirão 50 vagas para vendedor externo, para as quais exigia ensino superior completo.

Até as 11h, apenas três candidatos com ensino superior haviam sido encaminhad­os, mas nenhum com foco em vendas. No fim do dia, a empresa agendou dinâmica de grupo com 20 trabalhado­res e marcou oito entrevista­s.

“Esperávamo­s maior procura no início do dia, mas o resultado final foi satisfatór­io. Foi nossa primeira experiênci­a em um evento de seleção como esse”, disse o gerente comercial da Unifisa, André Zena.

O Grupo IMC, das redes Brunella, Viena e Frango Assado, tinha 11 posições para cargos com ensino superior —gerente de lojas e nutricioni­sta—, porém não recebeu nenhum currículo para essas vagas.

A mesa situação vale para a C&C. Dos currículos recebidos, nenhum foi para gerência, apenas para cargos operaciona­is.

Procuradas, as empresas não se manifestar­am sobre a participaç­ão no evento.

A IBM, que buscava analistas de suporte ao cliente, não divulgou o número de vagas. Segundo a organizaçã­o do evento, 70 currículos foram recebidos pela empresa.

Segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desemprega­dos), do Ministério do Trabalho, 79.538 cargos de chefia foram fechados no primeiro semestre de 2018.

O especialis­ta em recursos humanos Renato Grinberg afirma que há resistênci­a entre os mais qualificad­os para buscar vagas em eventos como o do sindicato.

“Ainda existe uma certa vergonha das pessoas de se expor e procurar emprego em um mutirão”, diz.

O sindicato abriu também participaç­ão para outros setores, como o de serviço. Os salários são a partir de R$ 1.200.

O maior número de oportunida­des, 2.000, era para operador de telemarket­ing. No total, foram 4.000 vagas de 26 empresas. Nesta segunda, 1.800 pessoas foram atendidas. O restante voltará durante a semana.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a), 12,9 milhões de brasileiro­s estavam desemprega­dos no segundo trimestre.

Para tentar deixar a estatístic­a, o músico Glehison Thiales, 24, fez do Viaduto do Chá a sua casa. Ele foi o primeiro a chegar à fila, no sábado (4).

Thiales saiu de Chapecó (SC) em busca de um emprego. O jovem, que está há quatro anos sem carteira assinada, decidiu largar tudo e tentar a vida na capital paulista.

Ele veio para São Paulo com apenas R$ 250, o valor da passagem. “Aceito qualquer oportunida­de. Já trabalhei em atendiment­o, de servente de pedreiro. Desta vez, se tiver de escolher, prefiro algo no comércio, porque serviço de servente é muito pesado.”

A auxiliar de loja Valéria de Oliveira, 34, chegou no domingo, às 19 h, à fila do mutirão. Demitida na semana passada, ela usou o primeiro dia do desemprego para procurar uma vaga.

“Trabalho 15 anos em mercado, acho que isso me qualifica como uma boa candidata”, diz. Oliveira foi ao mutirão acompanhad­a da amiga, a segurança Priscila da Fonte, 35.

Desemprega­da há seis meses, Fonte também é mãe de três filhos e quer uma recolocaçã­o em sua área, mas aceita qualquer vaga. “O que for possível para me recolocar, me restabelec­er e começar a sonhar novamente”, afirma.

O casal Mailson Celso de França, 29, e a mulher Alcineia Araújo Gouveia, 38, chegou por volta das 22h de domingo ao Viaduto do Chá.

Sem carteira assinada desde 2013, França diz que conseguir emprego fixo depois de tanto tempo “chega a ser melhor que sonho”.

Gouveia, que está sem emprego há um ano, afirma que não foi fácil passar a noite de pé, no frio e longe das filhas, de 14 e 2 anos.

“A gente não tem escolha. Como sou mais velha, tenho medo de não conseguir. Falei para ele que vamos arranjar emprego e sair só aposentado­s.”

“Ainda existe uma certa vergonha das pessoas de se exporem e procurarem emprego em um mutirão Renato Grinberg especialis­ta em recursos humanos

“Aceito qualquer oportunida­de. Já trabalhei em atendiment­o, de servente de pedreiro. Desta vez, se tiver de escolher, prefiro algo no comércio, porque serviço de servente é muito pesado Glehison Thiales músico

 ?? Zanone Fraissat/Folhapress ?? Fila sob o Viaduto do Chá, no centro de São Paulo, para o segundo mutirão do emprego; sindicato calculou 5.500 candidatos
Zanone Fraissat/Folhapress Fila sob o Viaduto do Chá, no centro de São Paulo, para o segundo mutirão do emprego; sindicato calculou 5.500 candidatos
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UMA CHANCE Mãe de três filhos, a segurança Priscila da Fonte está há seis meses sem emprego e aceita qualquer oportunida­de
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Fotos Rivaldo Gomes/Folhapress CHAPECÓ PARA TRÁS O músico Glehison Thiales chegou ao Viaduto do Chá na noite de sábado, vindo de Chapecó; foi o primeiro da fila
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PRESSA NA PROCURA Auxiliar de loja, Valéria de Oliveira chegou ao mutirão às 19h de domingo (5); ela foi demitida na semana passada

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