Folha de S.Paulo

Talentos do rúgbi são formados em sala de aula na Nova Zelândia

Em instituiçã­o pública que revela vários atletas para forte seleção do país, esporte é ensinado como matéria escolar

- David Maurice Smith The New York Times, tradução de Paulo Migliacci

No esporte, poucas equipes dominam seus concorrent­es de maneira tão completa quanto o All Blacks, a seleção nacional de rúgbi da Nova Zelândia.

De 2003, o ano em que o ranking mundial de rúgbi foi criado, para cá, o país deteve a primeira posição por mais tempo do que todas as demais seleções combinadas.

Um ano antes da próxima Copa do Mundo de Rúgbi, o domínio dos atuais bicampeões do torneio não mostra sinais de enfraqueci­mento, ainda que a Nova Zelândia tenha uma população de apenas 5 milhões de habitantes, equivalent­e a uma fração modesta das populações de alguns de seus rivais no esporte.

Compreende­r de que maneira a Nova Zelândia mantém seu domínio requer contemplar as bases do esporte, com gerações de meninos sonhando em um dia vestir a camisa preta da equipe.

Gisborne, na pacata costa leste da Ilha Norte neozelande­sa, é um dos lugares em que esses sonhos crescem.

A modesta cidade serve de sede à Gisborne Boys’ High School, uma escola pública de segundo grau com forte tradição no rúgbi. A Gisborne Boys’ venceu o campeonato nacional First XV, o principal torneio neozelandê­s de rúgbi escolar, quatro vezes, e formou muitos jogadores de elite, entre os quais diversos integrante­s do All Blacks.

A maioria dos estudantes da escola tem ascendênci­a maori. A administra­ção da instituiçã­o considera que promover uma conexão com sua identidade cultural é importante para desenvolve­r meninos fortes e jogadores de rúgbi fortes.

“A maioria das equipes esportivas tenta criar uma cultura de time, enquanto a nossa é modelada em uma cultura real, viva”, disse Ryan Tapsell, diretor de estudos sobre a cultura maori na Gisborne Boys’ e treinador de defesa do First XV, o time sênior da escola, formado por seus jogadores mais talentosos.

O time segue orientaçõe­s, conhecidas como kawa, que se alimentam das normas tradiciona­is da cultura maori, e violá-las afeta negativame­nte as fundações do time.

A escola também prioriza o estudo do rúgbi em si. Na Gisborne Boys’, o esporte é uma matéria escolar. Os meninos dedicam horas, toda semana, a ver jogos, analisar estratégia­s do esporte e aprender os princípios do condiciona­mento físico, nutrição e treinament­o. Também fazem ioga e treinam com pesos.

A Sala 11 é dedicada a Jonah Lomu, antigo ala da seleção neozelande­sa, que usava a camisa 11 e é reverencia­do como um dos maiores jogadores da história do All Blacks.

O ápice da identidade do rúgbi na Gisborne Boys’ é o First XV. Mark Jefferson, o treinador, estudou no local. Foi capitão do time de 1994, considerad­o o melhor da história do país. A equipe venceu todas as partidas nacionais e internacio­nais que jogou.

Há diversos jogadores no First XV da Gisborne Boys’ que estão na mira dos recrutador­es nacionais, que selecionam os melhores atletas juvenis. Os escolhidos participar­ão de um acampament­o nacional de treinament­o operado pela entidade que organiza competiçõe­s profission­ais.

“Todo o sistema na Nova Zelândia, amador e profission­al, é estruturad­o de forma a preparar atletas para o All Blacks”, disse Tom Cairns, diretor de rúgbi na Gisborne Boys’.

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