Folha de S.Paulo

Existe mulher que não reclama?

No casamento, buscar 100% de felicidade talvez não compense

- Mirian Goldenberg Antropólog­a e professora da Universida­de Federal do Rio, é autora de “A Bela Velhice”.

Nos casamentos que tenho pesquisado, as mulheres se mostram muito mais insatisfei­tas do que os homens. Elas falam de incontávei­s faltas em seus relacionam­entos: de reconhecim­ento, escuta, atenção, conversa, intimidade, elogios, romance, beijo na boca etc. Algumas dizem que “falta tudo”. Já os homens se queixam, principalm­ente, de falta de compreensã­o, cuidado e carinho.

Um engenheiro de 62 anos inventou uma regra divertida para lidar com as insatisfaç­ões conjugais.

Ele disse que a esposa vivia se comparando com outros casais. “Ela invejava os casamentos das amigas, acreditava em maridos perfeitos, verdadeiro­s príncipes encantados sem defeitos.” A maior queixa da esposa era que ele é um “bicho do mato”.

Quando a esposa reclamou, “pela enésima vez”, que ele sempre queria ficar em casa, que não gostava de sair com os amigos e família e que odiava festas e encontros sociais, ele reagiu: “É verdade: gosto de ficar em casa lendo jornal, vendo filmes e futebol. É a minha natureza. Mas me responde uma coisa: Você é feliz comigo? A maior parte do tempo eu te faço feliz? Quanto você é feliz comigo?”

Depois de pensar um pouco, ela respondeu: “98%”.

Ele então argumentou: “Então esquece os 2% que faltam, porque nenhum casamento é perfeito, não existe mulher 100% feliz e satisfeita”.

Ele disse que o casamento melhorou muito. “Em vez de brigar e discutir a relação o tempo todo, ela aprendeu a dar risadas das bobagens que costumavam lhe irritar. A regra dos 98% ensina a não focar nas faltas do outro, mas em tudo que existe de positivo e prazeroso no casamento. Ela abandonou as fantasias infantis de perfeição.”

Mesmo que a sua porcentage­m não seja tão alta quanto 98%, você consegue dimensiona­r o quanto se sente feliz com seu parceiro? E avaliar se a balança do amor está mais pesada no prato da felicidade ou no prato da insatisfaç­ão?

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