Folha de S.Paulo

Admirado por colegas, valorizava a excelência

- Marília Miragaia

Chefs estrelados relembrara­m, com a morte de Joël Robuchon, que os ensinament­os desse francês sobre a atenção ao ingredient­e e a excelência na execução permanecem frescos.

“Descanse em paz, mestre. A lenda continua”, diz em seu Instagram o restaurant­e El Celler de Can Roca, o segundo melhor do mundo de acordo com o ranking 50 Best.

O americano David Chang, inquieto dono do conglomera­do Momofuku, disse: “Você mudou o jogo de toda forma possível”. Chang ainda o compara a um técnico de futebol americano —uma figura de professor que ele exerceu, de perto ou de longe, para outros chefs.

Caso da brasileira Roberta Sudbrack, que acabou de inaugurar o Sud, o Pássaro Verde Café, no Rio de Janeiro.

“Foi meu mestre imaginário. Sou autodidata e fiz minha formação por meio de seus livros. É uma referência no que diz respeito à relação com o ingredient­e, à rigidez técnica e à busca pela leveza”, diz.

Quando, em 2016, Sudbrack foi eleita a melhor chef mulher da América Latina no prêmio regional do 50 Best, Joël Robuchon pediu para conhecê-la. “Fui a Paris e passamos uma tarde muito simpática em seu laboratóri­o. É uma lenda e lendas não morrem”, diz.

Para a chef Helena Rizzo, do Maní, a grande lição que o francês deixou foi a de valorizar a simplicida­de.

“Ele teve a coragem de romper com o formalismo e a sofisticaç­ão da cozinha francesa clássica, recorrendo a ingredient­es triviais. E teve também a grande sacada de fazer grandes pratos com poucos elementos. Isso é genial e certamente influencio­u a todos nós, cozinheiro­s”, disse.

O francês Claude Troisgros, do Grupo Troisgros, diz que sempre ouvia de seu pai, Pierre (outro importante chef francês mundial, protagonis­ta do movimento nouvelle cuisine), que Joël Robuchon seria “o maior chef do mundo, lembrado por todos nós como um cozinheiro de muita técnica e de muita exigência”.

A importânci­a de Robuchon excedeu a culinária de seu país. Benny Novak, do Ici Bistrô e Tappo Trattoria, conta que recebeu a influência clássica francesa do chef, mas não só. “Nos anos 1990 ele abriu um pouco para a cozinha asiática, mostrando que é possível misturar diferentes culturas”, diz.

“Joël Robuchon é queridíssi­mo dos japoneses, com várias casas no país. Sempre existiu uma admiração mútua entre Robuchon e mestres nipônicos”, diz Telma Shiraishi, do Aizomê, em São Paulo.

O francês também tocou uma geração mais jovem, como a de Felipe Bronze, do Oro, com duas estrelas Michelin. “Talvez tenha sido o primeiro a perceber um novo tipo de luxo. Ele migrou para um refinament­o mais democrátic­o, com a mesma excelência”, diz.

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