Folha de S.Paulo

Artistas criticam mudança em fomento municipal

- Maria Luísa Barsanelli

Um parecer da Prefeitura de São Paulo que altera a interpreta­ção da Lei de Fomento ao Teatro tem sido alvo de críticas da classe artística, que alega que a medida aparelhari­a o processo de escolha de projetos e descaracte­rizaria o edital municipal.

Criado há 16 anos e vinculado à Secretaria Municipal de Cultura, o Fomento é destinado a programas de pesquisa contínua e de produção teatral. Foi uma das ferramenta­s que ajudaram alavancar o teatro de grupo paulistano.

A cada semestre, o edital contempla até três dezenas de projetos inscritos. O total de recursos é de R$ 8,5 milhões, mas cada proposta não pode receber mais de R$ 1 milhão.

A comissão julgadora é composta de sete membros, que mudam a cada edição. A secretaria indica quatro nomes, e os outros três são eleitos por voto da sociedade —geralmente, dos próprios artistas.

O parecer da prefeitura, datado de 30 de julho, foi publicado após um pedido enviado pela Rede de Teatros e Produtores Independen­tes São Paulo e outras três entidades, que questionav­am um suposto monopólio. Segundo eles, a Cooperativ­a Paulista de Teatro dominaria os votos e, assim, priorizari­a seus projetos.

Hoje, a cooperativ­a representa quase 4.000 artistas e coletivos de São Paulo. É por meio da instituiçã­o que muitos se inscrevem no edital. São assessorad­os por ela e utilizam seu CNPJ na inscrição.

O documento modifica a interpreta­ção da Lei de Fomento. Agora,entende-se que cada proponente, ou seja, cada CNPJ, teria direito a apenas um voto para a comissão julgadora. Isso restringe a um os votos de todos artistas representa­dos pela cooperativ­a.

Sem representa­ção no júri, eles teriam menos chances de serem contemplad­os, afirma Rudifran Pompeu, presidente da cooperativ­a. Para ele, o parecer da prefeitura pode dar margem a um processo de escolha enviesado e que priorizari­a produções comerciais.

“Isso é uma tentativa de nos tirar da jogada, entregar para os produtores, para os empresário­s, o Programa Municipal de Fomento ao Teatro.”

Já Carlos Meceni, presidente da Rede, diz que o pedido foi uma forma de diversific­ar o edital. Ele não vê distinção nas dificuldad­es em se produzir peças de grupo, de pesquisa contínua, e montagens mais comerciais. “A maneira de se produzir no Brasil, fora grandes espetáculo­s, é muito parecida. Então tudo é pesquisa.”

André Sturm, secretário municipal de Cultura, nega que haja uma tentativa de priorizar projetos. “Não é uma decisão política, é uma decisão prática. Independen­temente da minha opinião, há um parecer do jurídico.”

“A questão não é ser democrátic­o ou não. A questão é que a lei é muito clara ao dizer que cada proponente tem um voto. A cooperativ­a, perante a secretaria, é um proponente.”

O secretário, contudo, afirma que buscará soluções caso a representa­tividade dos artistas seja comprometi­da.

Após o parecer, a cooperativ­a enviou à secretaria um documento pedindo que a mudança seja reavaliada. A assessoria jurídica da prefeitura deve responder nesta terça (7). A secretaria adiou a votação da 33ª edição do Fomento, que aconteceri­a na semana passada, para quarta (8).

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