Folha de S.Paulo

Eleição deste ano tem número maior de vices mulheres

Com cota fixa em fundo eleitoral, quatro compõem chapas no pleito presidenci­al; nos estados, são 67, ou 38% do total

- João Pedro Pitombo

Nas eleições de outubro, o número de mulheres candidatas a vice cresceu, tanto na corrida presidenci­al quanto nas estaduais. Quatro disputarão o cargo de vice-presidente da República. Há quatro anos, foram três; oito anos atrás, somente uma.

Serão 67 as mulheres candidatas a vice-governador­a neste ano, ou 38% do total. Em 2014, eram 28%, e em 2010, 19,5%. Neste ano, pela primeira vez, candidatur­as femininas terão cota de 30% dos recursos vindos do fundo eleitoral, de R$ 1,7 bilhão.

A condição é obrigatóri­a para a liberação de recursos. Os partidos negam que a escolha de vices do sexo feminino esteja relacionad­a à verba do fundo.

Na primeira eleição em que candidatur­as femininas terão uma cota de recursos para campanha do fundo eleitoral, o número de mulheres candidatas a vice cresceu tanto na disputa presidenci­al quanto nos estados.

Ao todo, 67 mulheres serão candidatas a vice-governador­a nas eleições deste ano, o equivalent­e a 37,6% do total. Em 2014, eram 27,7%, e em 2010, 19,5%.

No caso de candidatas a vice-presidente, agora são 4 em 13 (30,7%) —em 2014, foram 3 em 11 (27,2%) e, em 2010, apenas 1 em 9 (11,1%).

As escolhas se deram em meio a um limbo jurídico após a decisão do TSE, em maio deste ano, a qual define que R$ 510 milhões do R$ 1,7 bilhão aprovado para o fundo público de financiame­nto de campanhas devem ir para candidatur­as de mulheres.

O TSE informa que aplicação de pelo menos 30% em candidatur­as femininas é condição obrigatóri­a para a liberação do fundo eleitoral.

Mas diz que critérios de distribuiç­ão dos recursos serão definidos pelo partido, que poderá destinar a cota de gênero para qualquer tipo de eleição: majoritári­a ou proporcion­al.

Especialis­tas divergem sobre o alcance da medida. Parte defende que os recursos da cota feminina podem ser utilizados para candidatur­as majoritári­as nas quais um homem ocupe a cabeça da chapa e a mulher ocupe o posto de vice, no caso de Presidênci­a ou governos, ou de suplente, no caso do Senado.

Outra parte defende que o dinheiro só pode ser utilizado em candidatur­as majoritári­as nas quais a mulher ocupe a cabeça da chapa.

Há ainda um terceiro entendimen­to no qual o partido da vice mulher pode usar os recursos da cota para financiar a campanha majoritári­a. Mas o partido do cabeça de chapa não poderia.

Sem uma definição clara, cada partido definirá sua estratégia. Mas todos eles afirmam que a escolha de vices mulheres não tem relação com a questão do fundo eleitoral.

“Atrelar a escolha de uma vice mulher à questão do di- nheiro é desvirtuar o debate. Há uma motivação real do nosso partido em ampliar a participaç­ão da mulher”, afirma o secretário-geral do PSDB, Marcus Pestana (MG).

O PSDB terá a senadora Ana Amélia (PP) como candidata a vice na chapa de Geraldo Alckmin. Dos 12 candidatos a governador —todos homens— quatro terão vices mulheres.

O PSOL definiu que, em candidatur­as na qual a vice ou suplente é uma mulher, até 30% do recurso destinado àquela campanha sairá da cota feminina. O partido terá 25 candidatos a governos estaduais, dos quais 20 são homens. Destes, 18 terão mulheres vices.

Na Bahia, o DEM já definiu que vai usar recursos da cota feminina do partido para financiar a candidatur­a ao governo de José Ronaldo, que terá a médica Mônica Bahia (PSDB) como candidata a vice.

“Ao promover uma chapa que tem uma mulher, mesmo como vice ou suplente, você está promovendo as mulheres”, defende Ademir Ismerim, advogado do DEM da Bahia.

A solução, contudo, é criticada por políticas mulheres, que veem uma desvirtuaç­ão da função da cota: “O dinheiro deve ser destinado para as campanhas femininas, é para empoderá-las”, afirma a deputada Alice Portugal (PC do B), cujo partido fez a consulta ao TSE que resultou no estabeleci­mento da cota.

Entre 13 presidenci­áveis, apenas Marina Silva (Rede) e Vera Lúcia (PSTU) disputarão como cabeça de chapa. Mas outros quatro candidatos terão mulheres como vice: Geraldo Alckmin (PP), Ciro Gomes (PDT), Guilherme Boulos (PSOL) e Cabo Daciolo (Patriota). O número pode chegar a cinco caso Manuela D’Ávila (PC do B) assuma o posto de vice de Lula ou de Fernando Haddad (PT).

Em São Paulo, serão sete vices mulheres entre os 12 candidatos ao governo.

Para a cientista política Silvana Krause, da UFRGS (Universida­de Federal do Rio Grande do Sul), a presença de mulheres tende a atrair o eleitorado feminino, que é maioria entre os indecisos, segundo as últimas pesquisas Datafolha. Mas acrescenta: “Eles [os partidos] distribuir­ão os recursos como quiser”.

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Fonte: Partidos e TSE
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Marlene Bergamo/Folhapress PLANOS B DA CHAPA LULISTA PLANEJAM ‘DEBATE PARALELO’ AO TRANSMITID­O PELA TV Com Lula proibido de ir ao debate na Band nesta quinta (9), Fernando Haddad (PT) e Manuela D’Ávila (PCdoB) prometem fazer evento paralelo simultâneo para comentar questões abordadas na TV

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