Folha de S.Paulo

Aquele chamado de falso 9 é o real centroavan­te

O que chamam de falso 9 é o verdadeiro centroavan­te

- Tostão Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina

Escutei, um milhão de vezes, que Gabriel Jesus atuou mal na Copa porque seu talento foi inibido, por ter sido um centroavan­te tático. Grande bobagem. Falam ainda que ele não é centroavan­te, que é um meia-atacante ou um jogador pelo lado. Outra bobagem.

Gabriel Jesus não foi bem na Copa porque não fez gols, por errar muito e ficar confuso quando saía da área para receber a bola, e porque criaram uma expectativ­a acima da realidade. Ele é um bom centroavan­te, mas não está entre os principais do futebol mundial. É reserva no Manchester City, onde tem uma boa média de gols, porque o time cria inúmeras chances de marcar. Gabriel tem grandes chances de evoluir até o próximo Mundial.

Gabriel Jesus tem todas as caracterís­ticas de um centroavan­te. É veloz, se posiciona bem dentro da área, finaliza com eficiência, faz bem a função de pivô e ainda marca os zagueiros na saída de bola. Mesmo assim, insistem que ele é um falso 9, como se existisse um manual, uma regra, para definir o jogador da posição. São os Zé Regrinhas.

Os melhores centroavan­tes da história são os que, além de artilheiro­s, têm muito talento fora da área. Anteveem o lance, se deslocam para receber a bola e, quando chegam os zagueiros, a bola já está no gol. Já os centroavan­tes comuns adoram o confronto físico. Escondem as limitações técnicas.

A moda é o falso 9. Muitos centroavan­tes são tratados dessa maneira no Brasil. Qualquer dia, vão dizer que o jovem e brilhante Pedro, do Fluminense, é um falso 9, pois, além de artilheiro, dribla e dá passes de calcanhar. Centroavan­te não pode fazer isso. Tem de ser grosso.

O que chamam de falso 9 é o verdadeiro centroavan­te, que sabe jogar futebol. O falso é o que dizem ser o típico, o verdadeiro.

Mano explica

Flamengo e Cruzeiro fazem o clássico nacional da rodada, pela Libertador­es. O Cruzeiro é um time organizado, cascudo, que marca bem e que sabe jogar fora de casa, contra fortes adversário­s. Às vezes, fica muito previsível, burocrátic­o, contido. É o terceiro pior ataque do Brasileiro. Mano explica.

O Flamengo é a equipe brasileira que mais agrada, pela troca de passes, aproximaçã­o dos jogadores e domínio da bola. Barbieri faz um ótimo trabalho.

Já o São Paulo, líder do Brasileirã­o, é o time que tem uma estratégia mais regular e consistent­e. Marca com rigidez, com duas linhas de quatro, pressiona quem está com a bola e, quando a recupera, contra-ataca com eficiência.

Em outra coluna, disse que o Flamengo deixa muitos espaços na defesa, por jogar apenas com um volante e pelo fato de os zagueiros ficarem muito encostados à grande área. Corrijo. O Flamengo tem a segunda melhor defesa do Brasileiro. Os três meios-campistas, Diego, Paquetá (não joga nesta quarta) e Éverton Ribeiro, voltam rapidament­e para marcar, e os dois laterais avançam no momento certo.

O hábito de jogar com os zagueiros muito recuados é um vício de todas as equipes brasileira­s.

Agora, está claro. Os clubes, os treinadore­s, a CBF e os parceiros assumiram que o Brasileiro está em terceiro plano, abaixo da Copa do Brasil e da Libertador­es.

Vários técnicos, e não apenas Renato Gaúcho, tem escalado todos os reservas em alguns jogos. As partidas mata-mata, com todos os titulares, atraem mais público, e os prêmios pelas conquistas aumentaram muito. Todos culpam o calendário, mas não fazem nada para mudá-lo.

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