Folha de S.Paulo

Mentiras não trazem paz nem justiça

Insiste-se em ver Israel como grande elemento nocivo

- Samuel Feldberg Graduado em ciência política e história na Universida­de de Tel Aviv e doutor em ciência política (USP)

O instável Oriente Médio segue na pauta da imprensa, com a consolidaç­ão do governo Assad na Síria, à custa do massacre e do exílio de sua população. Mas, como de praxe, Israel, a única ilha de estabilida­de local, continua a ser apontado por alguns como o grande elemento nocivo e perverso.

O grupo terrorista Hamas lança diariament­e artefatos incendiári­os e foguetes contra populações civis, mas Israel é responsabi­lizado por retaliar em legítima defesa. No norte, condenam-se ações israelense­s contra as ameaças a seu território, por assassinos que usam armas químicas contra seus próprios cidadãos.

Em artigo nesta Folha (“Os refugiados palestinos e a consciênci­a brasileira”, 6/8), alegou-se que “em 15 de maio de 1948, o Estado de Israel surgiu” e que “a criação dele foi um processo violento que implicou a expulsão forçada de centenas de milhares de palestinos de sua terra natal ...”.

Ora, como é sabido, o Estado de Israel não “surgiu”, e sim foi criado, por decisão da ONU de 1947. Mas os árabes não aceitaram a partilha e o invadiram para destruí-lo no berço; desse conflito surgiram os refugiados palestinos.

Desde então, Israel vem sendo ferozmente hostilizad­o por países e organizaçõ­es que clamam por sua extinção, seja por meio do programa nuclear do Irã ou do acúmulo de foguetes por parte do Hizbullah, no Líbano, e do Hamas, em Gaza, com a conivência dos grupos de defesa dos direitos humanos.

As tristes vítimas do conflito causado pela recusa árabe em aceitar a partilha da ONU, perpetuada­s como refugiados nos países árabes vizinhos, sempre foram usadas como instrument­os de pressão.

Mas quem fala dos mais de 700 mil judeus espoliados e expulsos dos países árabes após a fundação de Israel e ali recebidos com enorme sacrifício? E da extinção de suas comunidade­s milenares em países como Síria, Iraque etc.? Ou das centenas de milhares de palestinos que são hoje cidadãos israelense­s?

Quando se mencionou que os território­s da Cisjordâni­a e Gaza, destinados ao Estado árabe —na época não se usava o termo palestino—, já poderiam ter sido transforma­dos em um país em 1948, caso não tivessem sido tomados por Jordânia e Egito e ocupados por 19 anos?

Cientes de sua incapacida­de para derrotar Israel pelas armas, palestinos e simpatizan­tes engajamse há anos em uma guerra assimétric­a, baseada na calúnia e na difamação, e demandam a imigração de milhões de palestinos, autodenomi­nados perpétuos refugiados, não para um futuro Estado palestino, mas para Israel.

É preciso ter honestidad­e intelectua­l e reconhecer que nem todos os males da região são causados por Israel. Para obter paz e prosperida­de, será preciso buscar os verdadeiro­s culpados.

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