Folha de S.Paulo

Vice de Ciro defende facilitar porte de armas e se opõe a alterar lei do aborto

Senadora pelo Tocantins e defensora de Dilma, Kátia Abreu exaltou proximidad­e com agronegóci­o

- KÁTIA ABREU Gustavo Uribe

A candidata a vicepresid­ente de Ciro Gomes (PDT), senadora Kátia Abreu (PDT-TO), defende a facilitaçã­o do porte de armas diante do atual cenário de violência, sobretudo no campo.

Para ela, o ideal seria que o governo desarmasse os criminosos. “Só não acho justo alguém ficar armado até os dentes e a população totalmente abandonada”, disse à Folha. No seu gabinete, ainda tem pendurado o retrato da amiga Dilma Rousseff. “Não acabou o mandato dela ainda. Fica até trocar pelo do Ciro.”

Por que entrar em uma campanha com apenas uma aliança e pouco tempo de televisão?

Mesmo antes de ser vice, já tinha decidido votar no Ciro. O que mais me admira nele é que tem um perfil com autoridade, que não significa autoritári­o. Não é para que ninguém tema ou obedeça, mas um presidente tem de ter autoridade moral. E acho interessan­te ele ser do Nordeste. O Brasil é muito desigual e ele conhece isso de perto.

Então, o PT erra ao ter uma chapa que só representa Sul e Sudeste? Não chega a ser um erro, não gostaria de classifica­r como um erro, mas não seria a minha opção votar em uma chapa puro-sangue do Sul do país. Com todo respeito às duas regiões, que são maravilhos­as, e nada contra candidatos de Sul ou Sudeste. Neste momento, o Brasil está precisando de quem conhece a vida dos mais pobres. Ciro buscava um vice de Sul e Sudeste, mas acabou escolhendo do Norte. O que a sra. agrega à candidatur­a? Em vários aspectos, não só na questão regional. Tenho muito orgulho de representa­r Norte, Nordeste e Centro-Oeste. E também o setor agropecuár­io. Sei como vivem não só produtores do agronegóci­os, mas também assentamen­tos da reforma agrária, os quilombola­s e a agricultur­a familiar.

O temperamen­to explosivo prejudica o Ciro? Ciro não é briguento, é brigão. Um lutador, é diferente. Ele sabe impor o que acredita de verdade. Eu acuso o golpe para mim porque eu sou um pouco parecida. Sou tão veemente no que acredito que até às vezes parece que estou brigando, mas é a forma que a gente tem de se expressar. A gente tenta corrigir, mas não significa agressivid­ade, significa obstinação.

A senadora Ana Amélia (vice do tucano Geraldo Alckmin) seria uma boa vice-presidente? Seria, eu até trocaria ela de lugar para ser a candidata a presidente. Ela é melhor que o candidato. Eu gosto dele, já votei nele uma vez, não é nenhum ataque pessoal, ele é uma pessoa correta. É uma questão circunstan­cial.

Apoiaria ela se ela fosse candidata a presidente? Se não fosse o Ciro, talvez. Se o Ciro não fosse candidato, quem sabe. Como pecuarista, a sra. defende a posse de armas nas zonas rurais? Defendo o uso de armas em casa, rural e urbano. Eu não sou contra, diante da violência que estamos vivendo hoje. Todo mundo sabe que os fazendeiro­s estão desarmados. Hoje, há ataques até nos assentamen­tos. A minha pergunta é: isso é justo? Colocar os produtores à mercê. Estão roubando arame, material de trabalho, machado e foice, pneu de trator. Então, não quero uma guerra no campo nem uma batalha civil no país.

Sou contra a violência, eu sou a favor do diálogo, sou a favor da paz. Mas não acho justo que os bandidos se armem cada vez mais. O governo brasileiro não faz absolu- tamente nada e as pessoas se sentem impotentes.

Então, a sra. é favorável à facilitaçã­o do porte de armas?

Eu sou, não para ficar andando na rua, nos bares, restaurant­es, trabalho. Mas se a pessoa se sentir segura. Eu moro em uma chácara, por exemplo. Eu tenho um guarda armado, mas e as pessoas que não podem? Não, meu guarda não é armado. Meu guarda é desarmado por causa de custo, inclusive. Agora, você imagina como eu durmo à noite? Eu tenho medo.

Mas isso não pode aumentar a violência?

Nos EUA e em todos os países onde é permitido o porte de armas, não se tem números dizendo que is- so aumenta ou diminui a violência. Eu só acho que a população hoje se for consultada, ela toda não quer ficar desarmada. Não porque quer brigar, mas porque quer defender a sua própria família. Então, temos uma opção ótima, que eu concordo em número, gênero e grau. Combater de verdade a violência, combater a marginalid­ade, desarmar os bandidos. Aí sou a favor de desarmar todo mundo.

Só não acho justo alguém ficar armado até os dentes e a população totalmente abandonada. Há 46 municípios no Tocantins que não têm um PM. Tenho 50 cidades sem um delegado. O que eu digo para essas pessoas? A maioria usa uma faca de cozinha no quarto com medo. Quantas pessoas não me dizem isso? Acho que é um assunto muito polêmico, que é difícil dizer eu sou a favor ou sou contra. Só acho que não está ajustado. Acho que tem alguma coisa errada nisso.

É favorável à legalizaçã­o do aborto?

Todas as mulheres e homens do Brasil são contra o aborto. Ninguém é feliz com o aborto. A legislação apresenta três quesitos: o risco de vida da mãe, o estupro e o anencéfalo. Eu quero fazer um registro que o anencéfalo eu votei contra.

A mãe tem de dar à luz ao anencéfalo?

Acho que sim.

E em outros pontos?

Não gostaria de entrar em um tema muito pessoal. É o Congresso que tem de decidir, é representa­nte do povo. Sou cristã e, do ponto de vista dos meus princípios, não gostaria de modificar a lei, mas não estou aqui para jogar pedra em ninguém e as pessoas merecem apoio em qualquer circunstân­cia.

A sra. já foi do DEM e hoje está no PDT. Como se define politicame­nte?

Sou democrata, uma pessoa de centro e acredito no mercado, mas meu coração ainda está aqui dentro batendo.

 ?? Pedro Ladeira/Folhapress ?? A senadora Kátia Abreu (PDT-TO), candidata a vice na chapa de Ciro Gomes Kátia Abreu, 56 Senadora pelo
PDT do Tocantins, a empresária e pecuarista foi ministra da Agricultur­a no segundo mandato de Dilma Rousseff.
Foi ainda deputada federal, entre...
Pedro Ladeira/Folhapress A senadora Kátia Abreu (PDT-TO), candidata a vice na chapa de Ciro Gomes Kátia Abreu, 56 Senadora pelo PDT do Tocantins, a empresária e pecuarista foi ministra da Agricultur­a no segundo mandato de Dilma Rousseff. Foi ainda deputada federal, entre...

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