Folha de S.Paulo

Ministro foi omisso em denúncias, afirma ex-número 2 da Integração

- Mariana Carneiro e Fábio Fabrini

Após levantar suspeitas sobre licitações no Ministério da Integração Nacional, o economista Mário Ramos Ribeiro, 58, afirmou à Folha que o ministro Pádua Andrade foi omisso ao não afastar os servidores envolvidos.

Ribeiro pediu demissão no último dia 20 do cargo de secretário-executivo, depois de pouco mais de um ano no ministério. O conteúdo de sua carta de demissão, onde denunciou irregulari­dades na Pasta, foi revelado pela Folha no último dia 2.

Ele afirma que desde abril tanto o ministro quanto o chefe de gabinete, Gustavo Canuto, eram informados das irregulari­dades cometidas por dois funcionári­os. A partir de maio, em conversas e em mensagens por celular, passou a enfatizara necessidad­e de afastar os servidores.

Reynaldo Aben-Athar e Geraldo Oliveira, na diretoria de gestão internado Ministério da Integração, atuavam em licitações ena formulação de atas de registro de preços (que permite outros órgãos do governo contratar serviços ou comprar bens pelos valores fixados em concorrênc­ias públicas).

Em documento enviado à CGU (Controlado­ria Geral da União), Ribeiro cita mais de uma dezena de casos em que os processos feitos pelos dois foram tocados de maneira irregular.

Os servidores só foram exonerados de seus cargos na última semana, após o pedido de demissão de Ribeiro vira público. Eles ainda trabalham no ministério.

“Acada ato meu, era enviada uma cópia ao gabinete do ministro. Então, nesse sentido tanto o ministro quanto o seu chefe de gabinete foram omissos. Se ao missãoépre meditada ou dolosa, eu não sei. Se existe prevaricaç­ão, só uma investigaç­ão policial vai dizer”, afirmou Ribeiro à Folha.

“Mas é preciso entender por que desde abril o secretário-executivo toma medidas e dá conhecimen­to ao ministro, tenta conversar come não consegue ”, disse.

Andrade, segundo narrou Ribeiroà Folha, ficou indignado com suade núnciaà CGU. “Não entendi o piti do ministro. Ele não gostou de eu ter chamado a CGU, me disse que eu estava envolvendo pessoas de fora. Ora, a CGU é um órgão de controle”, afirmou. “Ele disse que precisávam­os alinhar. Eu respondi que o que fosse de obrigação jurídica não tínhamos o que alinhar, que tínhamos dois servidores que criaram um sistema paralelo de pagamentos”, disse.

“Aí eu percebi que havia uma dissonânci­a grande entre mim e o ministro. Eu entendia que a medida tinha que ser rápida e forte e ele queria algo suave e lento, talvez para esperar a eleição passar”, afirmou.

Em um dos casos, mostrado pela Folha, uma empresa teve o pagamento autorizado antes mesmo de o contrato ser assinado.

Ribeiro conta que uma empresa de eventos teve o contrato formalizad­o no dia de 6 de abril. O serviço foi prestado no dia 4 de abril e, no mesmo dia, foi autorizado o pagamento. A ordem de pagamento bancária foi concluída no dia 10 de maio. Neste momento, segundo o então secretário, o contrato já havia sido suspenso.

O primeiro caso que chamou a atenção do executivo foi com uma firma de tecnologia, que teve o processo de contrataçã­o interrompi­do.

Antes disso, Ribeiro conta que havia flagrado tentativa de licitação de mobiliário para o edifício do ministério, feita à revelia da secretaria-executiva. “O ministério não precisa de móveis novos, é até bem servido se comparado com os da Fazenda ou da Saúde.”

A licitação foi revogada. Mas em seguida a revogação foi suspensa e o processo de licitação iniciado.

Esses casos levou Ribeiro a denunciar os dois à corregedor­ia do ministério. Diante do acúmulo de irregulari­dades, decidiu suspender todas as licitações e atas de registro de preços em curso no ministério. “Houve uma chiadeira grande dos dois servidores, disseram que isso iria parar ministério­s. Nenhum ministério questionou nossa decisão, mas as empresas, sim”, afirmou. “As empresas não são partícipes desse processo, não podem pressionar gestores”.

O Ministério da Integração Nacional afirmou ser “inverídica a informação de que providênci­as só tenham sido tomadas após a veiculação dos fatos”. “O órgão também abriu uma sindicânci­a para apurar a conduta dos citados. A questão é acompanhad­a pelo corregedor da pasta, que é funcionári­o de carreira da CGU”.

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