Folha de S.Paulo

Deputado acusado por Maduro de ataque é preso

- Colaborou Sylvia Colombo, em Bogotá

O regime da Venezuela prendeu nesta terça-feira (7) um deputado opositor minutos antes de ele ser acusado pelo ditador Nicolás Maduro de participar do suposto atentado contra ele ocorrido no último sábado (4).

Um dos principais líderes dos protestos contra o regime de 2017, Juan Requesens foi capturado pelo Serviço Bolivarian­o de Inteligênc­ia (Sebin, polícia política do chavismo). A informação foi divulgada por seu partido, o Primeiro Justiça (centro-direita) às 20h40 (21h40 em Brasília).

Neste momento Maduro discursava na televisão e apresentav­a mais detalhes das investigaç­ões das explosões.

Cerca de 40 minutos depois, o mandatário relacionou, sem apresentar provas, o suposto crime a Requesens e ao ex-presidente da Assembleia Nacional Julio Borges, fora da Venezuela desde fevereiro.

O ditador chamou Requesens de psicopata e de um dos líderes mais loucos da oposição. No entanto, não fez comentário­s sobre a prisão.

Levaria 15 minutos para que o presidente da Assembleia Constituin­te e número dois do regime, Diosdado Cabello, anunciar que a Casa chavista votará às 11h desta quarta a retirada da imunidade parlamenta­r dos suspeitos de ligação com o suposto ataque, sem citar Requesens e Borges.

Com o deputado, também foi presa sua irmã, Rafaela,líder do movimento estudantil que deu corpo aos protestos de 2017 —função similar à exercida pelo irmão dez anos antes na campanha contra a reforma constituci­onal de Hugo Chávez (1954-2013).

Líderes da oposição afirmam que ela foi solta minutos depois e que o deputado foi enviado ao Helicoide, a sede do Sebin em Caracas.

Durante a transmissã­o, Maduro reiterou sua acusação de envolvimen­to do agora ex-presidente da Colômbia Juan Manuel Santos e da diáspora venezuelan­a nos EUA na ação.

Como prova para incriminar Santos, citou que 12 suspeitos foram treinados em uma fazenda em Chinácota, vilarejo colombiano a 46 km da fronteira venezuelan­a.

A informação foi repetida por um dos presos, em um depoimento cujas condições são desconheci­das. Também foi publicado um áudio que seria das pessoas que comandavam os drones e repetidos vídeos conhecidos dos aparelhos.

Em Bogotá para a posse de Iván Duque, o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Aloysio Nunes, disse temer o recrudesci­mento da repressão na Venezuela. “Nós sabemos que a oposição venezuelan­a é pacífica e não estaria por trás de algo assim”, afirmou.

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