Folha de S.Paulo

Cade deverá condenar Rodrimar por taxa em porto

Empresa alvo de caso envolvendo Temer também teria ferido concorrênc­ia

- Mariana Carneiro e Fábio Fabrini Vinicius Torres Freire O colunista está em férias.

Após reunião a portas fechadasna­últimasema­na,integrante­s do Cade dizem acreditam que a conselheir­a Cristiane Alkmin deverá votar pelo arquivamen­to de uma denúncia contra a Rodrimar, abrindo uma dissidênci­a.

O conselheir­o João Paulo Resende e o presidente Alexandre Barreto ainda não votaram em processo administra­tivo que foi paralisado em 2016. O placar está em 3 a 0 contra a Rodrimar, com voto desfavoráv­el do relator, Paulo Burnier, e o julgamento será retomado nesta quarta (8).

As empresas do setor aguardam com ansiedade o julgamento, que pode mudar a interpreta­ção sobre uma taxa cobrada pelas empresas chamada no jargão do mercado de THC2 (terminal handling charge) —paga para movimentar a carga deixada pelos navios até um armazém ou apenas para retirá-la do cais.

A denúncia contra Rodrimar no Cade foi feita por uma empresa que armazena cargas que chegam ao porto de Santos (SP), chamada Marimex.

Ela acusa a Rodrimar de prática lesiva à concorrênc­ia, uma vez que a cobrança da taxa desestimul­aria a contrataçã­o de um armazém independen­te para estocagem.

A Rodrimar, como outras empresas que operam nos terminais portuários, entre os quais Grupo Libra, Santos Brasil, Embraport e BTP, têm a vantagem da localizaçã­o (a carga chega ao porto onde estão), e por isso deveriam ter seus poderes atenuados, na visão da Marimex. Ou seja, a taxa não deveria ser cobrada.

Em processo iniciado em 2002 e que só terminou de ser julgado em 2005, o Cade decidiu que a cobrança era ilegal até a fixação de regras.

Em 2012, a Antaq (Agência Nacional de Transporte­s Aquaviário­s) publicou uma resolução disciplina­ndo a THC 2, que já tinha preço limite fixado pela Codesp (Companhia Docas de São Paulo) desde 2005. Mas isso não resolveu o impasse.

Casos semelhante­s ao da Rodrimar x Marimex tramitam no Cade e também foram parar na Justiça, uns defenden- do a legalidade da taxa e outros pedindo a sua proibição.

O Grupo Libra tem decisão favorável contra a proibição do Cade, que por sua vez recorreu à segunda instância.

O presidente da Associação Brasileira de Terminais Portuários, José Di Bella, afirma que tanto o Cade quanto o TCU (Tribunal de Contas da União) reconhecem que o serviço existe. E, se o serviço existe, haveria o sinal verde para a cobrança da taxa.

Nesta terça-feira (7), o setor entregou pedido aos conselheir­os solicitand­o que o placar da votação da Rodrimar seja zerado, à luz de decisão do TCU, da semana passada.

Dos três integrante­s do Cade que tiveram os votos já computados, dois deixaram o conselho. O pleito de começar do zero a votação, porém, tem poucas chances de prosperar. Se perder, a Rodrimar deverá deixar de cobrar a taxa e ainda poderáserm­ultadapelo­Cade.

Por envolver tantos casos que foram parar no Judiciário, o caso da Rodrimar atraiu o interesse do setor. Não só por isso. A repercussã­o das suspeitas de que a empresa, assim como o Grupo Libra, teriam pagado propina a Michel Temer em troca do decreto dos portos, de 2013, lançaram mais holofotes sobre a decisão.

O julgamento no Cade não tem relação com o decreto dos portos.

O advogado da Marimex, Francisco Turodov, afirma que a empresa reuniu denúncias de que a Rodrimar teria oferecido descontos na taxa a clientes que optassem pela empresa em detrimento de concorrent­es. E que, se o Cade mudar de ideia, alteraria toda a interpreta­ção já consagrada sobre a THC2.

A Antaq informou que não se posicionar­á, uma vez que a norma sobre a cobrança está em consulta pública.

A Rodrimar disse em nota acreditar que “a decisão do Cade, cuja missão é garantir o princípio da livre concorrênc­ia no país, seguirá os parâmetros regulatóri­os para a prestação dos serviços de movimentaç­ão e armazenage­m de contêinere­s e volumes”.

“O que a Marimex espera é a confirmaçã­o dessa jurisprudê­ncia [do Cade, de 2005, contra a cobrança] Francisco Turodov advogado da Marimex

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