Pesquisa que usou corante para combater câncer ganha prêmio
Vencedores do Prêmio Octavio Frias de Oliveira foram anunciados em cerimônia nesta segunda-feira (6)
Uma pesquisa da USP que testou o uso de um corante alimentício para impedir o avanço de um tipo de câncer venceu a categoria Pesquisa em Oncologia do 9º Prêmio Octavio Frias de Oliveira.
Já um exame que investiga, com ajuda de inteligência artificial, a origem de um tumor em metástase foi o vencedor da categoria Inovação Tecnológica em Oncologia.
Os nomes dos ganhadores foram revelados em cerimônia de entrega que ocorreu na noite desta segunda-feira (6) no teatro da Faculdade de Medicina da USP, em São Paulo. A apresentação ficou a cargo da atriz Denise Fraga.
O oncologista pediátrico e fundador do Graacc (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer), Sérgio Petrilli, 71, foi o vencedor na categoria Personalidade em Destaque.
A premiação é uma iniciativa do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira), em parceria com o Grupo Folha. A láurea, que leva o nome do então publisher da Folha, morto em 2007, busca reconhecer e estimular contribuições na área oncológica.
Para cada categoria, a premiação é de R$ 20 mil. Os vencedores são apontados por uma comissão composta por representantes do Icesp, da Faculdade de Medicina da USP, do HC da USP, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), da Academia Nacional de Medicina, da Academia Brasileira de Ciências, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação Oncocentro de São Paulo e da Folha.
O estudo vencedor na categoria Pesquisa em Oncologia foi liderado pela professora de bioquímica da USP Claudiana Lameu. Em discurso emocionado, ela falou das dificuldades de fazer ciência no Brasil.
“Precisamos de incentivos como esse prêmio, especialmente diante do medo de cortes de verba. Parabenizo todos os brasileiros na luta pela ciência do país”, disse.
O alvo da equipe foi o neuroblastoma, câncer que comumente surge na glândula suprarrenal. Quase 90% das ocorrências desse tumor são em crianças, e cerca de 50% a 60% delas já têm metástase no momento do diagnóstico.
Os pesquisadores testaram então um corante alimentício que dá a cor azul a alimentos para, de alguma forma, bloquear essa metástase. Os testes foram feitos em camundongos —curiosamente, os animais que receberam o corante também ficaram azuis.
Resultado: o corante conseguiu bloquear um receptor do sistema purinégico, um conjunto de possíveis alvo farmacológicos que está em todas as células. Dependendo do local, esses receptores podem funcionar como ativadores do sistema imune.
Com isso, houve diminuição do tamanho do tumor (em comparação com os roedores que não receberam a substância) e, o mais importante, houve também uma redução na disseminação das células tumorais.
Segundo Claudiana Lameu, a equipe pretende, no futuro, usar a nanotecnologia para produzir uma versão mais po- tente com uma dose menor e menos efeitos colaterais —incluindo a coloração azul.
O prêmio na categoria Inovação Tecnológica em Oncologia foi dado a Marcos Tadeu dos Santos, da startup Onkos Diagnósticos Moleculares. Uma parceria da empresa com o Fleury, o Hospital de Câncer de Barretos e a Universidade Federal do Maranhão permitiu o desenvolvimento de um exame que analisa 95 genes com ajuda de inteligência artificial e descobre a origem de um tumor que já se espalhou para diferentes órgãos.
O objetivo é indicar também tratamentos mais eficazes, segundo Santos.
Em seu discurso, ele apontou que essa relação entre indústria e universidade tem espaço para crescer no Brasil. “A pesquisa de verdade é colaborativa. O que começou no computador de uma república de estudantes hoje pode ajudar os pacientes com câncer.”
A partir do próximo ano, o Grupo Folha vai apoiar o Programa Aristides Pacheco Leão, parceria entre o Icesp e a Academia Brasileira de Ciências que provê estágios a estudantes de graduação. O objetivo é fomentar o interesse em pesquisa.