Folha de S.Paulo

Cuca Fico no meio, sou uma uva nem verde nem passada

Aos 55 anos, técnico do Santos defende veteranos como Felipão e Luxemburgo e afirma ter certeza de que time não será rebaixado

- Klaus Richmond Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

Cuca, 55, afirma que voltou ao Santos convicto, pela experiênci­a que hoje carrega como treinador.

Com títulos da Libertador­es e do Campeonato Brasileiro na bagagem, o técnico diz que não repetiria decisões como a de dez anos atrás, quando aceitou assumir o clube santista apenas quatro dias após deixar o Botafogo. A passagem frustrada foi interrompi­da em menos de três meses.

“Eu chamava os jogadores de Diguinho, Lúcio Flavio, Túlio, Juninho [atletas do Botafogo]”, diz em entrevista à Folha.

Ele ainda não se considera um veterano. Mesmo assim, defende os mais antigos da profissão em meio ao surgimento de treinadore­s mais jovens em grandes equipes da Série A, como Mauricio Barbieri, 36, no Flamengo.

“Falar que um treinador é ultrapassa­do? Acho pesado. Se for olhar para os trabalhos do Felipão, 69, e do Vanderlei [Luxemburgo], 66, por exemplo, vão ter os mesmos resultados dos jovens que buscam espaço”, afirma.

O Cuca que volta ao Santos tem ainda mais certezas.

A principal delas é a de que colocará fim à má fase da equipe, sem vencer há oito jogos e na zona de rebaixamen­to.

“Podem ter uma certeza: o Santos não cai.”

Ele foi contratado no último dia 30 e comandou o time em duas partidas: derrota para o Cruzeiro, pela Copa do Brasil, e empate com o Botafogo, no Campeonato Brasileiro.

A equipe volta a campo às 19h30 desta quarta (8), em jogo antecipado da 20ª rodada, contra o Ceará, fora de casa.

“Falar que um treinador é ultrapassa­do? Acho pesado. Se for olhar para os trabalhos do Felipão e do Vanderlei [Luxemburgo], por exemplo, vão ter os mesmos resultados dos jovens que buscam espaço

A sua segunda passagem pelo Santos começa com a decisão de morar no CT do clube, assim como fez no AtléticoMG. Por quê?

Foi assim que vivi no Atlético-MG e pretendo que seja no Santos, para que possamos sair dessa condição ruim na tabela. Precisamos de uma arrancada para recuperar a confiança. Esse esforço é para que possamos terminar o ano bem, quem sabe até com uma conquista.

Você já consegue falar, então, que o Santos não cai?

Podem ter uma certeza: o Santos não cai. Vamos ainda tentar dar um “up”, conseguir uma posição mais acima. Não sabemos aonde podemos chegar.

De onde vem essa certeza? Do elenco?

Da experiênci­a de voltar ao clube dez anos depois? Quando vim pela primeira vez para o Santos [em 2008] eu aprendi muito. Não viria mais naquela condição. Perdi uma semifinal [de Copa do Brasil] para o Corinthian­s, no Morumbi e no outro dia estava aqui, após dois anos no Botafogo.

Eu chamava os jogadores de Diguinho, Lúcio Flavio, Túlio, Juninho[nomes de jogadores do Botafogo na época]. Não dei um tempo. [Desta vez] Saí do Palmeiras e dei uma reciclada boa em mim mesmo. Estou inteirão para trabalhar.

E o que já conseguiu compreende­r do atual momento do Santos? Por que a fase é tão ruim?

Nessa primeira semana estou tentando entender ao máximo os jogadores, quem eles são. Você vê pela televisão, mas não conhece o dia a dia. Então, não adianta tirar informaçõe­s com outros sobre eles. Quero julgar por mim, ver os que não atuaram e saber o que podem me dar, para daqui a um tempo ter a condição de colocar o time que acho ideal.

Você foi o responsáve­l pela guinada na carreira do Gabriel Jesus no Palmeiras. E agora, já sabe o que fará com o Gabriel do Santos?

A minha meta aqui não é chegar e ouvir: “foi o Cuca que colocou o Gabriel no banco”. A meta que tenho é de fazer o Gabriel jogar o que já jogou.

Lógico que se não conseguir é um outro departamen­to, mas é um jogador que foi selecionáv­el ontem. Como que hoje desaprende­u? Acho que o primeiro passo com o Gabriel é entendermo­s o posicionam­ento dele, e ele também.

Há uma tendência de clubes da Série A apostarem em técnicos da nova geração, em contraste com a luta pela permanênci­a dos mais veteranos. Onde você se coloca?

Acho que fico no meio, não sou veterano e não sou mais um aspirante. Sou uma uva nem verde nem passada.

E por que acha que os mais velhos estão com fama de ultrapassa­dos? Os mais novos, muitas vezes, também não dão certo. Todo caminho é longo e árduo. Ele tem ensinament­os de tropeços, derrotas, tem negativas. Se não, seria muito fácil ser treinador.

Falar que um treinador é ultrapassa­do? Acho pesado. Se for olhar para os trabalhos do Felipão e do Vanderlei [Luxemburgo], por exemplo, vão ter os mesmos resultados dos jovens que buscam espaço.

Hoje tudo é informatiz­ado, feito com equipes. Ninguém faz nada sozinho. Quem faz isso acaba ficando para trás. Às vezes é bom ter um pouco do passado na raiz da gente, ajuda muito.

O que acha dos novos técnicos que estão na primeira divisão? Um perfil comum de muitos é não ter sido jogador de futebol. Não precisa ter sido jogador para ser treinador. Tem diversos bons treinadore­s que não jogaram. Eu só penso que ajuda você ter uma lembrança de dentro de campo em determinad­as situações. Eu penso como reagiria a uma situação. Nesse aspecto ajuda a compreende­r melhor um pouco o jogador.

Como viu a última Copa? Acha que surgiram novidades?

Acho que ninguém viu novidades. No futebol não vai acontecer um “uau, olha que diferença”. O que faz a diferença no campo é a qualidade técnica do jogador. Foi falado muito da Bélgica porque fez a diferença tecnicamen­te com os jogadores.

Qual a sua posição sobre a saída precoce de jogadores? O jogador tende a sofrer na Europa? Você vai ter Rodrygo por pouco tempo. É a nova realidade do futebol, porque os clubes, quando olham jogadores como Vinicius Jr. [ex-Flamengo] e Rodrygo, começam uma corrida frenética para serem os primeiros na compra.

Foi assim até com o Gabriel Jesus, mas acho uma pena o jogador sair tão precocemen­te do país porque dificilmen­te eles vão ter uma chance de já jogar no Real [Madrid]. É raro que cheguem e já sejam titulares. Vão acabar emprestado­s para outros clubes. Eles poderiam ter uma história firme com o clube para depois saírem, mas, infelizmen­te, isso não ocorre.

O Santos passa por dificuldad­es financeira­s. Você pediu reforços para a diretoria?

Temos que esperar alguns jogadores para vermos. Não adianta chegar no lugar, trazer três ou quatro, e depois descobrir que tinha no elenco melhores opções.

Acha que amadureceu muito, também? Você teve a fama de não ter sido bem compreendi­do. Você tem que respeitar o DNA de cada equipe, isso o tempo nos ensina. Eu, aquela vez aqui no Santos, não sabia que jogavam com a zaga com um camisa 2 e um 6. Queriam me pegar porque coloquei os números para os laterais, mas eu não sabia, não foi maldade.

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O técnico durante treino do Santos antes de jogo contra o Ceará ALEX STIVAL (CUCA), 55 Campeão da Libertador­es (2013) e do Mineiro (20122013) pelo Atlético-MG e Brasileiro pelo Palmeiras (2016), o treinador também teve passagens por Flamengo, equipe...

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