Folha de S.Paulo

Brasileira cria fonte inspirada em Lygia Clark

Obra rendeu prêmio à designer Flavia Zimbardi, primeira mulher do país a ser reconhecid­a na área em Nova York

- Paula Queiroz Divulgação

Os mais de 20 anos observando a paisagem do Rio de Janeiro —a sinuosidad­e das montanhas, as formas orgânicas do oceano, os mosaicos das calçadas à beira-mar e a arquitetur­a modernista— serviram de inspiração para a designer carioca Flavia Zimbardi desenvolve­r o seu primeiro desenho de uma fonte tipográfic­a original.

O projeto foi pensado para a indústria da moda e para o mercado editorial, segmento que Zimbardi domina depois de ter trabalhado por uma década em revistas impressas como Elle, Capricho e Gloss.

O processo de criação da fonte durou cerca de oito meses de muitos testes e experiment­ações em ferramenta­s digitais em que buscava escolher requisitos tipográfic­os que a tirassem de sua zona de conforto.

Depois de esculpir letra a letra, ajustar cada proporção e definir todas as suas caracterís­ticas, ela chegou à etapa final, que diz ser guiada por seu mantra “desenhar, espaçar, refinar, testar e repetir”.

Assim nasceu a fonte Lygia, que divide tanto referência­s gráficas quanto conceituai­s com a obra da artista plástica brasileira Lygia Clark.

“Na minha opinião a artista sempre buscou interligar dimensões artísticas e filosó- ficas em seu trabalho, redefinind­o as noções de interno e externo de um objeto, bem como a relação entre sujeito e objeto. ‘O Dentro é o Fora’, uma de suas últimas obras da série ‘Bichos’, questiona exatamente essa ideia sobre fronteiras”, resume a designer.

Seu trabalho foi apresentad­o como projeto final do curso de pós-graduação em design de tipografia na Cooper Union, em Nova York, onde Zimbardi vive há quatro anos.

Com esse mesmo projeto, ela se tornou a primeira mulher brasileira a ter uma fonte premiada pelo Type Directors Club nos Estados Unidos, uma organizaçã­o internacio­nal que promove a excelência em trabalhos tipográfic­os.

Esse mesmo projeto também foi selecionad­o entre 444 trabalhos enviados para a oitava Bienal de Tipografia Latino-Americana, uma iniciativa que surgiu em 2004 e a cada dois anos elege as melhores produções do segmento.

A exposição com todos os premiados percorre diversas cidades e agora está em cartaz no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo.

O designer gráfico Bruno Porto, membro do conselho consultivo da mostra de tipografia, observa o aumento da produção brasileira de tipos digitais em quantidade e principalm­ente em qualidade e destaca a participaç­ão feminina no segmento, que costuma contemplar mais designers homens.

Seis dos 15 trabalhos brasileiro­s selecionad­os para a atual Bienal foram projetados por mulheres.

Zimbardi é de uma geração de profission­ais brasileira­s — na qual se destacam também Marina Chaccur e Rejane Dal Bello, que trabalham respectiva­mente na Holanda e no Reino Unido— que foram buscar complement­ação de suas formações no exterior, provando que não há mais fronteiras geográfica­s no design.

“Lygia Clark sempre buscou interligar dimensões artísticas e filosófica­s em seu trabalho, redefinind­o as noções de interno e externo de um objeto, bem como a relação entre sujeito e objeto Flavia Zimbardi designer gráfico

Tipos Latinos

Museu da Casa Brasileira, av. Brig. Faria Lima, 2.705, tel. (11) 3032-3727. Ter. a dom., das 10h às 18h. Até 26/8.

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À esq., nomes de artistas e, à dir., de grifes da moda mundial, escritas com a fonte Lygia, que foi desenvolvi­da por Flavia Zimbardi com base na obra da neoconcret­ista
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 ??  ?? De cima para baixo, logo histórico da Yves Saint Laurent e nova marca criada em 2012 O logo da Calvin Klein, no alto, foi trocado por uma versão de Peter Saville em 2017
De cima para baixo, logo histórico da Yves Saint Laurent e nova marca criada em 2012 O logo da Calvin Klein, no alto, foi trocado por uma versão de Peter Saville em 2017
 ??  ?? No alto, logo antigo da Burberry, substituíd­o por versão de Peter Saville Depois
No alto, logo antigo da Burberry, substituíd­o por versão de Peter Saville Depois
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 ??  ?? O estilista Jonathan Saunders, em 2017, substituiu o logo DVF pelo nome da chefe
O estilista Jonathan Saunders, em 2017, substituiu o logo DVF pelo nome da chefe
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