Folha de S.Paulo

Dupla flana por Portugal, Cabo Verde e Brasil em apresentaç­ão

Formado por mineiro e português, Coladera lança hoje o álbum ‘La Dôtu Lado’ no Sesc Vila Mariana

- Carlos Bozzo Junior

O duo Coladera lança na noite desta quarta (8), no Sesc Vila Mariana, o disco “La Dôtu Lado” (2018).

O espetáculo terá participaç­ões do percussion­ista Marcos Suzano e da cantora angolana Aline Frazão.

Coladera reúne os talentos do mineiro Vitor Santana (voz, violão, composiçõe­s) com a aptidão do português João Pires (voz, violão, composiçõe­s), que traz na bagagem, além do fado, o flamenco e a música cabo-verdiana.

“O João [Pires] estudou violão em Córdoba e morou em Cabo Verde, onde interioriz­ou a música local, que não é música de tambor. Não tem tambor em Cabo Verde; o suíngue de lá, que é muito forte, vem do violão”, disse Vitor Santana em entrevista à Folha, por telefone, de Belo Horizonte.

Ao lado de Marcos Suzano, Aline Frazão e do baixista Aloízio Horta, o duo promete um som que flana deliciosam­ente por Brasil, Portugal e Cabo Verde, impulsiona­do pela poesia de suas letras e embalado por uma conversa prazerosa entre percussões, violões e vozes.

No show, músicas do primeiro CD, “Coladera” (2013), se entrelaçam com as do segundo. Entre elas, do primeiro disco, “Antropolog­ia da Malandrage­m”, de Vitor Santana, Marcelo Albert e Flávio Henrique, composta na ocasião em que Santana lia “Kitábu - O Livro do Saber e do Espírito Negro-Africanos”, de Nei Lopes. “O livro trata das tradições das nações africanas, e no fim de cada capítulo há provérbios de cada uma delas”, contou o artista que misturou os ditos africanos a máximas brasileira­s criadas por ele e seus parceiros.

Do disco novo, está garantida a homônima ao CD, “La Dôtu Lado”, de Vitor Santana, Dino D’ Santiago e João Pires. Cantada em crioulo cabo-verdiano (língua originária do arquipélag­o de Cabo Verde), a letra mostra certa proximidad­e com a língua portuguesa. “Bu bem di longe pá invadi’m ou xinti nha verdade” (você vem de longe para invadir ou sentir o que tem aqui).

“Tenho uma tradição de compor intuitivam­ente músicas sincopadas em tempos diferentes, e essa é minha leitura da música do Cabo Verde”, contou Santana.

Outra faixa do novo disco, “A Luz de Yayá”, de Santana e do escritor, jornalista e editor angolano José Eduardo Agualusa também está no repertório do show. “Mandei a música para o Agualusa e, no dia seguinte, ele enviou essa letra muito especial, que junta divindades do Brasil e de Angola, as Kiandas, Iaras e Iemanjás.”

Segundo Santana, Agualusa passou uma longa temporada em Moçambique com o escritor e biólogo Mia Couto, escrevendo uma peça. Lá, Agualusa conheceu Yara, apaixonou-se, casou-se e em breve terá um filho com ela, para quem fez a letra. “Tive a sorte de ser abençoado com uma letra muito forte que está nesse universo musical meio coladera [ritmo popular de Cabo Verde], mas que também bebe um pouco do afoxé. Tu- do no fundo é misturado, não tem nada muito puro no nosso trabalho. É uma promiscuid­ade boa”, diz Santana.

Show La Dôtu Lado

Quarta-feira (8), às 20h30, no Sesc Vila Mariana, r. Pelotas, 141, tel. 5080-3000. Ingr.: R$ 7,50 a R$ 25.

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Beth Freitas/Divulgação O português João Pires (à esq.) e o mineiro Vitor Santana, do Coladera

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