Alimentar os filhos é o mais bacana a se fazer no Dia dos Pais
E lá se vão mais de dois anos desde a morte do meu pai. Este será o terceiro Dia dos Pais que passo sem ele —pensar nisso ainda me dá um certo desamparo.
Mas a gente se acostuma com tudo. Aliás, preciso confessar, a data ganhou um significado maior quando eu deixei de ser filho para ser simplesmente o pai da Angela, 23, e do Pedro, 5. Cozinhar para eles me enche de alegria.
Os Dias dos Pais com o velho Nogueira aconteciam, quase sempre, no apartamento da família. Quem cozinhava era a minha mãe. Não que a dona Ana cozinhasse mal, pelo contrário. Fazia uma feijoada de respeito. Um ótimo nhoque com bracholas. Um bacalhau que eu aprendi a apreciar depois de adulto.
A questão é que a velha cozinhava todos os almoços de domingo. Assim, o Dia dos Pais era um pouco mais do mesmo. Nada de muito especial.
Quando a idade avançou, eu e minhas irmãs conseguimos finalmente tirar os velhos da toca no Dia dos Pais. O restaurante favorito para a comemoração era o Tordesilhas, que ainda ficava na rua Bela Cintra e servia um bufê de comida brasileira aos domingos.
Lombo com tutu, moqueca capixaba, barreado, pato no tucupi. O pai desprezava tudo isso e se entupia de bobó de camarão. Isso depois de traçar uma dúzia de pastéis na espera.
A espera, por sinal, é o que avacalha o almoço de Dia dos Pais nos restaurantes. Você nunca consegue juntar toda a família antes das duas da tarde. Sempre encara uma fila de uma hora ou mais, com farto serviço de cerveja, caipirinha e frituras mil. Senta-se à mesa bêbado e sem fome. Quando sai do restaurante, o céu começa a escurecer –e o cérebro já trabalha na antecipação da segunda-feira.
Cozinhar para a família me arrancou do tédio e da melancolia dominical. Descobri que o Dia dos Pais pode ser divertido. Proponho a experiência a todos os pais que me leem aqui.
Objeção possível: “Trabalhar no meu dia?”. Sim, colega, o que pega? Isso pode ser objeto de problematização no Dia das Mães, mas não conheço nenhum pai que seja escravo da pia e do fogão.
Outro obstáculo: “Não sei cozinhar”. Conversa mole. Agite um churrasco. Faça uma macarronada. Vá lá no meu blog: tem mais de uma receita de molho de tomate que até você é capaz de fazer.
Melhor ainda, embrome. Compre uns frangos assados. Se não dá conta de preparar uma farofa e uma salada enquanto requenta o penoso, perdão, você é um inútil.
Você perceberá que alimentar os filhos é a coisa mais bacana que se pode fazer no Dia dos Pais. Até porque os presentes nunca são grande coisa —e muitas vezes vêm do seu próprio dinheiro, um investimento péssimo.
Este ano, passarei o Dia dos Pais num flat em Brasília, cidade onde mora minha filha. Com um cooktop elétrico de uma boca à minha disposição, precisarei capitular à fila do restaurante. Vou comer uns pastéis em homenagem ao velho Nogueira.