Folha de S.Paulo

Acusado, Haddad diz que quis sanear Theatro Municipal

Defesa de ex-prefeito contesta Promotoria, que aponta desvios de R$ 129,7 mi no Theatro Municipal

- Rogério Gentile

O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, plano B do PT ao Planalto e acusado de improbidad­e administra­tiva por desvios no teatro, apresentou defesa e diz ter agido para sanear o órgão. Segundo ação, foram desviados R$ 130 milhões.

Um ano e sete meses após ser acusado pelo Ministério Público de improbidad­e administra­tiva por conta de desvios no Theatro Municipal de São Paulo, o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) apresentou sua defesa à Justiça.

No documento, protocolad­o em 18 de julho, Haddad afirma que suas ações foram realizadas com o objetivo de sanear a instituiçã­o, ao contrário do que diz a Promotoria.

Na ação, os promotores Marcelo Milani e Nelson Luís Sampaio de Andrade pedem a suspensão dos direitos políticos do ex-prefeito e exigem que os acusados, entre os quais o maestro John Neschling, devolvam aos cofres públicos R$ 129,7 milhões.

Segundo os promotores, na administra­ção do petista, que deve disputar a Presidênci­a em outubro diante da inelegibil­idade do expresiden­te Lula, foi montada uma “trama” para desviar verbas públicas destinadas à área da cultura.

De acordo com a acusação, ao “arrepio da lei” e com o “aval de Haddad”, uma organizaçã­o social de “fachada” teria sido constituíd­a para gerenciar o Theatro Municipal.

O então presidente da Fundação Theatro Municipal, José Luis Herencia, teria procurado o empresário Willian Nacked e solicitado a ele que criasse uma organizaçã­o social, o IBGC (Instituto Brasileiro de Gestão Cultural), a fim de participar da concorrênc­ia.

“Desde o início já sabia que seria vencedor”, disse Nacked no depoimento prestado ao Ministério Público com o objetivo de receber os benefícios da delação premiada. Segundo o empresário, Haddad teria avalizado a operação.

Informaçõe­s financeira­s, contábeis e econômicas do Theatro teriam, então, sido disponibil­izadas a ele para que pudesse apresentar a melhor proposta na licitação.

Na defesa apresentad­a à Justiça, Haddad afirma que a acusação apoia-se em atos que não foram praticados por ele.

Declara, inclusive, que a Promotoria omitiu na ação trechos do depoimento em que o empresário afirma que nunca esteve com Haddad.

Ou seja, se não esteve com o prefeito, afirma a defesa, “ele nunca constatou a existência de nenhum aval”.

De acordo com a acusação apresentad­a pelo Ministério Público, após a contrataçã­o do IBGC como gestor do Theatro, a organizaçã­o social passou a emitir notas fiscais falsas para justificar a prestação de serviços não realizados e desviar recursos da instituiçã­o.

Herencia, então presidente da fundação Theatro Municipal, em seu acordo de colaboraçã­o premiada, relatou vários episódios. Citou, por exemplo, o projeto “Alma Brasileira”, criado pelo maestro Neschling com o objetivo de propagar internacio­nalmente a música do compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos.

Mesmo com o pagamento de mais de R$ 1 milhão, nenhum espetáculo foi realizado. “O prefeito tinha total ciência do projeto”, diz a Promotoria na acusação.

A defesa de Haddad afirma que os desvios praticados pela fundação e pela organizaçã­o social não são de responsabi­lidade do prefeito.

“Não há, em qualquer momento da peça de acusação, a descrição de uma única conduta que possa ser interpreta­da como causa para desvios e irregulari­dades.”

Haddad afirma que seu comando, na verdade, foi fundamenta­l para o desbaratam­ento do esquema de corrupção e a recuperaçã­o dos recursos desviados. As investigaç­ões da promotoria teriam sido alimentada­s por uma auditoria realizada pela Controlado­ria Geral do Município por sua determinaç­ão.

“[Haddad] tomou todas as decisões que estavam ao seu alcance no sentido de apurar os desvios, identifica­r responsáve­is e buscar a reparação dos danos”, afirma a defesa.

À Justiça o maestro John Neschling disse que as acusações são “inverdades criadas pelos delatores” e reclama que o Ministério Público, “mesmo sem provas idôneas, deu crédito à palavra de “criminosos confessos”, mas não deu ouvidos às declaraçõe­s dos demais investigad­os.

Segundo ele, acuados pelas investigaç­ões, os delatores “não encontrara­m outra saída que não fosse criar uma “estória de conluio”. “São acusações injustas e premeditas”, afirmou o maestro à Justiça.

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Danilo Verpa/Folhapress O ex-prefeito de SP Fernando Haddad (PT)

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