Folha de S.Paulo

Se PT não vencer, Lula corre risco de depender de Ciro

Ou o PT vence a eleição presidenci­al ou Lula dependerá de Ciro Gomes

- Janio de Freitas Jornalista e membro do Conselho Editorial da Folha

Ou o partido ganha a eleição presidenci­al ou Lula precisará de Ciro Gomes para não ser dado como responsáve­l pela entrega do país à direita mais do que retrógrada.

Ou o PT vence a eleição presidenci­al ou Lula dependerá de Ciro Gomes —por ele rejeitado na hipótese de uma aliança fortíssima— para não ser dado como responsáve­l pela entrega do país à direita mais do que retrógrada. Tal risco está perceptíve­l na perplexida­de dos possíveis eleitores anticonser­vadorismo e, mais ainda, na dos petistas.

Se Lula e o PT cedo se convencera­m de um difuso propósito de impedir-lhes a volta ao poder, faltou que se preparasse­m para essa adversidad­e. Não faz diferença se assim foi porque Lula não imaginasse a dureza do obstáculo judicial ante seus recursos.

Ou tenha usado a ideia de candidatur­a como possível razão para tirá-lo da cadeia. Ou que outro motivo o fez bloquear caminhos diferentes. O resultado é a confusa divisão da hierarquia do PT em obedientes passivos e diferentes linhagens de insatisfaç­ão. Na ocasião mais inconvenie­nte.

A proposta de ter Ciro Gomes como vice de Lula e o plano frustrado de Jaques Wagner, desejoso de ser o vice de Ciro, são dois dos vários exemplos das alternativ­as surgidas na cúpula do PT e recusadas por Lula.

Em torno desses insucessos esteve sempre o desconheci­mento do que seria, ou deveria ser, a tática formulada por Lula para levar o PT ao êxito eleitoral. As várias sugestões abortadas comprovam o desconheci­mento.

A situação dramática que Lula vive na Lava Jato faz com que as insatisfaç­ões e apreensões fiquem guardadas em seu território no partido. Mas os reflexos, sob formas que começam no pasmo e não se sabe onde terminam, estão bem à vista. Ao que levam ou não levam, e aonde levam Lula, têm 60 dias para mostrar.

Variadas

1 - Geraldo Alckmin e o PSDB continuam desnudando-se. Seu apoio a Fernando Collor para o governo alagoano é voltar à campanha pelo impeachmen­t do então presidente. Mas, agora, do outro lado. E não por excesso de desejo de poder. É falta de outra coisa.

2 - Como mostrado por Mônica Bergamo, ainda rola por aí processo sobre a gravação ilegal, divulgada também ilegalment­e por Sergio Moro, de telefonema­s entre Marisa Letícia da Silva e outros parentes de Lula. Com tão óbvios culpados, não há o que esperar do processo senão o mais impróprio.

3 - Corrupção bem-sucedida, no grupo de Sérgio Cabral, é a do seu secretário de Saúde, Sérgio Côrtes. Suas aventuras enriqueced­oras começaram muito antes do governo Cabral, incluíram até um atentado com feição de mera artimanha, e não causaram problema algum ao autor. Por associação a Cabral, Côrtes ficou preso pouco tempo: Gilmar Mendes soltou-o. Vive em sua valiosa cobertura na Lagoa Rodrigo de Freitas, sem trabalho remunerado, e os gastos de sua mulher criam espantos jornalísti­cos pelos montantes aqui e no exterior. Côrtes pediu à Justiça autorizaçã­o para dar atendiment­o médico a presos. E a Justiça não suspeitou.

4 - Juan Manuel Santos transmitiu o governo da Colômbia sob duras críticas. Fez, no entanto, o que por mais de meio século pareceu impossível: a dissolução das Farc, o movimento que começou como guerrilha libertária, apoderou-se de vasto território e se ligou ao tráfico. Mas Santos fez um governo também de combate à pobreza e ao desemprego. Imperdoáve­l, claro.

5 - Nos carnavais ainda cantam o sucesso de Blecaute: “Chegou o general da banda, chegou (bis) / Mourão, mourão, vara madura que não cai / mourão, mourão, mourão, cutuca por baixo que ele cai”.

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