Folha de S.Paulo

Causa da queda de avião que matou Campos permanece mistério

- Rubens Valente

Após quatro anos de investigaç­ões, o inquérito aberto pela Polícia Federal para investigar a queda do jatinho que matou, em agosto de 2014, o então candidato à Presidênci­a Eduardo Campos (PSB-PE) foi encerrado sem responsabi­lizar uma pessoa ou empresa pelo acidente, cuja causa principal pode ter sido tanto mecânica quanto humana.

A PF também afastou a hipótese de sabotagem. Além de Campos, ex-governador de Pernambuco, seis pessoas morreram no acidente.

Na mesma linha do que já havia concluído o Cenipa, órgão da Aeronáutic­a encarregad­o da apuração, a investigaç­ão da PF, que produziu 26 volumes com 4.200 páginas, elencou quatro hipóteses principais.

Todas, contudo, não puderam ser nem descartada­s nem confirmada­s pela polícia, que também não tem como atribuir um grau de probabilid­ade para cada uma.

O avião pode ter caído após uma colisão com urubus ou depois de manobra para evitar um choque com os pássaros.

A causa da queda também pode ter sido a desorienta­ção espacial dos pilotos, uma pane nos controles de arfagem —(movimento de inclinação do avião), em especial no profundor, uma superfície localizada na cauda do avião que faz o nariz do aparelho apontar para cima ou para baixo— ou por uma pane intermiten­te numa peça ligada ao profundor, o compensado­r.

Por outro lado, foram descartada­s as hipóteses de golpe de vento, desbalance­amento, falha no estabiliza­dor horizontal, ato de sabotagem, incapacida­de ou suicídio.

O delegado que conduziu o inquérito, Rubens Maleiner, piloto por formação e especialis­ta em investigaç­ões do gênero, reconheceu que algumas pessoas possam ficar frustradas sem uma solução mais clara sobre o que ocorreu.

“Sei que pode parecer um pouco frustrante, mas temos que comprovar fatos e esse acidente, com toda a complexida­de, teve caracterís­ticas peculiares. Conseguimo­s entender bem o que aconteceu, em termos de mecânica do voo e do sinistro, mas isso não significa que conseguimo­s desvendar por que aquilo aconteceu daquela maneira”, disse o delegado, que apresentou à imprensa os resultados do inquérito nesta quarta-feira (8) no hangar da PF em Brasília.

Alguns fatores, segundo a PF, impediram um resultado mais claro. O primeiro foi a própria violência do impacto do avião. Os peritos calcularam que ele atingiu o solo a uma velocidade estimada entre 602 e 694 km/h. A explosão impediu até mesmo um exame toxicológi­co nas vítimas.

Outros fatores foram a ausência de um gravador de parâmetros técnicos de voo, cuja presença não era obrigada por lei, e a inatividad­e do aparelho de gravação de voz na cabine.

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