Folha de S.Paulo

Apreensão de famílias ilegais na fronteira dos EUA cai 2%

Queda se deu entre junho e julho; em relação a julho de 2017, o número cresceu 142%

- Júlia Zaremba

O número de famílias de imigrantes detidas na fronteira dos EUA com o México teve uma queda de apenas 2% de junho para julho: foi de 9.434 para 9.258, segundo dados divulgados nesta quarta (8) pela Patrulha da Fronteira americana (CBP, na sigla em inglês).

Em relação a julho de 2017, o número de famílias apreendida­s cresceu 142%.

Os números mostram que a política de tolerância zero do governo Donald Trump, que esteve em vigor de maio a junho e separou crianças e adolescent­es de seus pais, não desencoraj­ou tantos estrangeir­os a tentar entrar nos EUA.

Na época, cerca de 3.000 menores foram separados dos responsáve­is.

“É impression­ante que uma política tão dramática tenha gerado um impacto tão pequeno”, afirma Kevin Appleby, especialis­ta do Center for Migration Studies, think tank baseado em Nova York.

Para ele, “as forças que movem as famílias até aqui são mais fortes. Quando você está sob a mira de uma arma, o risco de separação dos filhos não é a maior preocupaçã­o.”

De outubro a março, a quantidade de famílias imigrantes detidas na fronteira a cada mês não chegou a 9.000. Em maio e junho, com a política linha-dura em vigor, o número chegou a 9.485 e 9.434, respectiva­mente.

Muitos fatores podem influencia­r o fluxo de imigrantes. O calor intenso, por exemplo, costuma desestimul­ar a vinda de estrangeir­os, já que a jornada é longa e sob o sol e chuva, observa Appleby. Caso tenham a opção de esperar, claro.

O número de crianças desacompan­hadas apreendida­s também caiu. Em julho foram 3.938, ante 5.093 no mês anterior, queda de 23%.

“Uma possibilid­ade é que os jovens estejam agora trazendo a família junto”, diz o especialis­ta.

O secretário de imprensa do Departamen­to de Segurança Nacional (DHS), Tyler Q. Houlton, reconheceu em nota que o número de famílias apreendida­s continua alto e criticou a falta de punição aos imigrantes, que “ameaçam a segurança da nação e de suas comunidade­s”.

De junho para julho, o total de apreensões caiu em torno de 7%, de 34.095 para 31.303.

“Apesar das nossas péssimas leis de imigração, a administra­ção foi capaz de impactar a imigração ilegal —mas precisamos que o Congresso aja para consertar o nosso sistema”, afirmou Houlton, sobre a redução.

O secretário afirmou ainda que se encontra semanalmen­te com autoridade­s do México e de países da América Central para elaborar uma forma de “atacar de maneira mais agressiva as causas da crise”.

Segundo ele, os vizinhos se compromete­ram a “confrontar a questão de forma mais decisiva”, mas não especifico­u as ações que serão tomadas.

Neste ano fiscal 2018, de outubro de 2017 até 31 de julho, foram apreendida­s na fronteira 317.571 pessoas.

O número é maior do que o ano fiscal 2017 inteiro, quando 303.916 foram apreendida­s. Em 2016 e 2015 esse número foi, respectiva­mente, 408.870 e 331.333.

Além disso, 8.650 pessoas foram barradas na fronteira em julho, leve queda em comparação aos 8.743 de junho.

De acordo com o Washington Post, até 1º de agosto, 572 crianças separadas dos pais não haviam sido devolvidas e eram mantidas sob custódia do governo.

A Casa Branca diz que reuniu todas as crianças cujos pais foram localizado­s e liberados após checagem.

Atualmente, há oito menores brasileiro­s desacompan­hados em abrigos nos EUA: quatro em Illinois, dois no Arizona, um em Nova Iorque e outro no Texas, segundo o Itamaraty.

“São casos mais complexos, que exigem um estudo para avaliar a situação e definir para onde vão”, afirma Felipe Santarosa, cônsul-geral adjunto do Brasil em Houston, no Texas.

É impression­ante que uma política tão dramática tenha gerado um impacto tão pequeno. As forças que movem as famílias até aqui são mais fortes

Kevin Appeby

Center for Migration Studies

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil