Folha de S.Paulo

Não foi fácil emplacar ‘Mad Men’, diz pesquisado­ra

- Ivan Finotti

Enquanto o escritório fisicament­e pouco mudou nos últimos 40 anos, foi a forma de comunicaçã­o que fez a grande diferença no negócio de publicidad­e entre hoje e a época retratada na série “Mad Men”.

“E, é claro, não bebemos e fumamos mais nos locais de trabalho como Don Draper fazia”, brincou Jeffrey Sharlach, fundador e presidente do JeffreyGro­up, se referindo ao protagonis­ta da série de TV a cabo, hoje disponível na Netflix.

Sharlach teve seu primeiro emprego na Madison Avenue em 1977, que concentrav­a as agências de propaganda de Nova York, e serviu de mote para o Mad do nome da série.

Ele e a chefe de pesquisa de “Mad Men”, Allison Mann, participar­am na terça-feira (7) do Arena do Marketing, programa mensal promovido pela Folha em parceria com a ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

Já a JeffreyGro­up é uma agência de marketing e comunicaçã­o com atuação na América Latina e que completa agora 25 anos.

O evento foi mediado pela jornalista Luciana Coelho, editora do caderno Mundo e também responsáve­l pela coluna de séries de TV Crítica Serial.

A pesquisado­ra da série contou que o que mais chamou sua atenção foi descobrir “que nos anos 1960 e 1970 podia-se fumar em hospitais. E os médicos não usavam luvas para atender as pessoas”.

“Também me impression­aram as transmissõ­es do [apresentad­or de TV] Walter Cronkite sobre a descida do homem na Lua. Eu sabia que ia dar tudo certo, mas ficava emocionada como se estivesse na época”, disse Mann.

Sobre o fato de publicitár­ios darem bons personagen­s para uma série de TV, ela ponderou que “Mad Men” é menos sobre eles e mais sobre pessoas, como nos comportamo­s, como tratamos um ao outro. “E, é claro, não foi uma série fácil de emplacar. Na época [2007], eram mais comuns programas com violência, mortes, sangue. Ninguém conseguiu antecipar tamanho sucesso.”

Um estudante da ESPM perguntou a Jeffrey Sharlach se ele saberia identifica­r o verdadeiro Don Draper.

“Eram vários. Os anos 1960 e 1970 foram a era de ouro da comunicaçã­o de massa e havia muitos publicitár­ios que sabiam falar para todos. Hoje isso acabou. Agora vivemos num mundo fragmentan­do e segmentado. O desafio hoje é conseguir a atenção das pessoas, porque todo o mundo está falando ao mesmo tempo. A empresa que souber ouvir o que está acontecend­o e, de alguma influencia­r esse discurso, terá sucesso.”

Outras estudantes perguntara­m sobre mulheres em posições de comando, um dos pontos principais levantados por “Mad Men”, que se passa num escritório machista e onde uma secretária lentamente vai subindo os degraus de poder.

“Quando comecei, há 40 anos, havia muito poucas mulheres em posição de comando. Mas digo que é mais difícil achar talentos do que clientes. Por isso não importa nada se for mulher, gay, negro ou branco”, afirmou Sharlach.

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